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Para vencer o Hamas, Israel terá o desafio de destruir a rede de túneis de Gaza, diz especialista

O Exército israelense começou sua operação terrestre na Faixa de Gaza, visando principalmente a rede subterrânea de túneis do Hamas. Ainda que este tipo de construção seja uma antiga estratégia de grupos terroristas, a da organização islâmica palestina é mais complexa, diz à RFI a especialista em conflitos em ambiente urbano, Daphné Richemond-Barack, professora do Instituto Internacional de Contra-terrorismo da Universidade de Reichman, em Tel Aviv. Ela explica que conhecer a estrutura e destruí-la é essencial para vencer a guerra.

Um soldado israelense patrulha uma túnel atribuído ao Hamas na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, em 25 de julho de 2014.
Um soldado israelense patrulha uma túnel atribuído ao Hamas na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, em 25 de julho de 2014. © Jack Guez / AP
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Operacionalmente, a destruição da rede de túneis do Hamas é uma missão extremamente complicada porque existe um desafio triplo, de acordo com Richemond-Barack. “Acima de tudo, estamos numa zona urbana onde há população. Mesmo que solicitássemos a evacuação, certamente restariam habitantes. São terrenos urbanos com casas, com mesquitas etc.”, explica.

Ela indica um desafio adicional no caso do conflito entre Israel e o Hamas, os reféns, que estão nos túneis. “Há prioridades a levar em conta, entre a vida dos reféns, a vida dos civis inocentes que se encontram na Faixa de Gaza, e o risco a que os soldados se sujeitam nestes túneis preparados pelo Hamas”, diz. “É necessário encontrar um equilíbrio entre estas diferentes prioridades, que na verdade são completamente excludentes, e tentar ultrapassar este desafio militarmente.” Israel deve enfrentar o triplo desafio, “quase insuperável do ponto de vista militar”, para vencer o conflito.

Richemond-Barck lembra que os grupos terroristas exploraram cada vez mais este tipo de rede para atingir seus objetivos estratégicos. No caso do Hamas, eles dificultam de maneira decisiva os esforços de Israel para conseguir informações.

“Eu estive dentro dos túneis que estão na fronteira entre Gaza e Israel, do lado israelense, os que passam embaixo da fronteira. Eu também estive em túneis que foram feitos pelo Hezbollah, na fronteira com o território israelense. Faz 20 anos que o Hamas trabalha nos túneis, então não é uma grande surpresa para o mundo”, que eles existam, diz. “É um trabalho longo realizado pelo Hamas para construir uma rede subterrânea extremamente complexa, extremamente sofisticada e que faz do Hamas [uma organização] quase impenetrável”, diz.

A estratégia permite ao grupo reduzir a vantagem militar com Israel, que tem um dos Exércitos mais poderosos do mundo.

Diferentes túneis e finalidades

A especialista explica que os túneis podem ser usados para todo tipo de finalidade: cometer um ataque, fazer uma emboscada, sequestrar civis, soldados, ou servir de passagem para o tráfico. “Mas os túneis não são iguais e a maneira de combatê-los, de detectá-los, de eliminá-los não é sempre a mesma”, diz.

Alguns dos túneis mais conhecidos na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel foram descobertos em 2013, como o de Ein Hashlosha, e em 2014, durante a Operação Margem Protetora. Existem também os que estão no território do sul do Líbano, “nós os chamamos de reservas naturais”, diz ela porque “eles já existem há muito tempo”.

Alguns foram construídos pelo Hamas ligando Gaza ao Egito e utilizados principalmente para o contrabando de armas. O Egito tentou eliminá-los, sem ter muito sucesso. Esta rede provavelmente foi usada pelo Hamas para importar armas para o ataque do 7 de outubro, afirma a especialista.

Apesar da Faixa de Gaza ser um território pequeno, de apenas 365 km2, o circuito é imenso porque foi construído em zigue-zague e em diferentes níveis. Esta informação foi confirmada pelos reféns libertados que contaram ter andado por quilômetros embaixo da terra.

“Porque há quilômetros de túneis e esses túneis não são novos, ou seja, se os compararmos com os do grupo Estado Islâmico, na Síria e no Iraque. Eles também viviam nos túneis, ​​talvez durante algumas semanas, alguns meses. O que está acontecendo em Gaza é em um nível totalmente diferente. É muito mais sofisticado, e moderno”, compara.

“Uma verdadeira base militar”

“É uma verdadeira base militar. Uma base militar sob uma população civil, o que por si só já é um crime de guerra, mas acima de tudo põe em perigo a população de Gaza”, diz. “Esta base militar sob seus pés os expõe a explosões e desmoronamentos. Isto também os expõe a ataques militares do exército israelense. Eles são as primeiras vítimas desta guerra subterrânea”, diz.

Segundo ela, a maioria das passagens subterrâneas não são muito largas. Mas é possível que existam lugares onde uma moto ou até um caminhão possam passar. “Isso não está confirmado, mas é possível.  É possível que existam locais onde as armas sejam fabricadas e armazenadas. Um esforço militar digno de um Estado”, diz.

Para conseguir erradicar os túneis completamente, Israel deve, antes de tudo, localizá-los. “Devemos detectar todos eles. Você tem que saber para onde eles estão indo, de onde estão saindo exatamente. É um trabalho enorme”, explica a especialista que diz que há estratégias que podem ser implementadas.

“Por exemplo o monitoramento constante da fronteira para ver se há caminhões transportando terra, para ver se há galpões sendo criados para esconder um pouco essa atividade de construção de túneis”, diz.

Ela alerta que os túneis estão ficando cada vez mais profundos. “O Hamas beneficia de todo este know-how obtido na Síria, no Iraque e pode haver influência do Irã. Não estamos necessariamente no fim das nossas surpresas e mesmo que Israel tenha melhorado suas capacidades nesta área, devem saber que o Hamas também aprendeu e investiu. Esta é a realidade de uma corrida entre os dois lados”, conclui.

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