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Rendez-vous cultural

Carnaval do Rio de Janeiro é tema de exposição na França

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A cidade de Moulins, no centro da França, acolhe uma exposição dedicada ao carnaval do Rio de Janeiro. O evento, organizado pelo Centro nacional de figurinos de espetáculo (CNCS na sigla em francês), se concentra nas fantasias da festa brasileira e apresenta mais de uma tonelada de peças, que atravessaram o oceano especialmente para a ocasião.  

Exposição conta a história do carnaval do Rio de Janeiro por meio das fantasias (imagem de porta-bandeira da Acadêmicos do Sossego em 2020)
Exposição conta a história do carnaval do Rio de Janeiro por meio das fantasias (imagem de porta-bandeira da Acadêmicos do Sossego em 2020) © Fernando Grilli - Riotur
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Silvano Mendes, enviado especial a Moulins 

Enquanto no Brasil ninguém tem certeza se haverá carnaval este ano por causa da pandemia, em Moulins, a 2h30 de Paris, a festa já começou e vai até 30 de abril. Pelo menos é o caso nos corredores do no Centre National du Costume de Scène (CNCS), um museu instalado em um complexo militar do século 18, que decidiu homenagear a folia de momo em pleno inverno europeu.

A instituição acolhe entre duas e três exposições anuais, sempre tendo como fio condutor expressões artísticas nas quais os figurinos têm uma participação importante. O CNCS já organizou mostras sobre as comédias musicais, sobre a presença cênica das grandes divas dos palcos, como Maria Callas e Montserrat Caballé, ou ainda sobre o bailarino e coreografo Rudolf Noureev, cujos arquivos fazem parte da coleção permanente.

“Nós estamos em um museu dedicado aos trajes de espetáculo e o carnaval do Rio de Janeiro é o espetáculo mais espetacular do mundo”, resume Delphine Pinasa, diretora do CNCS e uma das comissárias da mostra. A francesa, que trabalhou junto com o professor universitário brasileiro Felipe Ferreira na realização do projeto, se esforçou para apresentar o carnaval carioca de forma didática, com textos que explicam o funcionamento das escolas de samba, os preparativos no Sambódromo, e o papel de personagens como os destaques ou os carnavalescos.

A mostra se organiza como uma verdadeira aula para quem, do outro lado do oceano, se encanta com as imagens vindas do Brasil, sem entender muito bem os ritos por trás das plumas e paetês. Os visitantes se surpreendem quando descobrem, por exemplo, que as escolas de samba não são verdadeiras escolas, ou ainda que desfiles no Sambódromo são, na verdade, um concurso.

Os trajes expostos foram emprestados pelas próprias escolas de samba, com peças vindas da Salgueiro, da Grande Rio, da Estácio de Sá, ou ainda da Imperatriz Leopoldinense, da Mocidade, da Portela, da Unidos de Padre Miguel e da Viradouro. Alguns destaques também vieram de colecionadores privados, como o francês Alain Taillard, que há anos desfila no Rio de Janeiro, mas também Zezito Ávila e Alexandre Couto.

Carnaval de rua, "característico do povo brasileiro"

Uma área também é dedicada ao carnaval de rua e aos bate-bolas, prática carioca menos conhecida que os desfiles tradicionais na Marquês de Sapucaí. “Era importante para nós mostrar, na medida do possível, todas as facetas do carnaval do Rio de Janeiro, inclusive esse lado popular, com os blocos”, conta a comissária.

“Os desfiles do Sambódromo são muito organizados e estruturados, com datas precisas, um júri e um concurso para o qual as escolas investem o que podem para ganhar. Mas a população também participa do carnaval pulando, cantando e dançando nas ruas do Rio de Janeiro. Esse é um fenômeno popular muito característico do povo brasileiro, que temos bem menos aqui na França”, compara Delphine Pinasa, lembrando que mesmo se os franceses têm os carnavais de Nice ou de Dunkerque, nenhum se compara a espontaneidade do evento brasileiro.

Fantasias para todos os gostos

Mas a exposição de Moulins vai bem além do lado didático “para francês ver”. Nos corredores do museu o visitante pode apreciar de perto inúmeras fantasias dos destaques de escola de samba, trajes de baianas e esplendores, além de vídeos e fotos que colocam o público em clima de festa. Não é raro ver crianças curiosas, perguntando “quem é essa rainha”, diante de uma porta-bandeira ao lado de seu mestre-sala.

Uma das vitrines da exposição aborda a influência europeia e principalmente francesa nas fantasias do carnaval carioca.
Uma das vitrines da exposição aborda a influência europeia e principalmente francesa nas fantasias do carnaval carioca. © Florent Giffard / Divulgação / CNCS

Os guias que acompanham os grupos de alunos aproveitam as questões dos pequenos para explicar que o carnaval brasileiro é feito de misturas, com influências que vindas da África e dos povos indígenas, mas também da Europa. Daí os vestidos armados e as coroas que pontuam o percurso, ressaltam.

A exposição também aborda, nas entrelinhas, a dimensão social do carnaval brasileiro. “As escolas de samba, que frequentemente ficam em bairros pobres, nas favelas, são também a ocasião de reunir, durante um ano inteiro, uma população carente. Eles cantam, aprendem a letra do samba enredo. Mas esses ensaios também reúnem pessoas que, fora dessas associações que são as escolas de samba, não têm acesso a todos os dispositivos [sociais], como a educação, o trabalho ou até o acesso à própria cidade”, conclui Delphine Pinasa.

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