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Linha Direta

Analistas explicam por que Brasil não adota ações como países vizinhos para pressionar pelo fim dos ataques em Gaza

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Diferentemente de alguns vizinhos da América do Sul, o Brasil não dá mostras por enquanto de que vai sair do discurso e adotar ações econômicas ou diplomáticas mais assertivas para pressionar pelo fim dos ataques, dizem analistas ouvidos pela RFI.

Palestinos observam busca por vítimas depois ataque israelense ao campo de refugiados de Jabalya, no norte de Gaza.
Palestinos observam busca por vítimas depois ataque israelense ao campo de refugiados de Jabalya, no norte de Gaza. REUTERS - STRINGER
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Venda de carnes e grãos, compra de petróleo, parcerias na área de equipamentos militares e uma longa tradição de cordialidade diplomática fazem com que o Brasil siga pedindo a libertação de reféns pelo Hamas e condenando ataques de Israel na Faixa de Gaza sem, no entanto, interromper o comércio com a região ou adotar uma postura diplomática mais incisiva.

A Bolívia chegou a anunciar o rompimento de relações com o governo de Benjamim Netanyahu e o Chile e a Colômbia chamaram de volta seus embaixadores em Israel, medida diplomática que significa desaprovação às ações daquele país. Mas o Brasil tem questionado se deve adotar medidas mais concretas.

"Quando a gente fala da Bolívia, do Chile, da Colômbia, falamos de Estados menos expressivos em termos de conexão, ligação comercial, ligação bilateral com Israel, sobretudo relevância internacional", afirmou à RFI Rodrigo Amaral, pesquisador de Relações Internacionais da PUC-SP e especialista em Oriente Médio.

"O Brasil é o país mais importante não só da América do Sul, mas da América Latina. Então o custo para o Brasil é mais alto. É um país que tem grande aproximação com os Estados Unidos, mas também com a China. E assim tem se apresentado como importante mediador”, diz.

De acordo com ele, o Brasil já adotou, em discursos, uma  "posição intensa e contundente sobre o conflito". Agora, diz, faltam medidas de fato. "Não basta acusar Israel de genocídio. Há a necessidade de medidas mais ativas, no sentido de boicotar para pressionar pelo fim da guerra. Mas ao menos até aqui não antevejo o país adotando algo nessa linha”, completou Amaral.

Etapas anteriores para expressar críticas

O analista Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, considera a postura da Bolívia "drástica". Ele alerta que isso pode prejudicar inclusive bolivianos que vivem em Israel. “Em relações internacionais, espera-se que relações diplomáticas não sejam rompidas nunca. Há outras etapas anteriores para expressar crítica, como a convocação de seus embaixadores, como fizeram Chile e Colômbia, o que já é uma medida relevante”, afirma.

“O Brasil já fez isso em outras situações, de chamar de volta seu embaixador, como no golpe de Estado no Paraguai em 2012. Mas é algo que neste momento não vejo o Brasil fazendo, exatamente porque o país está buscando construir uma posição de mediador do conflito", ressalta Murta.

Balança comercial

Há ainda um elemento interno que reforça a tática do Brasil ao tratar do conflito em Gaza. A sociedade continua polarizada e uma parcela de eleitores, com destaque para os evangélicos, tem erguido a bandeira de Israel como se estivessem defendendo a terra prometida do antigo testamento. Por sua vez, têm crescido nas redes sociais apelos pelo fim dos ataques israelenses.

Em outra frente de pressão, as negociações com o mundo árabe têm peso importante para o agronegócio. "Tanto nas negociações bilaterais quanto no Mercosul, principalmente Argentina e Brasil, são muitos os interesses econômicos na região. Brasil e Argentina exportam muitos produtos agrícolas para o Oriente Médio, para os países árabes. A gente importa também alguns bens vinculados a petróleo, mas a gente tem uma balança comercial de exportação significativa, de produtos do agronegócio como um todo. Essa pauta comercial é até mais significativa do que as relações que o Brasil tem com Israel. O Brasil, com Israel, acaba comprando muitos equipamentos militares, é uma outra relação”, afirmou Arthur Murta.

Saída pelo Egito

Brasileiros que aguardam a liberação para atravessarem a fronteira com o Egito e embarcarem no vôo da FAB rumo ao Brasil, esperam que até sexta-feira sejam autorizados a cruzar a fronteira, que começou a ser aberta nessa quarta-feira.

"Mais de um milhão de pessoas migraram internamente para lá. E agora finalmente começou um processo que é muito, muito lento de saída de palestinos e pessoas de outras nacionalidades. E essa abertura foi possível através da mediação internacional de outros atores, com destaque para o Catar, que tem relações diplomáticas e políticas muito próximas com o grupo Hamas", destaca Rodrigo Amaral. 

"Vale mencionar que as lideranças do Hamas não estão em Gaza, estão no Catar. Eu acrescentaria, além do Catar, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia, nesse negociação com Egito e Israel”, explicou.

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