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Rendez-vous cultural

Exposição “Floresta Mágica”, em Lille, propõe reflexão sobre crise ambiental através da arte

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Quem não guarda na memória uma referência à floresta, seja ela mágica, relaxante ou assustadora? O imaginário humano, a pintura, a escultura e o cinema estão cheios de alusões à nossa relação com as árvores. Esse é o ponto central da exposição “La Forêt Magique” (A Floresta Mágica), uma das mostras de arte contemporânea que acontecem em Lille, no norte da França, durante o festival Utopia. A RFI visitou o evento que se espalha por toda a cidade, para chamar a atenção para a crise climática.

Intitulada “Pleasent Places”, a videoarte em 360 graus assinada pelo artista Quayola é uma estrutura circular de 170 m². Grandes telas curvas exibem imagens de florestas.
Intitulada “Pleasent Places”, a videoarte em 360 graus assinada pelo artista Quayola é uma estrutura circular de 170 m². Grandes telas curvas exibem imagens de florestas. © RFI Maria Paula Carvalho
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Maria Paula Carvalho, enviada especial a Lille

Até o mês de outubro, quem for ao Palácio de Belas Artes de Lille vai se deparar com uma estrutura circular de 170m², no saguão principal do edifício que guarda coleções importantes, como telas do pintor holandês Rubens. Ao entrar na instalação, o visitante encontra grandes telas curvas, em que são exibidas imagens de paisagens. É possível ver o movimento das folhas, ouvir o som do vento e imaginar a sensação do ar passando entre os galhos das várias espécies.

Intitulada “Pleasent Places”, a videoarte em 360° assinada pelo artista italiano Quayola mostra o que teria visto o pintor Vincent Van Gogh (1853-1890), ao retratar a natureza. As árvores tomam uma forma viva, abstrata e quase fantasmagórica nesta grande instalação que “evoca o lugar da floresta no nosso imaginário”, de acordo com Bruno Girveau, diretor do Palais de Beaux-Arts de Lille e um dos curadores.

A obra é cercada de textos sobre o projeto do botânico francês Francis Hallé, autor de um manifesto “Por uma floresta primária na Europa do Oeste” (2021, éd. Actes Sud). Em 2018, ele criou uma associação com o seu nome para despertar o interesse das pessoas para o reflorestamento.

“Não é algo complicado. É só não fazer nada. Parece bobo, mas o mais difícil para nós é não interferir”, disse em entrevista à RFI Brasil. “O ser humano se autoproclamou responsável do universo. Somos nós que sabemos e a floresta não sabe nada. Somos nós que temos que melhorar a sua performance. Isso não dará certo!”, exclama.

“Antes de o homem estar aqui, o continente europeu era inteiramente coberto de florestas primárias. Mas elas foram destruídas”, destaca. “Eu não digo de forma selvagem, pois me coloco no lugar de nossos ancestrais que precisavam de madeira e de terras agrícolas e por isso desmataram. Nós teríamos feito a mesma coisa. Mas somente agora nos damos conta de que eles deveriam ter preservado um pouco, e não o fizeram”, lamenta.

“Há florestas no planeta desde o período Devoniano, há mais 500 milhões de anos elas viviam bem e nós não estávamos lá. Desde que o ser humano se interessou pela floresta, ela não parou de diminuir. Veja o que acontece na Amazônia brasileira, mas não só, também na Austrália, na Polônia. Não! O ser humano não é responsável pela floresta. Quanto menos ele se meter, melhor ela vai se comportar”, acredita Hallé.

Exposição imersiva e sensorial

Mas como os diferentes artistas representaram a floresta ao longo do tempo? Este é o propósito da exposição Floresta Mágica, que reúne cerca de 50 obras numa organização imersiva e sensorial. Percorrer suas salas é como viajar através do tempo e de outros mundos: Um Raio de Sol (1848), um óleo sobre tela do pintor francês Célestin Nanteuil, aparece ao lado de trechos do filme Avatar (2009), de James Cameron. A videoinstalação Albion, de Mat Collishaw (2017), é uma representação em laser de um carvalho centenário da Floresta de Sherwood, onde, segundo a lenda, viveu Robin Hood.

Cécile Beau e Anna Prugne apresentam a obra “La Siouva”, formada por uma raiz aérea que se eleva do solo, desestabilizando a ideia de separação entre os mundos vegetal e animal.

São pinturas, instalações monumentais, peças decorativas e trechos de filmes que ilustram o tema da floresta em diferentes aspectos: a árvore sagrada, as árvores que têm características próprias e se comunicam entre si, às vezes misteriosas e encantadas. Acima de tudo, a mostra evidencia os riscos de que elas desapareçam da face da Terra.  

“Através de diferentes momentos históricos, é possível aumentar a sensibilidade para a questão climática e a preservação da floresta, sabendo que ela nos oferece a vida e nos dá oxigênio”, destaca Regis Cotantin, responsável de arte contemporânea no Palácio de Belas Artes de Lille. “Todos os artistas presentes, pintores e escultores, antigos, modernos e contemporâneos mostram que ela tem uma linguagem e temos que considerá-la como um ser vivo, com o qual temos de ter uma relação de respeito”, afirma.

“Combinar a arte antiga com a arte contemporânea é uma maneira de ver que o homem, às vezes, é um espelho das árvores. Existe essa ideia da verticalidade, de crescer, mas também da árvore que busca o fundo com suas raízes e depois se levanta, como a ideia de se elevar espiritualmente. E a longevidade, a autonomia, entramos em relação com ela como seres vivos”, finaliza.

A obra “La Siouva”, de Cécile Beau e Anna Prugne é formada por uma raiz aérea que se eleva do solo.
A obra “La Siouva”, de Cécile Beau e Anna Prugne é formada por uma raiz aérea que se eleva do solo. © RFI Maria Paula Carvalho

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