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Radar econômico

Brasil pode estar no fim de um ciclo de alta de juros, enquanto EUA devem aumentar taxas para conter inflação

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As incertezas em torno dos números da economia americana tiveram um impacto em boa parte do mundo. A semana começou no vermelho nas bolsas europeias, com baixas em Paris, Londres e Frankfurt. A rúpia indiana caiu ao seu pior valor histórico, a 78,28 por dólar. Impacto, também, na libra turca e no rand sul-africano e queda de 3,1% no índice da bolsa para países emergentes. No Brasil, o Ibovespa despencou e o dólar foi cotado acima dos R$ 5,11.

A inflação voltou a subir em maio nos Estados Unidos e atingiu 8,6% em um ano, um novo recorde em 40 anos: energia aumentou 34% e os preços dos alimentos subiram 10% no país.
A inflação voltou a subir em maio nos Estados Unidos e atingiu 8,6% em um ano, um novo recorde em 40 anos: energia aumentou 34% e os preços dos alimentos subiram 10% no país. © AFP - SAUL LOEB
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Em maio, os preços ao consumidor subiram mais do que o esperado nos Estados Unidos, atingindo 8,6% em um ano, o nível mais alto desde dezembro de 1981. Isso numa hora em que os investidores achavam que a inflação já tivesse atingido o pico.

As reuniões desta terça-feira (14) e quarta-feira (15) servem para o Federal Reserve (FED), o Banco Central americano, decidir sobre o dinheiro em circulação e as taxas de juros. Atento a uma economia americana “muito forte”, com um “mercado de trabalho extremamente pressionado” e “inflação elevada”, como apontaram os últimos relatórios do Comitê de Política Monetária, o FED avalia forçar uma posição mais neutra, com uma taxa de juros mais restritiva, ou seja, focada em desacelerar a economia.

Em entrevista à RFI, Thomas Costerg, economista na Pictet Wealth Management, explica como funciona esse mecanismo de ajuste. “Na economia, há uma equação entre a oferta e a demanda. Nós temos um problema de oferta, mas o FED atua sobre a demanda, de forma a fazer baixar essa demanda”, diz. “Mas vemos já números ruins sobre o imobiliário residencial nos Estados Unidos, que são algumas nuvens sobre a economia americana e a verdadeira questão é essa: será preciso ir até uma recessão para fazer baixar essa inflação?”, pergunta.

O especialista observa, no entanto, que há fatores externos pressionando a alta de preços. “O problema está aí. O Banco Central tem de lidar com muitos fatores que não controla. Ele pode controlar a demanda doméstica, mas há outros fatores que estão ligados ao contexto internacional, ao conflito na Ucrânia e essa inflação galopante dos preços dos alimentos e da energia em nível mundial. E o FED não tem todas as cartas na manga. Esse é o risco atual”, completa Costerg.

Brasil fez lição de casa

Para o economista-chefe da Órama e professor do Ibmec do Rio de Janeiro, Alexandre Espírito Santo, o FED errou ao dizer que a inflação seria transitória. Ele explica que o Brasil está melhor preparado para lidar com a alta de preços. “No caso brasileiro, a nossa taxa de juros, a Selic, vem subindo há mais de um ano. Nesse sentido, o Banco Central do Brasil foi muito célere. Percebeu que a inflação não era transitória como a maioria dos Bancos Centrais, especialmente o FED vinha advogando, e subiu a taxa de maneira intensa”, aponta. “A gente não pode esquecer que, há pouco mais de um ano, a Selic estava em 2% e agora, muito provavelmente, será colocada acima de 13%. É uma das maiores altas da nossa história”, destaca.

Para Espírito Santo, o Banco Central do Brasil agiu de forma preventiva, o que permite vislumbrar o encerramento de ciclo de alta, diferente dos Estados Unidos e do Banco Central Europeu (BCE) que, conforme explica o economista, estão no início desse processo. “Então, estamos levando vantagem em relação a esses outros bancos centrais”, diz. “Mas é claro que a alta de juros nos Estados Unidos é a grande referência e a política monetária global vem do que o FED faz”, completa.

“Quando o Banco Central do Brasil iniciou, há pouco mais de um ano, esse aumento das taxas de juros, ele sabia que vinha inflação da disrupção das cadeias produtivas e da política fiscal que o nosso governo estava fazendo. E essa política fiscal expansionista acaba gerando um aquecimento da demanda. O nosso BC, preventivamente, atuou prevendo um aumento de preços que efetivamente aconteceu”, explica.

Porém, o professor observa que a situação do mercado de trabalho do Brasil é mais frágil do que nos Estados Unidos. “É claro que o caso brasileiro é diferente, porque o mercado de trabalho brasileiro ainda se encontra longe do pleno emprego, mas vem melhorando gradativamente. Estamos em 10,5% de desempregados, é uma taxa ainda alta, mas menor do que um ano atrás”, compara. “Então, essa sintonia fina que o Banco Central vem tentando fazer é desafiadora porque não é simples você, no momento em que está tentando melhorar a economia depois da pandemia, tentando fazer com que a vida volte ao normal, porém com inflação alta, isso torna o trabalho do BC muito mais difícil”, observa. “E é por isso que, nesse momento, a gente vislumbra que o processo de elevação esteja próximo do seu fim”, conclui.

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