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Rendez-vous cultural

Orquestra brasileira formada por alunos de projeto social encanta Filarmônica de Paris

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O público francês teve a oportunidade de prestigiar essa semana um concerto que reuniu a excelência e experiência da pianista Maria João Pires e do maestro Ricardo Castro ao talento de jovens músicos formados em um projeto social idealizado na Bahia. 

Maria João Pires e Ricardo Castro em ensaio antes da apresentação na Filarmônica de Paris
Maria João Pires e Ricardo Castro em ensaio antes da apresentação na Filarmônica de Paris © Tatiana Ávila/RFI
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A orquestra Neojiba emocionou a plateia na Filarmônica de Paris ao misturar música clássica a ritmos da capoeira. Os Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba) surgiram em 2007 por iniciativa do músico e diretor Ricardo Castro, que conheceu o programa na Venezuela e que, com o apoio do governo estadual, implementou uma versão no Brasil. 

“Nesse momento nós estamos cuidando diretamente de cerca de 2.400 crianças, jovens e adolescentes e indiretamente em torno de seis mil no estado da Bahia. Nos últimos 15 anos, isso representa mais de 15 mil famílias impactadas”, explicou Castro. 

Unindo talentos de diferentes gerações 

A pianista portuguesa Maria João Pires é uma referência na música internacional. Ela, que viveu no Brasil e vem atuando em parceria com Castro ao longo dos anos, fala sobre a importância desse projeto para os jovens músicos.   

Orquestra Neojiba em apresentação na Filarmônica de Paris
Orquestra Neojiba em apresentação na Filarmônica de Paris © Tatiana Ávila

“Quando somos jovens, aprendemos que devemos sempre procurar melhorar para poder tocar com as grandes orquestras, nas grandes salas de concertos e com os grandes chefes de orquestras. E quando vivenciamos um projeto como esse, de pessoas muito jovens, com pouca experiência e um tempo curto de atuação, nós aprendemos que a música não é só trabalho, construção, fama e carreira. É também algo espontâneo, que acontece quando há entusiasmo, uma aproximação muito verdadeira da música e da arte. Então, esses meninos são realmente especiais, na medida em que eles chegam - falando de forma simbólica - em alguns segundos onde outros chegam em uma vida inteira. É muito estimulante. E o entusiasmo com o que eles acompanham o solista, com que eles se entregam, com que conseguem aquele som especial, aquela atenção, tudo isso é maravilhoso”, conta. 

Música e arte para mudar vidas 

Durante o ensaio que precedeu a apresentação, o maestro e diretor Ricardo Castro falou sobre sua própria experiência de vida e sobre se apresentar em grandes salas de concerto pelo mundo. Algo que é ainda novo para muitos dos talentos do Neojiba, um trabalho que vai além da música.  

“Um programa como esse permite que esses jovens tenham contato com uma série de elementos que estão distantes da vida deles. O primeiro é a beleza, a excelência, o companheirismo, a capacidade de viver em um ambiente de paz, apesar das diversidades. É um programa essencialmente de integração social e a gente vê resultados extraordinários. Isso é bem fora da realidade da maioria da juventude brasileira”, destaca Castro.  

“Eu e Ricardo Castro trabalhamos muito juntos, tocamos juntos e fizemos nosso trabalho pedagógico pensando em soluções. É algo que foi feito em paralelo e em conjunto. A música e a arte podem mudar a vida. A arte é a vida, o problema é que a gente se afasta e acabamos vivendo de forma um pouco artificial", aponta Maria João Pires. "Para uma criança se desenvolver bem e para fazer escolhas na vida, se desenvolver de forma sensível, como ser humano profundo, é preciso um contato direto e verdadeiro com arte. Todos nós nascemos, antes de qualquer coisa, artistas. A criatividade é muito abafada pela sociedade e pela educação. Então, educação com arte e pela arte é realmente algo precioso para qualquer um de nós”, completa. 

A pianista Maria João Pires
A pianista Maria João Pires © Tatiana Ávila

Bicentenário da Independência 

Castro explica que o repertório foi pensado como forma de comemorar os 200 anos da Independência do Brasil, bem como no sentido de valorizar as qualidades da orquestra e dos músicos. Segundo ele, essa é a primeira vez que o berimbau sobe ao palco como instrumento solista. 

“A presença do berimbau no palco é muito representativa de algo que a gente acredita, que é a integração de diversas culturas. A obra foi feita para a ocasião e, além disso, temos dois grandes compositores brasileiros históricos, que são Antônio Carlos Gomes e Villa Lobos. Junto a eles, um compositor universal que é o Beethoven, que é um dos compositores de excelência da pianista, nossa companheira de turnê, Maria João Pires”, disse. 

O maestro e diretor do Neojiba, Ricardo Castro.
O maestro e diretor do Neojiba, Ricardo Castro. © Tatiana Ávila

Esta é a oitava turnê internacional do Neojiba, sendo sete na Europa e uma nos Estados Unidos. E desta vez, não foi diferente: o público aplaudiu de pé.  

“Desde o início, essa turnê tem realizado feitos inéditos para história da música de concerto do Brasil. A primeira orquestra brasileira a fazer uma turnê na Europa foi a nossa. A orquestra que faz a maior turnê do Bicentenário este ano é também a nossa. Com certeza, junto à Osesp, é a única orquestra brasileira que toca em grandes salas do mundo. Então isso é a prova de que tem funcionado, já que recebemos sempre convites para voltar. Um dos princípios do nosso programa é abrir portas para nossa juventude, algo que nós estamos fazendo com bastante sucesso”, finaliza o maestro e diretor.  

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