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Rendez-vous cultural

Pintora brasileira expõe em Paris diário visual feito durante tratamento contra o câncer

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Arquiteta, urbanista e paisagista, Patrícia Golombek dedicou os últimos 35 anos à pintura, especialmente aos grandes formatos. Porém, desde 2018, a artista plástica paulistana radicada nos Estados Unidos foi obrigada a diminuir o ritmo, mas sem perder a criatividade. Diagnosticada com câncer de mama e obrigada a se submeter a quimio e radioterapias, ela retratou os dois anos de luta contra a doença num diário visual. O recolhimento coincidiu com a epidemia de coronavírus, quando o mundo também parou. O resultado dessa pausa pode ser visto numa exposição individual em Paris.

Arquiteta, urbanista e paisagista, Patrícia Golombek expõe pinturas na galeria Meyer Zafra, no bairro do Marais, em Paris. Em 11 de maio de 2022.
Arquiteta, urbanista e paisagista, Patrícia Golombek expõe pinturas na galeria Meyer Zafra, no bairro do Marais, em Paris. Em 11 de maio de 2022. © divulgação
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“Durante dois anos, eu fiquei pintando pequenos quadros e contando tudo o que acontecia comigo e com o mundo, que parecia que tinha parado durante aquele tempo”, diz. “Primeiro o medo que eu senti quando soube dessa notícia do tratamento, o processo de ter ido para o Brasil fazer uma cirurgia e ter voltado para os Estados Unidos, onde eu moro, e ter enfrentado uma série de transformações, como ter perdido o meu cabelo”, relata. “E vou contando como tive que ficar sentada numa poltrona esperando tudo passar, o meu trabalho, as visitas que recebi”, completa.

Trabalhos da exposição Átimo, Átomo, de Patrícia Golombek.
Trabalhos da exposição Átimo, Átomo, de Patrícia Golombek. © divulgação

Átimo, Átomo

A exposição intitulada Átimo, Átomo reúne trabalhos inéditos, em que ela explora a sua jornada de recuperação, enquanto o mundo lidava com a disseminação devastadora da Covid-19. Neste diário pintado, Patrícia Golombek relata eventos que a marcaram, como a morte do estilista Pierre Cardin, no fim de 2020, e a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. “Eu era muito fã do Pierre Cardin, pois como arquiteta sempre me interessou a forma como ele fazia a estrutura das roupas. Fiquei muito triste e fiz uma homenagem a ele. O Capitólio ser invadido também me deu um choque grande”, lembra.

Sobretudo, as pinturas refletem a maneira como o mundo lidou com os confinamentos e restrições para conter a epidemia de Covid-19. Um trabalho que questiona a sobrevivência, o tempo e a própria existência humana. “Numa dessas pinturas sobre a radioterapia, quando eu recebi uma energia que me curou, eu pinto um quadrinho com uma referência aos átomos. E aparece, no meio desse quadro, uma estrela de Davi, que seria a fé. E quando eu sou convidada para fazer esta exposição em Paris, eu penso: o que foi tudo isso que eu passei?”, questiona.

“Então, eu começo a fazer trabalhos que têm a ver com esses átomos e com o tempo, com a resiliência. Eu faço trabalhos que têm pontos, círculos, que têm a ver com o movimento da Terra, que não parou o seu movimento de rotação e translação, os átomos que fazem parte do nosso corpo, o átimo que é uma fração do tempo, e como tudo mudou”, resume.

Pinturas da artista plástica brasileira Patrícia Golombek
Pinturas da artista plástica brasileira Patrícia Golombek © divulgação

Jardim da cura

Ainda quando se recuperava, a arquiteta paulistana, que vive há sete anos em Miami, na Flórida, recebeu um convite para projetar um jardim. Foi uma oportunidade para ela exercer uma parte da profissão à qual nunca havia se dedicado. Patrícia conta que estudar as plantas também ajudou no processo de cura. “Me convidaram para fazer um projeto de um jardim, o que me deixou muito feliz porque eu conseguia ter energia para fazer o projeto, pois não tinha energia para pintar quadros. E essa cura veio [também] através desse jardim. Eu comecei a fazer um projeto e vários vieram em seguida”, diz.

O projeto de um jardim, na Flórida, retratado em pequenas telas pela artista.
O projeto de um jardim, na Flórida, retratado em pequenas telas pela artista. © divulgação

A artista conversou com a RFI Brasil durante a sua passagem em Paris para a vernissage de sua a segunda exposição individual na capital francesa. “Eu estou muito contente, é a minha segunda exposição em Paris, as pessoas sempre são muito interessadas, é uma oportunidade muito boa. Eu espero que faça sucesso e toque as pessoas”, firma. “No final, graças a Deus tudo está passando e a vida está recomeçando. Eu estou percebendo que em todos os lugares as pessoas sentem a necessidade de estar juntas e é tudo muito bonito", conclui. “Graças a Deus eu estou curada, mas a gente sempre renasce vendo a vida com outra perspectiva, vivendo um dia de cada vez e tentado ser feliz”, finaliza.

Fé, ciência, geometria e o movimento do planeta e resiliência. Tudo isso compõe os quadros que Patrícia Golombek expõe na capital francesa.  A mostra fica em cartaz na galeria Meyer Zafra, no bairro do Marais, até o dia 12 de junho.  

Patrícia Golombek expõe na galeria Meyer Zafra, no bairro do Marais, em Paris.
Patrícia Golombek expõe na galeria Meyer Zafra, no bairro do Marais, em Paris. © divulgação

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