Esta segunda-feira, 19 de setembro de 2022, é o dia do enterro da rainha mais longeva do mundo: Elizabeth II. Seu reinado durou 70 anos e 214 dias, de 06/02/1952 a 08/09/2022, quando morreu. Somente o de Luis XIV, da França, durou mais: 72 anos e 110 dias.
Flávio Aguiar, analista político
Quando assumiu a Coroa, era rainha de 32 estados soberanos. Quando morreu, ainda era rainha de 15: 9 na América, 5 na Oceania e 1 na Europa, o seu Reino Unido natal. Durante seu reinado, teve 15 primeiros-ministros em Londres, e conheceu 5 papas, de Pio XII a Francisco I.
Seu casamento com o Príncipe Philip durou 73 anos, sendo que ele foi o Cônjuge Real durante quase 69 anos, até sua morte, em 09/04/2021, dois meses antes de completar 100 anos.
A relação de crises e eventos geopolíticos que acompanhou é impressionante, incluindo distúrbios e terremotos políticos na Irlanda do Norte e na Escócia; o escândalo conhecido como “Caso Profumo”, envolvendo sexo de um ministro de Estado com uma modelo e denúncia de uma possível espionagem; a crise do Canal de Suez, em 1956, que anos mais tarde envolveria a denúncia de uma tentativa de assassinato do presidente Gamal Abdel Nasser por parte do Serviço Secreto Britânico; a deposição do governo nacionalista da Pérsia promovida por este e a CIA em 1953, e a posterior Revolução derrubando o Xá e instalando a República Islâmica do Irã; o processo turbulento de descolonização da África; a crise dos mísseis em Cuba; a construção e a queda do muro de Berlim; o assassinato de John Kennedy; a Guerra do Vietnã; a vertiginosa ascensão e o fim dos Beatles; o surgimento do neo-liberalismo durante os governos de Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos; a Guerra das Malvinas com a Argentina; o fim da União Soviética, a reunificação da Alemanha e o renascimento geopolítico da Rússia sob a liderança de Vladimir Putin; a formação da Comunidade Econômica da Europa, depois da União Europeia, com a participação do Reino Unido, e por fim o processo do Brexit; o ataque às Torres Gêmeas em Nova Iorque; as sucessivas guerras do Afeganistão; o complicado caso de Julian Assange e o de Edward Snowden; a pandemia da COVID; a Guerra na Ucrânia.
A lista não tem fim, estamos apenas no começo. Elizabeth Alexandra Maria nasceu num mundo, antes da Segunda Guerra; assumiu a coroa em outro; reinou ainda em outro e morreu neste nosso de agora, em meio a crises de energia, alimentos e o nascimento de uma nova Guerra Fria entre os Estados Unidos e seus aliados de um lado, e China e Rússia do outro. Quando tornou-se rainha, o mundo temia uma guerra nuclear. Agora volta a temê-la outra vez.
Mudanças e turbulência na monarquia
Durante seu reinado a monarquia britânica passou a pagar imposto de renda pela primeira vez na história, a partir dos anos 90. A Casa Real passou por várias crises de popularidade, muitas graças a escândalos sexuais e divórcios envolvendo seus filhos, sendo o mais rumoroso deles o de seu hoje sucessor, Charles III, nos anos 90, que rompeu seu casamento com Lady Diana Spencer devido a seu caso com Camilla Parker Bowles, hoje Consorte da Coroa. Mas tais problemas jamais afetaram a popularidade da Rainha, que também era Primaz das Igrejas Anglicana e da Escócia.
Entretanto a sombra do antigo Império Britânico, aquele onde o sol nunca se punha, um dos mais predadores dos recursos naturais e humanos de suas colônias, jamais a abandonou. O agora Rei Charles III herda um mundo um tanto convulsionado da Commonwealth. Em vários daqueles países que tinham Elizabeth II como rainha, volta-se a falar em regime republicano e rompimento com o guarda-chuva da Coroa Britânica.
Elizabeth II visitou o Brasil de 1° a 11 de novembro de 1968, percorrendo 6 cidades brasileiras. Durante sua visita aconteceu o encontro entre dois monarcas: ela, de um lado, e o “Rei Pelé” do outro, no dia 10 de novembro, no Estádio do Maracanã. Ele recebeu o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico. Se a visita foi muito efusiva e alegre, não se pode esquecer que o Brasil sufocava sob uma Ditadura Militar, que agora há quem queira reeditar. Um mês e dois dias depois de sua partida o governo Costa e Silva promulgava o famigerado Ato Institucional n* 5.
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