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Linha Direta

Presidente turco se posiciona como mediador da instabilidade política no Afeganistão

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Tayyip Erdogan quer conquistar aliados do Oriente e do Ocidente enquanto a Turquia recebe milhares de refugiados que fogem do regime Talibã. Governo de Ancara quer também expandir influência regional.

Soldados turcos fazem parte do contingente da OTAN responsável pela segurança no aeroporto de Cabul.
Soldados turcos fazem parte do contingente da OTAN responsável pela segurança no aeroporto de Cabul. © RFI / Sonia Ghezali
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

A Turquia já tem a maior população de refugiados do mundo. Agora, recebe também, diariamente, centenas de afegãos que enfrentam uma rota de trincheiras. O percurso de mais de 3 mil quilômetros cruza o Irã até atravessar a fronteira turca. Há relatos de pagamento de mil dólares por pessoa para contrabandistas especializados nesse transporte. Desde que os Estados Unidos anunciaram planos de se retirar do Afeganistão em 31 de agosto, o Talibã fez ganhos consideráveis de território pelo Afeganistão, assumindo grandes cidades do país, na última sexta-feira (13), e a capital, Cabul, no último domingo (15).

Nova crise migratória

Os imigrantes relatam violência dos guardas da fronteira e condições precárias nos abrigos localizados no trajeto. Na cidade de Van, no sudeste da Turquia, já há um cemitério com dezenas de refugiados não identificados que morreram na travessia. Um avião da companhia Turkish Airlines de repatriação de turcos que estavam no Afeganistão demorou, na segunda-feira (16), cinco horas para levantar voo no aeroporto de Cabul porque havia dezenas de afegãos na pista se debatendo para entrar numa aeronave.

Diálogo aberto com Talibã

É sabida a relação cordial que o governo de Ancara tem com o Talibã. Antes mesmo de o regime fundamentalista assumir o comando, o presidente turco já tinha sinalizado a intenção de se encontrar para tratar da missão militar turca que mantém o aeroporto de Cabul operando. Por isso, está descartada, por ora, qualquer possibilidade de combate. Até o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusgolu, afirmou que vê como positivas as mensagens dos Talibãs aos estrangeiros e diplomatas. Não podemos esquecer, claro, que a Turquia já abriga 4 milhões de refugiados. Ou seja, manter o Talibã no poder em meio a conflitos traz mais um problema humanitário também para o governo turco. O que também serve sempre, por outro lado, como moeda de negociação com o Ocidente, que não quer ter de lidar com essa questão. Diferentemente de 1996-2001, o Talibã chega agora ao poder muito mais institucionalizado.

Turquia quer ser potência local  

A crise no Afeganistão intensificou a competitividade entre Rússia e China; também entre Índia e Paquistão e aproximou mais a Turquia dos seus aliados locais, como o Catar. A invasão de mais da metade do Afeganistão pelo Talibã também ocorre num momento em que Turquia e Estados Unidos já negociavam para o governo de Tayyip Recep Erdogan continuar controlando o aeroporto internacional de Cabul. Como parte da missão da OTAN, a Turquia mantém cerca de 500 soldados lá desde 2015. Eles cumprem papel de suporte para que as viagens, principalmente de missões diplomáticas, continuem ocorrendo com mais segurança. Mesmo depois da saída total das tropas americanas do Afeganistão, a Turquia pede ao governo de Washington apoio financeiro e logístico. Com tudo isso, a Turquia mostra que quer ser reconhecida, além de potência regional, uma mediadora confiável e uma força estabilizadora.

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