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Linha Direta

Em Israel, Javier Milei leva apoio a Netanyahu e declara guerra à oposição após derrota no Congresso

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Em Jerusalém, o presidente argentino, Javier Milei, comoveu-se diante do Muro das Lamentações, mas ficou furioso com a oposição no Congresso argentino. No primeiro dos três dias de visita em Israel, ele anunciou que vai transferir a Embaixada da Argentina de Tel Aviv a Jerusalém, e que vai declarar o Hamas como um grupo terrorista, que reagiu emitindo uma nota em tom de ameaça.

O presidente argentino Javier Milei no Muro das Lamentações
O presidente argentino Javier Milei no Muro das Lamentações AP - Leo Correa
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Na sua primeira viagem diplomática, Javier Milei tornou-se o primeiro líder latino-americano a visitar Israel após os ataques do Hamas em 7 de outubro e o chefe de Estado que mais se emocionou ao visitar o Muro das Lamentações, onde chorou compulsivamente.

Batizado católico, Milei está num processo de conversão ao judaísmo. Além disso, o fato de chegar ao Muro das Lamentações representava a realização de uma meta: quando candidato, ele tinha prometido que, se fosse eleito presidente, visitaria o local sagrado, tão presente nas suas orações, guiadas pelo seu referente espiritual, o rabino Axel Wahnish.

Esse rabino, futuro embaixador da Argentina em Israel, ficou ao lado de Milei no Muro das Lamentações. Os dois choraram juntos e se abraçaram, comovendo também os demais presentes.

Se faltava alguma prova para Javier Milei se tornar um ídolo em Israel, já não falta mais. O argentino ganhou o reconhecimento dos israelenses e teve uma recepção calorosa do mais alto nível. O presidente argentino reafirmou a sua aliança incondicional com Israel que passa por uma visão pessoal e espiritual, mas também política e ideológica.

“É uma viagem com um forte conteúdo simbólico e político, ainda mais depois do ‘7 de outubro’. Milei traça uma aliança com Israel e abre as portas a Volodymyr Zelensky, enquanto os governos de países latino-americanos como Brasil, Colômbia, Chile México e Bolívia, entre outros, têm criticado abertamente a postura de Israel e sido indiferentes com o líder da Ucrânia”, disse à RFI o analista de política internacional, Fabián Calle, especializado em Oriente Médio e em temas de Segurança e Defesa.

Aliança incondicional

A Argentina sempre teve laços estreitos com Israel, mas Javier Milei está decidido a levar essa proximidade a outro nível. Ao ser recebido no aeroporto de Tel Aviv pelo chanceler israelense, Israel Katz, Milei comunicou que vai mudar a embaixada argentina para Jerusalém.

Depois de visitar o Muro das Lamentações, ao ser recebido pelo presidente Isaac Herzog, na residência oficial de Jerusalém, Milei também confirmou que vai declarar o Hamas como grupo terrorista.

Das 136 pessoas que o Hamas mantém reféns, 12 são argentinas, sendo duas crianças e, uma delas, um bebê de apenas um ano de idade, sequestrado quando tinha oito meses.

Outros sete argentinos foram resgatados e nove morreram. Na quinta-feira (8), Milei e Herzog vão visitar o kibutz NirOz, a 1,5 Km da fronteira com Gaza, atacado pelo Hamas em 7 de outubro. No kibutz, símbolo do ataque terrorista, vários argentinos foram vítimas. Milei vai reunir-se com parentes dos sequestrados.

Ao contrário dos demais líderes latino-americanos, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador, o colombiano Gustavo Petro, o chileno Gabriel Boric e, sobretudo, o presidente Lula, Javier Milei considera que Israel tem o direito de defesa e apoia a guerra de Israel contra o Hamas.

“Você demonstrou seu amor e carinho, tanto pelo povo judeu quanto pelo Estado-nação do povo judeu, o Estado de Israel, e agradecemos de todo o coração por isso. O povo judeu e o Estado de Israel sempre se lembrarão de quem esteve ao nosso lado nestes tempos difíceis. Você é claramente um dos maiores líderes que se apresentou e está aqui conosco hoje”, disse o presidente de Israel a Milei.

