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Planeta Verde

Volta de ararinhas-azuis após 20 anos de extinção também é oportunidade para preservar a Caatinga

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Vinte e dois anos depois de a última ararinha-azul ser vista ao ar livre no seu habitat natural, a Caatinga, oito exemplares da espécie foram soltas em meados de junho por uma equipe de biólogos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a organização ambiental alemã Association for the Conservation of Threatened Parrots.

No mundo todo, cerca de 200 ararinhas-azuis são mantidas em cativeiro por especialistas para reprodução da espécie, extinta na natureza.
No mundo todo, cerca de 200 ararinhas-azuis são mantidas em cativeiro por especialistas para reprodução da espécie, extinta na natureza. AP - Patrick Pleul
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Além de coroar um projeto de anos para recuperar uma ave considerada extinta na natureza, a iniciativa também se tornou uma oportunidade para preservar o bioma, exclusivamente brasileiro. Nos anos 2000, a degradação do ambiente, o intenso tráfico e a ação de predadores levaram as ararinhas-azuis a sumir da paisagem, no sertão baiano. O trágico destino da espécie virou até filme, a animação Rio e Rio 2, de 2011 e 2014.

A situação levou à criação de um Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-Azul, há 10 anos. Foram localizadas aves em criadouros pelo mundo e encaminhadas para a Alemanha, onde passaram a integrar um programa de reprodução em cativeiro. Destas, 52 foram levadas ao Brasil em 2020, para se prepararem para a reintrodução na natureza.

Agora, quase um mês depois de cinco fêmeas e três machos voltarem a voar nos céus de Curaçá, na Bahia, o coordenador do plano nacional, Antonio Eduardo Barbosa, do ICMBio, celebra o sucesso da operação – pelo menos até agora. “A gente está acompanhando essas aves. Elas estão bem, próximas ao recinto de soltura. Elas voltam todo o dia ao cativeiro, se alimentam, exploram o ambiente ao redor”, conta. “Uma se afastou um pouco mais e ficamos três dias sem o sinal dela, mas conseguimos resgatá-la. Ela ficou um pouco desidratada e está em tratamento. Mas a gente não teve nenhuma perda e isso é muito bom.”

A ararinha-azul é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como "em perigo crítico".
A ararinha-azul é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como "em perigo crítico". Rüdiger Stehn/ Creative Commons

Riscos à reprodução

Hoje, existem cerca de 200 exemplares no mundo, além das que permanecem ilegalmente apreendidas. Recuperá-las seria crucial para melhores resultados da reprodução em cativeiro.

“É importante aumentar a variabilidade genética dessas populações. Os animais são muito próximos, são parentes: primos, irmãos, e isso às vezes causa problemas para a reprodução da espécie”, explica Barbosa.

No seu habitat natural, em uma reserva cercada por uma área de proteção ambiental federal, as ararinhas-azuis enfrentam os perigos da natureza, mas também precisarão de proteção reforçada contra tentativas de captura ilegal e até um megaprojeto de instalação de um parque eólico na região – que pode gerar riscos de electrocução nos fios elétricos. Os especialistas em conservação envolvidos na “operação ararinha” se mobilizam para deslocar a construção do Complexo Eólico Serra da Borracha para uma zona mais distante do plano original, às margens da reserva.

Recuperação da Caatinga

Outra ameaça é a própria degradação da Caatinga, cada vez mais atingida pela desertificação e abalada pelo avanço da agricultura – quase metade da vegetação natural já foi desmatada. Menos de 1% do bioma, que ocupa 11% do território nacional, é beneficiado com uma proteção integral pelo governo federal.

Na esteira do projeto de reintrodução das ararinhas-azuis, uma equipe de pesquisadores e instituições de preservação se uniram para recuperar o entorno da área onde se espera que as aves circularão. O projeto RE-Habitar vai recuperar 200 hectares de vegetação – a metade às margens de rios intermitentes e a outra, nas regiões mais secas.

O professor Renato Rodrigues, coordenador do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Nema/Univasf), explica que, como em qualquer ambiente semiárido, a Caatinga é frágil, suscetível a mudanças no nível de aridez e a períodos de secas extremas – e os ecossistemas precisam de água para se desenvolver.

“Queremos que esse projeto seja uma vitrine. Ele está sendo desenhado para ser um método de fácil de replicação na região – do leito do riacho até a caatinga mais seca”, aponta Rodrigues. “Estamos testando um modelo para recuperar as drenagens, fazer barragens subterrâneas para acumular a água no subsolo. E em paralelo, fazer plantio de mudas em núcleos, com semeadura de espécies, tudo com baixo custo, para mostrar para a população que recuperar a Caatinga é um ganho não só para a ararinha, como para o proprietário rural.”

As árvores escolhidas são de rápido crescimento e utilizadas pelas aves como alimento ou para formação de ninhos. A expectativa da equipe é começar o plantio em dezembro, início do período de chuvas na região.

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