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Radar econômico

Como a TV tradicional tem conseguido enfrentar o avanço do streaming

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A disseminação dos serviços de streaming e as mudanças nos hábitos de consumo dos usuários na última década levam a audiência da televisão tradicional a cair a cada ano, no Brasil, nos Estados Unidos ou na Europa. E quando grandes atores do mercado se reposicionam para se adaptar a essa revolução digital, a questão fundamental volta a emergir: a televisão linear está fadada a desaparecer?

Emissoras tradicionais têm investido na cobertura ao vivo para sobreviver à concorrência do streaming, que abocanhou o conteúdo gravado.
Emissoras tradicionais têm investido na cobertura ao vivo para sobreviver à concorrência do streaming, que abocanhou o conteúdo gravado. © pexels-nothing-ahead-7400892
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No cenário internacional, a última a mexer as peças no tabuleiro foi a Disney, que passa por um grande processo de reformulações desde que anunciou a intenção de ceder canais de peso como a emissora da TV aberta ABC e os canais a cabo National Geographic e FX. O grupo investiu pesado no streaming, em especial a Disney +, apostando na tendência antecipada por muitos analistas especializados.

“Tem Disney+, Star+, a ESPN, o Hulu, que eles acabaram de adquirir o controle. O caso da Disney é bem particular: é muito agressivo o investimento que ela faz no streaming e, pelo que temos de informação, esse investimento ainda não teve o retorno esperado – até porque o mercado de streaming não está crescendo na velocidade que alguns analistas previam. Em cima dessas previsões irreais, muitos investimentos foram feitos e eles precisam tirar o dinheiro de algum lugar para cobrir o buraco”, explica Fernando Morgado, professor de cibercultura e inteligência de mercado na ESPM-Rio.

Ele é um dos que acreditam que, apesar das profundas transformações por que passa o setor de mídia audiovisual, a televisão convencional ainda terá o seu lugar na casa dos telespectadores – mas não da mesma maneira que a consolidou.

TV mais ao vivo

Antes, uma parte importante do conteúdo era gravado ou vinha pronto do exterior – os famosos ‘enlatados’. Agora, as plataformas souberam ocupar esse espaço e sobrou para as televisões investirem nos programas ao vivo e locais, além dos de ‘infotainment’, programas que aliam entretenimento com informação.

“Não vejo esse fim tão cedo. Eu vejo uma complementaridade e parto da ideia da adaptação que os negócios são obrigados a fazer”, avalia. “A TV convencional, como a gente conhecia até uns anos atrás, essa morreu. No lugar dela, surgiu uma nova: mais ao vivo, mais jornalística, e também com mais eventos. Os torneios de futebol estão com os direitos de transmissão nas alturas, com valores que nunca foram alcançados antes – e isso também ajuda a manter um modelo de televisão baseado em horários”, observa.

Cobertura ao vivo faz audiência da TV aberta subir, diz especialista.
Cobertura ao vivo faz audiência da TV aberta subir, diz especialista. Getty Images via AFP - DREW ANGERER

Neste aspecto, o especialista observa que a programação ao vivo oferecida pelas emissoras encontra eco no fenômeno da segunda tela: ao mesmo tempo em que o telespectador assiste a um programa, usa o celular para comentar e repercutir com outros no mesmo momento, pelas redes sociais.

“Isso tem ocupado espaço no mundo inteiro e é realmente um refúgio para os canais lineares, porque o ao vivo dá o senso de urgência, dá a emoção. Existem inclusive estudos que mostram que quando tem um programa de TV com o selo ao vivo, a audiência cresce, em comparação com conteúdo gravado”, salienta.

YouTube: concorrente ou aliado?

Quanto às redes sociais, não necessariamente elas devem ser vistas como concorrentes, mas sim como aliadas, ressalta Morgado. Emissoras com recursos mais limitados tem usado a plataforma YouTube para continuar a se desenvolver.

No Brasil, o SBT se tornou um caso de sucesso mundial de migração dos telespectadores da telinha para a plataforma, sem necessidade de investimentos colossais em tecnologia, como fez a Globo com o Globoplay. Dados da Kantar Ibope Media, que tem feito a aferição da audiência de streaming, apontam que o YouTube já representa 15% da audiência de TV no Brasil.

“Não precisa pagar e eu diria que é a nova TV aberta, dada a popularidade do conteúdo, a variedade, só que turbinada pela participação do usuário – em que ele também gera conteúdo e não depende apenas de quatro ou cinco redes de TV mais fortes”, complementa Morgado.

Segundo um relatório da consultoria especializada americana Nielsen, a televisão linear hoje representa menos de 50% do consumo audiovisual nos Estados Unidos, enquanto o streaming – incluindo o YouTube – atinge 38,6% do uso de um aparelho de TV por família no país.

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