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Reportagem

Número de eleitores brasileiros em Paris dobra em relação à eleição de 2018

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O Consulado-Geral do Brasil em Paris teve de alugar um novo espaço para a realização dos dois turnos da eleição presidencial brasileira. O motivo é que o número de eleitores inscritos mais que dobrou em relação à última votação. "Passamos de 11.047 eleitores inscritos em 2018 para 22.629 em 2022, um aumento de mais de 100%", comemora o cônsul-geral do Brasil em Paris, Fábio Marzano. Ele atribui esse crescimento a um maior interesse do eleitor em participar do processo democrático.

Os brasileiros Ana Moura, Nico Silva e Kele Ransom farão longos trajetos para virem votar em Paris no dia 2 de outubro. Todos vão se hospedar na casa de amigos e fazem questão de estar presentes nesta eleição.
Os brasileiros Ana Moura, Nico Silva e Kele Ransom farão longos trajetos para virem votar em Paris no dia 2 de outubro. Todos vão se hospedar na casa de amigos e fazem questão de estar presentes nesta eleição. © Fotomontagem com arquivo Pessoal
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Por Paloma Varón, da RFI

"Com este aumento significativo do número de eleitores cadastrados, tivemos que mudar o local de votação. Neste ano, a eleição vai ser no Espace La Rochefoucauld, no 9º distrito de Paris", continua o cônsul-geral, frisando a importância de que os eleitores baixem o aplicativo do E-título e também levem um documento com fotografia.

"Como a maioria dos eleitores no exterior não cadastrou a biometria, vai ser preciso levar também um documento com foto. Pode ser o RG, o passaporte, mesmo vencido, a carteira de motorista... mas vai precisar de uma identificação do eleitor", disse o responsável pela votação em Paris, o cônsul-geral adjunto Sérgio Ricoy Pena, acrescentando que, em último caso, até um documento francês pode ser aceito.

O cônsul-geral do Brasil em Paris, Fábio Marzano, frisa a importância de se baixar o aplicativo E-título antes do dia 2 de outubro e de levar um documento com foto para permitir a identificação do eleitor que não tem a biometria cadastrada.
O cônsul-geral do Brasil em Paris, Fábio Marzano, frisa a importância de se baixar o aplicativo E-título antes do dia 2 de outubro e de levar um documento com foto para permitir a identificação do eleitor que não tem a biometria cadastrada. © Consulado-Geral do Brasil em Paris/ Divulgação

Eleitor deve baixar E-título antes do dia 2 e levar documento com foto

Segundo as autoridades consulares, o mais importante é que os eleitores baixem o E-título antes de 2 de outubro. O aplicativo também serve para justificar a ausência no dia da eleição, num prazo de até 60 dias após cada turno. "O ideal é baixar o mais rápido possível, pois no dia da eleição ele não estará disponível", avisa Ricoy Pena. "Uma opção para quem não conseguir baixar o aplicativo é olhar a seção de votação no site do TSE", completa. 

Para acessar os dados, basta fazer uma busca por "nome e local de votação TSE" ou "certidão de quitação eleitoral". Os dados serão visualizados assim que o eleitor completar os campos com seu nome completo, a data de nascimento e o nome da mãe. Essa busca também é válida para eleitores que tenham transferido o título para Paris recentemente ou que tenham solicitado o documento pela primeira vez.

Além do novo endereço, que é importante ser lembrado – 11 rue Catherine de la Rochefoucauld, 75009, Paris –, o cônsul-geral chama a atenção para o horário que deve ser respeitado: das 8h às 17h locais. "Somente quem já estiver dentro do espaço, na fila da sua seção eleitoral e em posse de uma senha, poderá votar um pouco depois das 17h", acrescenta Marzano. As pessoas que às 17h estiverem na fila na rua não poderão votar.

E-Título
E-Título © RFI

Eleitores vêm de toda a França

Como nos anos anteriores, Paris é o único local de votação em toda a França, o que obrigará muitos eleitores a percorrerem centenas de quilômetros e contarem com o que chamam de "hospedagem solidária".