Custos e benefícios da aliança

Nesta quarta-feira (7), Javier Milei terá um encontro com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém para reforçar a aliança em comum. Essa aliança incondicional num contexto de guerra levará a Argentina a ser um parceiro estratégico de Israel no mundo.

Além disso, esse posicionamento, sem hesitações, contra o terrorismo também aproxima a Argentina dos Estados Unidos.

Fabián Calle vê estreita cooperação nas áreas de Inteligência, Segurança e Defesa. Vê também um posicionamento geopolítico de Javier Milei em detrimento de outros líderes da região, principalmente do presidente Lula.

“A Chancelaria argentina e o Ministério da Economia terão relações normais com Brasil, China, Rússia, México, etc. A Diplomacia presidencial de Javier Milei será com os Estados Unidos, com Israel e aliados democráticos do Ocidente, como a Europa.”, diferencia Calle.

O especialista não vê custos políticos do ponto de vista prático, lembrando que, no final das contas, o Congresso dos Estados Unidos sempre aprova ajudas econômicas a Israel e que a Europa não sancionou Israel.

Ameaça terrorista

Mas existe um ponto que, na Argentina, provoca apreensão. No começo dos anos 90, o ex-presidente argentino, Carlos Menem, também manteve relações próximas com os Estados Unidos e chegou a enviar navios de guerra ao Golfo Pérsico.

Muitos acreditam que essa postura levou o Irã, através do Hezbollah, a cometer dois atentados terroristas em Buenos Aires em 1992 e em 1994, deixando 115 mortos e centenas de feridos.

Nas últimas 24 horas, essa ameaça pairou no ar. Em nota, o Hamas avisou que “condena e deplora energicamente” o anúncio de Javier Milei de levar a embaixada da Argentina a Jerusalém. Considera essa decisão “uma violação dos direitos do povo palestino e das normas do direito internacional”. Em tom de advertência, o Hamas pediu a Milei que ‘reverta essa decisão que faz da Argentina um sócio da ocupação israelense”.

Para Fabián Calle, esse tipo de advertência não deve tornar-se um atentado porque o Hamas não opera fora da sua região Palestina, Israel, Cisjordânia, Gaza) como fazem o Hezbollah ou o Al-Qaeda.

“Obviamente, o governo deve ficar atento quanto à possibilidade de o terrorismo querer vingar-se da Argentina como fez nos anos 90. A Inteligência argentina deve trabalhar muito em cooperação com os Estados Unidos, com Israel, com a Europa, com o Brasil e com o Chile para evitar que se repita um atentado”, pondera Calle.

Da emoção à fúria

No começo da madrugada israelense, Javier Milei deu ordem para que os governistas retirassem do debate na Câmara de Deputados o mega pacote de leis aprovado em geral na semana passada.

Os deputados argentinos discutiam cada um dos 363 artigos de forma particular. Já tinham aprovado um importante artigo, mas quando chegaram ao ponto de concederem “superpoderes” para que Javier Milei pudesse governar sem precisar do Congresso, a discussão emperrou.

O governo já tinha diminuído de onze a seis as matérias nas quais pedia faculdades legislativas especiais, mas os opositores peronistas/kirchneristas queriam recortar ainda mais, embora os presidentes peronistas Néstor Kirchner (2003-2007), Cristina Kirchner (2007-2015) e Alberto Fernández (2019-2023) tenham governado com “superpoderes” em todas as áreas.

No ponto seguinte, o das privatizações, tudo indicava que também reduziriam a lista de estatais a serem vendidas.

Milei deu a ordem de retirar o projeto que volta agora à estaca zero para começar um novo processo de negociação. Vitória da oposição. Foi a primeira vez na história argentina que uma lei ou um pacote recuou ao ponto inicial.

Furioso, Javier Milei publicou nas redes sociais que “a casta política ficou contra a mudança que os argentinos votaram nas urnas”, que “não está disposto a negociar com aqueles que destruíram o país” e que “vai continuar com o seu programa com ou sem o apoio da classe política”, dando a entender que pode governar por decreto e por plebiscito.

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