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Brasil-Mundo

Exposição "Histórias Afro-Atlânticas" retrata olhares cruzados sobre tráfico de escravos

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Por séculos, artistas têm contado e revelado a complexa história da diáspora africana. Com uma exposição do trabalho de mais de 130 nomes de cerca de 20 países, a National Gallery of Art, em Washington, conta em uma colaboração com o Museu de Arte de São Paulo (Masp) o tráfico transatlântico de escravos e a rica cultura dessa diáspora. As obras são de artistas desde o século 17 até contemporâneos.

Mercado Baiano, 1956 Djanira da Motta e Silva
Mercado Baiano, 1956 Djanira da Motta e Silva © Coleção Particular, Salvador, Bahia
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

A exposição “Histórias Afro-Atlânticas” foi primeiro apresentada pelo Masp em 2018 e, agora, pode ser vista de 10 de abril a 17 de julho por turistas do mundo todo que visitam a capital americana.

As obras são expostas conforme o tema, permitindo ao público observar os paralelos e as diferenças entre as visões de artistas de várias eras e nacionalidades. Steven Nelson, curador da exposição e reitor do Centro de Estudo Avançado em Artes Visuais da National Gallery, diz que, ao colaborar com o Masp, foi possível que a instituição americana investigasse as semelhanças e as diferenças entre as histórias dos negros em diferentes partes do Brasil, América do Norte, América Latina, Caribe e África.

Da esquerda para direita: Ntohzake II (Parktown), 2016/ Conversa, 1951 Barrington Watson/ e  Dom Miguel de Castro, Emissário do Congo, c. 1643 Autor desconhecido.
Da esquerda para direita: Ntohzake II (Parktown), 2016/ Conversa, 1951 Barrington Watson/ e Dom Miguel de Castro, Emissário do Congo, c. 1643 Autor desconhecido. © Zanele Muholi/ Acervo de Barrington Watson/SMK, Galeria Nacional da Dinamarca

“Ao reunir essas obras, vemos onde há semelhanças, onde há coisas específicas de cada país, nos permitindo entender todas essas histórias. Uma enorme semelhança é a história da escravatura. Todos esses lugares foram tocados pela escravatura, violência e trauma", diz Nelson. 

"Muitos artistas contemporâneos examinam essas histórias parecidas e as adaptam às suas próprias circunstâncias. Então, no Brasil isso pode tomar uma forma, em Cuba, outra, enquanto que no sul e no oeste da África, toma ainda outra forma”, afirma. 

Há imagens míticas, realistas, fictícias e factuais, todas criando um diálogo transnacional e entre gerações sobre a escravatura. A exposição resiste à ideia de uma história definitiva da diáspora, apresentando testemunhos diversos do passado que desafiam narrativas já estabelecidas e fomentam questionamento e novas conexões, ao mesmo tempo em que mostram como todas essas histórias estão interconectadas.

Enquanto algumas obras de artistas europeus e brancos mostram imagens idílicas de harmonia entre os escravos e a natureza –  e até mesmo seus proprietários – , as obras dos artistas negros modernos expõem trauma, violência e resistência. Algumas também apontam para a direta ligação entre desenvolvimento econômico e o trabalho escravo.

Kerry James Marshall
Kerry James Marshall © Kerry James Marshall

A exposição é dividida em seis áreas temáticas que contam as diversas histórias da diáspora apresentando pontos de vista que foram marginalizados ou esquecidos: Mapas e Margens, Escravos e Emancipações, Dia a Dia, Ritos e Ritmos, Resistência e Ativismo, além de Retratos. Um dos raros retratos é o de Dom Miguel de Castro, emissário do Congo, de 1643, durante uma viagem ao Brasil.

“As galerias tradicionais de retratos exibem imagens de governantes, líderes religiosos e membros da elite, quase sempre pessoas brancas, geralmente homens brancos. Retratos históricos de negros são raros, e os retratos de negros apresentados como indivíduos, em vez de tipos, inversamente tentam estabelecer e reforçar a discriminação de raça, gênero e classe”, salienta o curador.

Tráfico de Escravos, 1791
John Raphael Smith/George Morland/Paul Mellon Fund
Tráfico de Escravos, 1791 John Raphael Smith/George Morland/Paul Mellon Fund © National Gallery of Art

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