É o caso da cozinheira Kele Ransom, que mora em Pau, nos Pirineus, a 792 km de Paris. "Essas eleições vão ser uma aventura, eu vou para uma cidade vizinha, que se chama Lourdes, e de lá vou pegar um trem noturno para chegar no dia seguinte a Paris. Chegando em Paris, eu vou ficar na casa de uma amiga, para não gastar mais do que já vou gastar com toda esta viagem. Serão mais de 15 horas de viagem", conta. 

"Para mim, essas eleições são muito importantes, é uma emoção muito grande fazer todo este trajeto para votar, porque a gente precisa mudar a situação do país. Voltar ao Brasil me entristece, por ver a dificuldade que as pessoas estão passando. O meu voto não é secreto: eu vou fazer este trajeto todo com a toalha do meu candidato nas costas, porque vou tentar, com todas as minhas forças, tirar o atual presidente do poder", afirma. 

Brasileiras organizam hospedagem solidária

O grupo Brasileiras de Paris, no Facebook, é um dos que organiza as ofertas e demandas de hospedagem solidária. Foi assim que a professora de francês brasiliense, Isabella Vanini, que mora em Cahors (no sul), a 560 km da capital, conseguiu a sua.

"O grupo organizou um esquema de oferta e procura de hospedagem especial para as eleições. A gente conseguiu fazer isso para que todas as mulheres do grupo possam votar neste momento tão importante", relata. Desde janeiro, ela previu suas folgas no próximo fim de semana e comprou as passagens há alguns meses.

"É a segunda vez que eu vou votar na vida, porque em Brasília a gente não tem eleições municipais. Eu preciso participar deste momento democrático", completa Isabella, que tem 25 anos. 

Kele Ransom vem de Pau a Paris com a toalha de seu candidato nas costas.
Kele Ransom vem de Pau a Paris com a toalha de seu candidato nas costas. © Arquivo pessoal

"Momento crítico para a democracia brasileira"

As pernambucanas Wedja Martins e sua companheira Clara Brainer vêm de Orléans (centro), a 132 km da capital francesa, para votar em 2 de outubro. Elas deixaram o Brasil em setembro de 2018, "por conta do impacto do bolsonarismo" em suas vidas. "Precisamos votar contra a violência, a intolerância, o facismo e o retrocesso para que a gente volte a viver em paz no nosso país", afirma Wedja. 

A psicóloga Luana Meyer, que mora em Bordeaux (sudoeste), a 578 km de Paris, vem de trem. "Votar é muito importante para mim, porque mesmo se eu não moro mais no Brasil, quero exercer meu direito de cidadã, principalmente neste momento tão crítico", diz ela, que também vai utilizar hospedagem solidária. 

O realizador audiovisual Nico Silva, de 24 anos, vem de Marselha (sul), e também vai percorrer cerca de 800 quilômetros para votar. "Eu vou fazer a viagem de trem, que é o meio de transporte mais simples. Acho que muitos, como eu, estão com muita vontade de votar nestas eleições. Não é tão fácil ir a Paris, não é todo mundo que tem condições de ir votar, porque custa caro, é preciso comprar bilhetes de ida e volta, e no fim de semana os valores são ainda maiores", diz ele, que vai se hospedar na casa de amigos na capital francesa. 

Nico Silva vem de Marselha, no sul da França, apesar de as passagens serem mais caras nos fins de semana.
Nico Silva vem de Marselha, no sul da França, apesar de as passagens serem mais caras nos fins de semana. © Arquivo pessoal

Primeiro voto depois de 19 anos na França

A professora carioca Patricia Enderlé mora em Saint-Martin-de-Crau, a 611 km de Paris. Ela vem de trem e vai dividir uma hospedagem com mais seis pessoas. "Vai ser corrido, vai custar energia, vai custar dinheiro, mas não tem como ser diferente. Em 19 anos que moro na França é a primeira vez que voto aqui; desta vez fiz questão de transferir meu título", conta ela, acrescentando que "não podia deixar de dar a minha contribuição para fechar esse ciclo vergonhoso". 

