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Linha Direta

Biden terá dificuldades em aprovar nova ajuda à Ucrânia no Congresso dos EUA

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O presidente americano Joe Biden termina nesta quarta-feira (22) uma visita de dois dias à Polônia, onde fez um discurso contundente de apoio aos ucranianos e aos aliados europeus contra a Rússia. Na semana em que o conflito completa um ano, o líder americano anunciou novo pacote de ajuda a Kiev, mas sua aprovação pelo Congresso deve enfrentar dificuldades. 

O presidente americano Joe Biden durante viagem à Varsóvia, onde reiterou apoio dos Estados Unidos à Ucrânia e aos aliados europeus.
O presidente americano Joe Biden durante viagem à Varsóvia, onde reiterou apoio dos Estados Unidos à Ucrânia e aos aliados europeus. REUTERS - EVELYN HOCKSTEIN
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Heloísa Villela, correspondente da RFI em Nova York

A visão dominante, nos Estados Unidos, é a de que a Ucrânia está vencendo a guerra porque retomou áreas que já estiveram sob o domínio da Rússia. Mas a NPR, rede pública de rádio americana, talvez tenha resumido melhor do que qualquer outra empresa de comunicação o que o 24 de fevereiro de 2023 significa. Ela publicou uma matéria com o título: “Depois de um ano de guerra na Ucrânia, todos os sinais apontam para mais miséria e nada de fim à vista”.

A maior fábrica de munição dos Estados Unidos, na cidade de Scranton, na Pensilvânia, está expandindo a capacidade de produção para atender as demandas da guerra. Esse projeto ainda demora um ano e meio para ficar pronto. Sinal de que a aposta é em um conflito a perder de vista. O Pentágono quer multiplicar a atual produção de munição do país em 500%.

A Ucrânia está consumindo o arsenal militar mais rápido do que o Ocidente consegue repor. O assunto veio à tona durante a Conferência de Segurança de Munique, na semana passada. E a guerra entra em uma nova fase.  

Segundo o Secretário Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, a ofensiva russa, esperada para a primavera no Hemisfério Norte, já começou. A contraofensiva ucraniana não tarda. O impasse segue no campo de batalha.

Os analistas americanos já falam que vai ser difícil um dos lados declarar vitória em algum momento. Eles ressaltam que, muito possivelmente, a Rússia continuará dominando a Crimeia e a região do Donbass. Novas fronteiras podem ser negociadas, mas sob tensão constante. As conversas levarão anos e não será fácil chamar todo esse processo de negociação de paz.

Gastos dos EUA para ajudar a Ucrânia a se defender

Segundo a Organização Comitê para um Orçamento Federal Responsável, desde o início da guerra o Congresso norte-americano já aprovou mais de US$ 113 bilhões em assistência militar e apoio à Ucrânia. Desse total, seriam US$ 67 bilhões somente para defesa. O governo Biden já enviou, diretamente, US$ 26 bilhões em equipamentos militares que saem do estoque do governo e por isso não exigem aprovação do Congresso.

Nem todo o volume de dinheiro já aprovado foi gasto. Boa parte será enviada, em forma de equipamento e munição, este ano. Em visita à Ucrânia esta semana, Biden anunciou mais um pacote de ajuda militar, no valor de US$ 500 milhões, mas ele precisa da aprovação do Congresso. E dessa vez, não vai ser tão fácil como das anteriores.

Em dezembro passado, o presidente Volodymyr Zelensky discursou diante de deputados e senadores americanos, em Washington, enquanto a vice-presidente Kamala Harris e a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, abriam uma bandeira da Ucrânia. Uma cena emblemática que hoje dificilmente se repetiria.

Kevin McCarthy, o republicano que agora preside a Câmara, ganhou o cargo depois de muita negociação e de fazer concessões aos radicais de direita do partido. Ele prometeu rever o envio de recursos do contribuinte americano para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, Matt Gaetz, deputado da Flórida, apresentou uma resolução exigindo o fim do envio de ajuda financeira e militar à Ucrânia e cobrando um acordo de paz imediato.

Muitos republicanos, não apenas os mais radicais, já falam na necessidade de transparência, de prestar contas, de acabar com desperdícios. O pacote tem grandes chances de ser aprovado, mas o debate será conduzido de forma a provocar desgastes a Joe Biden, que já deixou clara a intenção de concorrer a um segundo mantado.

As pesquisas de opinião mostram uma erosão do apoio incondicional da população. Hoje, 48% dos norte-americanos são a favor do envio de armas dos Estados Unidos para os ucranianos. Mas em maio do ano passado, esse apoio era de 60%.

Futuro do tratado New Start

O líder russo anunciou a suspensão da participação russa no New Start, o único programa de controle de armas nucleares que ainda existe entre os Estados Unidos e a Rússia. O tratado, firmado em 2010, prevê a redução do arsenal nuclear dos dois países e estabelece limites para o estoque de ogivas nucleares, mísseis e bombardeiros, assim como o monitoramento conjunto do arsenal nuclear das duas potências.

Na terça-feira (21), Putin disse que Moscou quer saber como os arsenais nucleares dos demais países da OTAN, como França e Grã-Bretanha, entrarão na soma das armas nucleares do Ocidente, já que Estados Unidos, França e Grã-Bretanha são aliados da Aliança Militar que hoje o líder russo vê como um agressor e uma ameaça.

Em 2020, o então presidente George W. Bush retirou os Estados Unidos do tratado de Mísseis Antibalísticos, alegando que ele limitava a guerra contra os terroristas. A administração Barack Obama assinou o New Start e o ex-presidente Donald Trump abandonou outro acordo com a Rússia, que bania mísseis de médio alcance. Com Biden, o New Start foi estendido até 2026.

Em um discurso de quase duas horas nessa terça-feira, quase todo sobre a guerra na Ucrânia, Putin disse que o Ocidente quer impor derrotas à Rússia e tomar as instalações nucleares do país. Foi nesse contexto que ele anunciou o congelamento da participação russa no tratado New Start. Horas depois do discurso, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, garantiu que Moscou respeitará os limites estabelecidos no tratado e também vai continuar trocando informações com Washington.

Essa suspensão é um congelamento e não o cancelamento da participação do país no acordo. Porém, um congelamento, mesmo temporário, pode significar que a Rússia não vai passar aos Estados Unidos informações sobre a localização das armas nucleares do país.

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