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Radar econômico

Macron terá de fazer malabarismo para melhorar poder aquisitivo dos franceses

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O impacto da guerra na Ucrânia e um contexto mundial de inflação alta levaram a perda de poder aquisitivo ao topo das preocupações dos franceses. Esse se transformou no maior desafio imediato da política econômica do presidente Emmanuel Macron, reeleito neste domingo (24) para um novo mandato de cinco anos.

Maior desafio imediato da política econômica do presidente Emmanuel Macron, reeleito neste domingo (24) para um novo mandato de cinco anos, é melhorar o poder aquisitivo dos franceses.
Maior desafio imediato da política econômica do presidente Emmanuel Macron, reeleito neste domingo (24) para um novo mandato de cinco anos, é melhorar o poder aquisitivo dos franceses. AP - Ludovic Marin
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Numa eleição em que a esquerda teve peso determinante no segundo turno, Macron deve abrir mais os cofres públicos para atenuar o aumento dos preços dos combustíveis e da energia, que impactam diretamente no bolso dos consumidores. O presidente prometeu apresentar uma lei, nos próximos meses, para manter as subvenções em vigor, como a que força a redução de até €0,18 por litro nos postos, limita o aumento do preço da energia a 4% e bloqueia o preço do gás no país.

Entretanto, o economista Mathieu Plane, do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE), ligado à Sciences Po de Paris, ressalta que o pacote não é sustentável por muito mais tempo.

“Concretamente, isso não poderá ser mantido a longo prazo, se o preço internacional da energia permanecer alto por muito tempo. Custa caro demais”, frisa Plane, em entrevista à RFI. “Será necessário pensar numa alternativa mais estrutural, mais focada em determinados públicos e acompanhada de novos investimentos para diminuir a dependência das energias fósseis – mas tudo isso não se faz de um dia para o outro.”

Políticas específicas para pessoas mais vulneráveis  

Na campanha, o candidato Macron já antecipava que as medidas teriam foco nas camadas menos favorecidas da população, as que mais sofrem com a inflação superior a 4%: vai viabilizar uma “bolsa alimentar” para os oito milhões de franceses mais pobres e indexar as aposentadorias à inflação, algo que não era feito desde os anos 1980 no país. Macron garante ainda que, até o fim do seu mandato, nenhum idoso com pensão plena ganhará menos do que € 1,1 mil.

Além disso, o presidente almeja incitar as empresas a recompensar os trabalhadores com vencimentos inferiores a três salários mínimos, por meio de bônus de até € 6 mil isentos de impostos. Quanto aos funcionários públicos, devem ter os salários atualizados conforme a inflação.

“Temos uma longa lista de medidas que podem ter efeito no poder aquisitivo, mas são medidas de curto prazo. Por enquanto, não há nada claro sobre os investimentos a médio ou longo prazo, estímulo ao crescimento e o emprego”, afirma o economista do OFCE. “Ok, queremos aumentar o poder de compra imediatamente, mas há uma série de questões a serem verificadas, a começar pelo financiamento de tudo isso, que foi muito pouco abordado até agora. Há, de certa forma, um problema de realidade financeira.”

Dívida preocupa

Para compensar o rombo das promessas com um custo anual estimado entre € 45 e € 55 bilhões, que se somam a uma dívida de € 600 bilhões acumulada durante a crise da Covid-19, Pascal de Lima, economista-chefe da Harwell Management em Paris, aposta numa política de estímulo econômico para incentivar o crescimento, via queda dos impostos.

“Sabemos que os impostos na França são muito elevados, entre os mais altos da União Europeia. Então, um primeiro ponto será baixá-los, a começar pelos que incidem sobre o consumo, como a TVA”, explica. “A chave, a meu ver, será estimular o consumo. Quando o poder aquisitivo melhora, o consumo aumenta e as receitas do Estado são recompensadas.”

O impulso reformista que levou Macron à presidência em 2017 resultou em transformações importantes como a flexibilização do Código do Trabalho e o endurecimento do acesso ao seguro-desemprego, entre outras. A última reforma de peso que restou foi a das aposentadorias, que tende a reacender a agitação social no país já neste ano.

Para compensar o desgaste anunciado, o governo deve se esforçar para contemplar aspectos negligenciados durante o primeiro mandato, como a educação, a saúde, a reindustrialização do país e a transição ecológica – que terá papel protagonista no planejamento desta França mais produtiva, garante Macron.

No aspecto orçamentário, portanto, o presidente tende a continuar olhando pouco para a conta dos gastos.

“É claro que o endividamento atual não é possível e não podemos continuar a nos endividar dessa forma, tomando riscos para as gerações futuras. Mas se as políticas forem no sentido de estimular o consumo, promover algumas políticas do lado da oferta e estimular a competitividade da França, a consequência na economia pode ser um grande crescimento que vai poder resolver, sobretudo se as taxas de juros permanecerem baixas, esse problema de endividamento”, observa Lima.

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