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O Mundo Agora

Ano de 2024 promete um complexo mosaico global com perspectivas incertas de paz

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O mundo testemunha o maior número de conflitos militares desde a Guerra Fria. Os principais focos incluem a guerra na Ucrânia, instigada pela Rússia, e o conflito Israel-Hamas no Oriente Médio. As perspectivas para a paz permanecem incertas, mas há sinais emergentes de possíveis negociações diplomáticas.

Moradores locais ficam em frente a um prédio de apartamentos danificado por um ataque de drone russo, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, em Carcóvia, Ucrânia, em 31 de dezembro de 2023.
Moradores locais ficam em frente a um prédio de apartamentos danificado por um ataque de drone russo, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, em Carcóvia, Ucrânia, em 31 de dezembro de 2023. REUTERS - STRINGER
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Thiago de Aragão, analista político

Ao entrarmos em 2024, é essencial olhar para frente e antecipar os desafios e oportunidades que nos aguardam. Desde tensões geopolíticas até crises ambientais, este ano promete um complexo mosaico global que exige nossa atenção e compreensão.

O mundo entra no novo ano lidando com conflitos não resolvidos e flutuações econômicas. A contínua guerra na Ucrânia não deve terminar em 2024. A postura agressiva da Rússia na Ucrânia representa uma ameaça contínua à estabilidade europeia. A diminuição do apoio ocidental à Ucrânia pode levar a mais ganhos territoriais russos.

Enquanto isso, o Oriente Médio permanece como fonte de ansiedade global, principalmente após Benjamin Netanyahu afirmar que a guerra deverá durar vários meses. 

Da mesma forma, as instabilidades econômicas da China e o comportamento militar imprevisível da Coreia do Norte continuam sendo motivos de preocupação. No último dia do ano, Kim Jong Un colocou seu exército em estado de alerta, ameaçando (mais uma vez) uma guerra que certamente não acontecerá.

Mas nem tudo é sombrio. Há lampejos de esperança, particularmente nos avanços tecnológicos e na resiliência da economia dos Estados Unidos. Esses aspectos positivos podem não compensar totalmente os desafios, mas oferecem caminhos para otimismo e progresso.

Democracia em foco

O ano de 2024 promete ser monumental em termos de democracia global, com eleições significativas previstas em todo o mundo. Vale destacar a eleição presidencial no México e (possivelmente) na Venezuela. Mas não se trata apenas de mudanças na liderança política, trata-se da profunda interligação entre economia e geopolítica, como na eleição taiwanesa, por exemplo. O uso estratégico de políticas econômicas nos jogos de poder internacionais, especialmente entre superpotências como os EUA e a China, adiciona uma camada de imprevisibilidade que pode ter efeitos de longo alcance no comércio e investimento globais. Cada vez mais, países estão se alinhando de um lado ou de outro. 

Tanto EUA quanto China deverão iniciar uma recuperação econômica, aumentando seus fôlegos financeiros e capacidades de trazer aliados para debaixo de seus guarda-chuvas. A China e a Rússia podem abrir uma nova frente na região do Indo-Pacífico, desafiando a influência dos EUA. O apoio da Rússia à Coreia do Norte e as atividades da China nos mares do Sul e do Leste da China sinalizam um ambiente geopolítico complexo.

Na Europa, espera-se que a volatilidade política atinja novos patamares. O continente enfrenta um delicado equilíbrio entre crescimento, iniciativas verdes e relações internacionais. A Europa enfrenta um período tumultuado, marcado por polarização política e declínio econômico. O surgimento de uma nova 'Cortina de Ferro' significa uma grande mudança na paisagem geopolítica.

Incertezas de todos os lados

A União Europeia, em particular, enfrenta escolhas difíceis que podem moldar sua trajetória futura e influência no cenário global. Entre essas escolhas, a continuidade do financiamento à Ucrânia segue sendo de grande importância. Esse apoio aos ucranianos aumenta a imprevisibilidade do que a Rússia poderá fazer contra a UE. No Reino Unido, o ano de 2024 deverá ser o último do primeiro-ministro Rishi Sunak, colocando mais tensões e incertezas no ambiente político britânico. Importante lembrar que grande parte da Europa aguardará ansiosamente as eleições americanas, temendo uma possível vitória de Donald Trump

Também estamos testemunhando o que poderia ser descrito como uma nova era da Guerra Fria, marcada por um crescimento global reduzido e conflitos intensificados. Esse clima geopolítico sublinha a necessidade crítica de respostas estratégicas às agressões territoriais por grandes potências. As decisões tomadas em 2024 podem ser fundamentais na formação da paz e estabilidade globais. Taiwan seguirá sendo o epicentro das tensões globais entre EUA e China. Por mais que dificilmente a China tome uma atitude contra Taiwan em 2024, as eleições em Taipei acirrarão ainda mais a rivalidade entre EUA e China. Esse aumento nas tensões, aliado as guerras no Oriente Médio e na Europa colocará mais pressão na matriz energética global, podendo acelerar planos de diversificações em vários países. 

Apesar desses desafios, algumas nações têm a chance de se beneficiar das mudanças globais. A Índia surge como um beneficiário significativo neste cenário geopolítico, pronta para atrair capital global e investimentos tecnológicos. Sua paisagem política estável e localização estratégica entre os EUA, China e Rússia realçam seu papel global.

Paisagem geopolítica em plena mudança

Países que conseguirem capitalizar na diversificação energética, tratados de defesa e realinhamentos da cadeia de suprimentos podem emergir como os vencedores inesperados de 2024. Países como México, Indonésia, Brasil e Turquia estão ganhando destaque, aproveitando suas localizações estratégicas e recursos. Enquanto o México está destinado a se beneficiar ainda mais do nearshoring ("deslocalização próxima" é um tipo de terceirização de uma atividade com salários mais baixos que no próprio país), a Turquia enfrentará um momento decisivo sobre como sua relação ambígua com a Rússia permanecerá.

Essas nações podem estabelecer novos precedentes sobre como o poder global é percebido e exercido. Nesse contexto, o Brasil poderá ser um personagem importante caso entenda que política externa é um espetáculo de pragmatismo e não de demonstrações de amor aos ideologicamente semelhantes. 

À medida que avançamos para 2024, é crucial permanecer vigilantes e adaptáveis. A paisagem geopolítica está mudando, apresentando tanto desafios quanto oportunidades. A bifurcação do sistema global, o desacoplamento EUA-China e as relações em evolução entre grandes potências como China e Índia são tendências-chave que moldam a ordem global. Sem dúvidas alguma, a dinâmica geopolítica, econômica, militar e diplomática global seguirá o caminho estabelecido pelo “Big 4”: EUA, China, Rússia e Índia. Esses são os países com poder e capacidade de alterar o cenário internacional de forma contundente e contínua. 

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