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Radar econômico

Por que o yuan ainda está longe de desbancar o dólar no mercado internacional

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O ano de 2023 se transformou em um marco para a internacionalização do yuan, a moeda da China. O mundo caminha para um dia o dólar ser substituído nas transações globais pelo renminbi, o nome oficial da divisa chinesa?

A moeda chinesa é uma ameaça ao dólar?
A moeda chinesa é uma ameaça ao dólar? AP - Hyung-jin Kim
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Desde que se tornou uma potência econômica, a China alimenta esse sonho, ainda mais depois de o yuan ser reconhecido como uma das moedas do FMI (Fundo Monetário Internacional). Esse anseio é agora reforçado pelo contexto da guerra na Ucrânia e a ampliação do Brics, o grupo de países emergentes do qual faz parte junto com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.

Avesso às sanções ocidentais contra Moscou, de quem é aliado, Pequim passou a comprar petróleo e gás russos diretamente em renminbis e acelerou o desenvolvimento do próprio sistema de pagamentos transfronteiriços, o CIPS, um equivalente chinês ao tradicional Swift. A ofensiva responde à importância da China como principal parceira comercial de cerca de 140 países espalhados pelo mundo. Dos restantes, ela é a segunda principal parceira.

Neste contexto, os acordos bilaterais com Bancos Centrais estrangeiros, incluindo o do Brasil, se multiplicam. “Isso foi colocado pelo governo brasileiro como uma espécie de conquista, mas em realidade se trata se uma política externa chinesa. Ela foi desenhada e está sendo promovida pela China, mas vai depender muito dos próprios atores das relações comerciais, se vão querer utilizar ou não o yuan, e dentro de uma certa cota”, sublinha o coordenador do Grupo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, Evandro Menezes. “No geral, os players do Brasil ainda preferem operar em dólar.”

Economia fechada dificulta expansão

Na última cúpula do Brics, em que a abertura para seis novos membros foi decidida, os integrantes avançaram as negociações sobre o uso de uma moeda comum entre eles. Para o novo eixo do Sul global, estimular alternativas ao dólar representa fortalecer a própria influência geopolítica. Mas dado o peso da China na relação com os demais, o yuan tem tudo para ser o maior beneficiado.  

Presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, China, Xi Jinping e África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o chanceler Sergey Lavrov participaram da 15ª cúpula do Brics em Joanesburgo, na África do Sul. (23/08/2023)
Presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, China, Xi Jinping e África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o chanceler Sergey Lavrov participaram da 15ª cúpula do Brics em Joanesburgo, na África do Sul. (23/08/2023) ©

Ironicamente, o freio para uma expansão generalizada do renminbi no mercado internacional vem da própria China. Por conta do forte controle estatal sobre o sistema financeiro do país e a moeda nacional, o yuan ainda é apenas parcialmente conversível em outras moedas correntes, ao contrário do dólar ou do euro. No século 19, foi justamente a liberalização financeira que permitiu à libra britânica e, no século seguinte, ao dólar americano, se transformarem em moedas mundiais.

“Há diversos elementos a serem considerados antes de se falar em uma superação da predominância do dólar no âmbito internacional, inclusive a confiança da moeda, a estabilidade da economia, as políticas cambiais e monetárias adotadas pelo país, a sua pujança econômica”, destaca Menezes.  

Alternativa para países endividados

É por isso que, enquanto não está disposto a pagar o preço da abertura, Pequim tem privilegiado à expansão do yuan via transações comerciais, empréstimos e operações como swap cambial, que beneficiou recentemente a Argentina.

Com aceso limitado a dólares, Buenos Aires depositou pesos argentinos no Banco Central chinês e recebeu o equivalente em yuans. Com o dinheiro, quitou uma parcela da dívida bilionária que mantém com o FMI – mas sem usar as suas reservas na moeda americana, que se encontram em baixa. Já Pequim avançou um passo a mais nos seus planos de expansão.

“Tem uma série de variáveis importantes, não só o comércio internacional, que poderá dar ao yuan uma importância pelo menos equiparável ao dólar. Os Estados Unidos estão tentando proteger o dólar de diversas maneiras, afinal esse é um ponto importante de manutenção do seu poder e da sua hegemonia econômica global”, observa o professor da FGV, atualmente pesquisador visitante da Universidade de Pequim. “Os obstáculos postos pelos americanos e pela Europa criam uma dificuldade evidente para o yuan se tornar uma moeda global. E há sempre um teste de força importante: em momentos de crise, para qual moeda as pessoas vão preferir correr? Esse é um aspecto fundamental”, complementa.

Conforme a plataforma Swift, o uso de yuan mais do que dobrou de março de 2021 para março de 2023, quando chegou a 4,5% do total. A participação permanece, portanto, irrisória ante aos 83,7% de operações realizadas na moeda americana.

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