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A Semana na Imprensa

Guerra no Oriente Médio instaura dilema para política externa dos Estados Unidos

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A guerra entre Israel e o Hamas marca o retorno dos Estados Unidos ao Oriente Médio contra a vontade de Washington, que havia se cansado de buscar um acordo de paz que ninguém queria na região, e se dedicava, nos últimos anos, a enfrentar a rivalidade com a China, vista como a maior ameaça à potência americana neste século. Essa reviravolta geopolítica e suas consequências imprevisíveis são analisadas pelas revistas francesas desta semana, após quatro semanas de conflito na Faixa de Gaza. 

Palestino observa a destruição causada pelos bombardeios israelenses ao acampamenro de refugiados de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza.
Palestino observa a destruição causada pelos bombardeios israelenses ao acampamenro de refugiados de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza. AP - Abed Khaled
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Em seu editorial, a revista L'Express relata que o presidente Joe Biden não teve escolha diante das divisões internas na União Europeia e do imobilismo na ONU. A invasão do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, revelou ao mundo a fragilidade da política de segurança israelense e Biden teve de reafirmar o apoio dos EUA a este aliado histórico, "inimigo jurado do Irã", recorda a L'Express. Perante as atrocidades cometidas pelo Hamas contra civis israelenses, a resposta de Israel se tornou obrigatória e trouxe de volta a questão palestina para o centro das preocupações mundiais, destaca a revista. 

"Ao enviar dois porta-aviões para o mar Mediterrâneo, mobilizar bases militares regionais e dar suporte tecnológico estratégico às operações militares israelenses, inclusive com bombardeios na Síria, os Estados Unidos lançaram uma advertência explícita ao Irã", avalia a revista francesa. Caso o governo iraniano – provedor do braço armado do Hamas e do movimento xiita libanês Hezbollah – continue "com provocações incendiárias na região, os Estados Unidos irão retaliar", afirma o editorial. 

A revista L'Obs faz a mesma constatação em sua coluna semanal de geopolítica. A Casa Branca, depois de achar que havia se libertado de duas “guerras intermináveis”, no Afeganistão e Iraque, enfrenta dois novos conflitos em que desempenha um papel indireto importante: na Ucrânia e no Oriente Médio. Um terceiro está por vir, com a China, em torno das Filipinas ou de Taiwan. 

Para esta revista, "na dolorosa recomposição dos equilíbrios globais, os Estados Unidos voltam a desempenhar seu papel de líder, seu estatuto de superpotência, com todas as contradições embutidas que impedem uma atuação coerente tanto na Palestina quanto na Ucrânia".

Até agora, as divergências de visão entre republicanos e democratas sobre esses conflitos não tiveram qualquer efeito sobre a capacidade de Washington de desempenhar seu papel global, assinala a L'Obs, mas o cenário tende a ficar tenso com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro de 2024.

Desafios para a União Europeia

Já a revista Le Point publica um editorial com críticas à "passividade" da França e da União Europa nessa região estratégica para os europeus. "Paris e Bruxelas testemunharam como espectadores a única distensão significativa dos últimos anos, os Acordos de Abraão, que buscaram normalizar as relações entre Israel e alguns países árabes, mas negligenciaram injustamente o destino dos palestinos", opina.

Entretanto, os europeus têm desafios vitais a defender nessa história. O primeiro deles é geopolítico, recorda a revista. "O conflito ameaça desestabilizar nosso ambiente na margem sul do Mediterrâneo, desencadear uma nova crise em nosso abastecimento energético e aumentar ainda mais o fosso entre o Ocidente e muitos dos chamados países do Sul", assinala o texto. 

O segundo desafio é a migração. A catástrofe humanitária em Gaza – potencialmente a pior desde 1948 na região – irá provavelmente gerar um êxodo de milhares de pessoas.

Por fim, a Le Point elenca um terceiro desafio, no caso interno. "Os dois países da União Europeia que abrigam as maiores populações judaicas são França e Alemanha. Criar as condições para seu futuro em paz e segurança constituiria um belo e útil projeto franco-alemão", conclui a publicação.

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