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Reportagem

Eleitores brasileiros em Madri enfrentaram mais filas para comprar coxinha e guaraná do que para votar

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Antes mesmo que o relógio marcasse as 8 da manhã no horário da Espanha, em frente à Casa do Brasil, local de votação de brasileiros em Madri, dezenas de eleitores já se encontravam esperando a abertura dos portões. Mas as filas andaram rápido e apenas aqueles que queriam matar as saudades de especialidades da cozinha brasileira tiveram que esperar mais tempo.

Muita gente chegou cedo para votar na Casa do Brasil, em Madri, mas as filas andaram rápido.
Muita gente chegou cedo para votar na Casa do Brasil, em Madri, mas as filas andaram rápido. © Ana Beatriz Farias /RFI
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Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

No comecinho da fila, estava a auxiliar de limpeza Geraldina Maidana, que vive na capital espanhola há 19 anos. Já habituada a despertar bem cedo, ela fez o mesmo neste domingo para cumprir seu papel nestas eleições. “Eu tenho que exercer meu direito de cidadã brasileira, o direito de votar. Por isso estou aqui de madrugada”, disse.

Como aconteceu na capital espanhola durante o primeiro turno, houve manifestações por parte de apoiadores dos dois principais candidatos da disputa eleitoral de 2022. Vermelho, por um lado, e verde e amarelo, por outro, eram as cores que passavam o recado mais direto possível.

Vestindo uma camisa com o rosto de Luiz Inácio Lula da Silva estampado, Márcio Santana votou pela mudança. “É o momento de o Brasil recuperar a alegria, tirar essa nuvem cinza que eu acho que está pairando em cima do Brasil há muito tempo. É uma alegria para mim ter transferido o título e poder exercer meu voto aqui na Espanha há três eleições”, pontua o técnico de seguros.

“É momento para que o povo brasileiro volte a sorrir com tranquilidade, buscando realmente que o político faça o que tem que ser feito em relação à violência, em relação à equiparação da vida social, que está muito descompensada. E eu acho que Lula vai ser o candidato que vai conseguir trazer de volta a alegria e, inclusive, o samba pro pé do brasileiro de novo”, arremata Márcio.

Se, por um lado, tem gente expressando desejo de transformação em relação ao atual cenário presidencial, há também aqueles que fazem questão de afirmar que torcem pela permanência do atual ocupante do cargo de presidente. É o caso do biólogo Daniel Devesa, que vem de longe, encarando 5 horas para chegar a Madri e outras 4 para voltar à casa. Ele foi o primeiro a entrar no local de votação da capital espanhola neste domingo.

“Hoje, e no primeiro turno também, eu fui o primeiro. Inicialmente foi uma conveniência, porque eu venho de Astúrias e é o horário do ônibus. Eu venho de ônibus e volto de trem. E, independentemente disso, eu voto para que o país permaneça bem, como está nos últimos quatro anos. Eu voto no Bolsonaro”, declara.

A viagem que tem que fazer para votar, de acordo com Daniel, vale a pena. “Todo mundo tem que se esforçar e fazer como pode. Eu vivo aqui na Espanha, mas não é por isso que eu abandonei o Brasil”.

"Votar é como uma final da Copa do Mundo"

No vai e vem de brasileiros que estiveram na Casa do Brasil, em Madri, neste domingo, ganhou destaque a presença do jogador de futebol Roberto Carlos. Entre os cumprimentos de eleitores que esbarravam surpresos com o esportista, ele concedeu entrevista à RFI Brasil e falou sobre a importância de participar do marco democrático.

“Eu moro fora do Brasil há muitos anos, mas minha família, meus pais, minhas irmãs, moram no Brasil. Então a gente acompanha muito o que acontece no nosso país todos os dias. Estar aqui, pra gente, é uma obrigação, uma responsabilidade grande. É como jogar uma final de Copa do Mundo”, comparou.

O jogador Roberto Carlos
O jogador Roberto Carlos © Captura de tela

Roberto Carlos expressou seu desejo para os próximos anos afirmando que o Brasil é uma referência, não só no futebol, mas também, por exemplo, em relação ao turismo. “Há pessoas que amam o Brasil: São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte… Enfim, é um momento importante nas nossas vidas, de votar bem, votar certo, para que, nos próximos quatro anos, o Brasil siga crescendo cada vez mais”.

Comida brasileira

Além dos encontros que acontecem entre famosos e anônimos durante a grande reunião da comunidade brasileira que mora na Espanha, o que também chama a atenção de quem vem votar em Madri é o lanche vendido dentro e fora da Casa do Brasil. Na manhã de domingo, quase todas as filas andavam rápido e eram relativamente pequenas. A exceção era justamente a fila que foi feita para comprar coxinha, pão de queijo e guaraná.

Viviane da Silva mora em Palência e veio a Madri só para votar. O exercício da democracia foi cumprido em poucos minutos, mas a permanência no local de votação acabou durando mais por conta da comida. “A minha seção foi super rápida, foi só chegar e votar, não tinha fila. A fila da coxinha está maior que a fila de qualquer seção. Faz muito tempo que eu não como uma coxinha, então eu estou achando que vale a pena”, comenta, aos risos, a agrônoma.

Quem compartilha esta opinião é Victor Muraro, que também viajou para votar. O estudante, que vive em Linares, encarou uns bons minutos de fila. “Uma das coisas mais brasileiras que poderia ter aqui perto é a coxinha. Todo mundo merece uma coxinha. Todo brasileiro, depois de um tempo, merece sua coxinha pra comer”, opina.

Cenário espanhol

Na Espanha, além de Madri, também há votação em Barcelona. Em ambas, o candidato do PT saiu vitorioso no primeiro turno. Ao todo, mais de 30 mil pessoas estão aptas a votar no país. Na capital, a participação dos brasileiros foi maior que a esperada no primeiro turno.

“De fato, eu vi muito entusiasmo com as eleições”, comenta a cônsul-geral do Brasil em Madri, Gisela Padovan. “A participação foi bem acima do esperado. É muito importante que os brasileiros votem. A gente esperava 5 mil eleitores e vieram 6 mil. Na verdade, foi um aumento de 50% em relação a 2018. O aumento esperado e o que veio a mais”, explica.

“Foi muito bom ver que os brasileiros estão tão interessados nas eleições, mas também tivemos umas filas no primeiro turno. Agora a gente organizou melhor e espera que não haja filas, apesar de que eu acho que vem mais gente ainda no segundo turno”, explicou Gisela Padovan.

A cônsul-geral do Brasil em Madri espera que essa votação seja tão tranquila quanto no primeiro turno, quando não houve nenhuma confusão registrada dentro da Casa do Brasil.

Um ou outro conflito, acontecido do lado de fora, teria sido resolvido de forma rápida em 2 de outubro, como comenta Renata Barbalho, CEO de uma empresa voltada para o público brasileiro que mora na Espanha.

“Eu fiquei surpresa, achei bem tranquila [a votação no primeiro turno]. Teve só um momento em que houve um pouco de tensão, mas imediatamente a organização chamou a polícia espanhola, que chegou em dois minutinhos e resolveu a questão. Este foi o único incidente que aconteceu na parte de fora durante todo o dia”, conta.

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