A jurista paulista Natasha D. está há três anos na França e também vai votar pela primeira vez em Paris. Ela vem de Montpellier, a 748 km da capital. "Vou passar o fim de semana na estrada. As passagens estão caras pra dedéu, mas, como eu digo para mim mesma, é o preço da democracia". Ela também conseguiu sua hospedagem no grupo de mulheres brasileiras no Facebook. "É um esquema ideológico que me cai bem, porque, sinceramente, eu também não gostaria de ser acolhida por uma pessoa que vota em outro candidato", explica. 

Apesar do alto preço das passagens no final de semana, a chef de cozinha Ana Moura, que mora em Lannion (noroeste), na Bretanha, também está disposta a fazer este esforço. Nascida em Cuiabá e descendente do povo indígena Bororo, no Mato Grosso, Ana disse que vai votar de cocar para homenagear os seus antepassados.

"Vou de ônibus, foi a forma mais barata que encontrei. Vou me hospedar na casa de um amigo francês que luta pelas mesmas causas que eu. Ele me ofereceu seu apartamento gratuitamente pelo fim de semana e vou com outras duas pessoas. Votar para mim é muito importante, porque é a única forma de defender o meu país e o meu povo. E desta vez precisamos recuperar a nossa bandeira", diz Ana, que mora a 552 km de Paris e vota em todas as eleições desde que chegou à França, em 2008. 

Ana Moura vai votar de cocar para honrar suas raízes indígenas.
Ana Moura vai votar de cocar para honrar suas raízes indígenas. © Arquivo pessoal

São 29 urnas e 58 seções eleitorais em Paris

As urnas eletrônicas já chegaram à capital francesa, enviadas de Brasília, via mala diplomática, disseram as autoridades consulares. "São 29 urnas já inseminadas, isto é, elas contêm os nomes de todos os eleitores aptos a votar nelas", explica Fábio Marzano. 

Sérgio Ricoy acrescenta que cada uma das urnas servirá para eleitores de duas seções. "Como são menos votantes no exterior, usamos a mesma urna para duas diferentes seções eleitorais. Cada urna pode receber 800 votos, ou seja, 400 de cada seção", sublinha, relembrando a importância de conhecer a seção antes de 2 de outubro. Cada seção contará também com um caderno de assinaturas, com a lista completa de eleitores aptos a votar. 

"Quando os eleitores que moram na França chegarem ao Espace La Rochefoucauld, verão um painel indicando os números das salas por seção, como acontece no Brasil. Assim já podem se dirigir para as salas correspondentes", acrescenta Ricoy. 

O cônsul-geral Fábio Marzano diz que a abstenção na França costuma ficar em torno de 50%, mas ela deve ser um pouco menor neste pleito. "Em 2018, apenas 45% dos inscritos compareceram, mas neste ano esperamos um comparecimento maior", afirma. 

Marzano e Ricoy recordam que o voto é obrigatório no Brasil. Para justificar a ausência no dia 2 ou em 30 de outubro, data prevista para o segundo turno, o eleitor pode fazê-lo pelo aplicativo E-título num prazo de 60 dias após cada turno. 

Para os eleitores que temem enfrentamentos entre grupos divergentes, o cônsul-geral explica como funcionará o esquema de segurança. "O que acontece da porta do espaço de votação para fora é de competência da polícia francesa, que já está avisada que vamos ter eleições no local. O que acontece da porta para dentro é de nossa competência: teremos agentes de segurança privada e o nosso pessoal do consulado", afirma Marzano, que acredita no bom senso do eleitor brasileiro na França. 

Serviço:

Eleição presidencial: 2 de outubro (1° turno) e 30 de outubro (2° turno)

Horário: 8h às 17h

Local de votação: Espace La Rochefoucauld

Endereço:11, rue Catherine de la Rochefoucauld, 75009, Paris

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