Marcado por incertezas, 2020 é ano de freio nos gastos de Natal – menos para as crianças
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O ano de 2020, marcado por profundas incertezas causadas pela pandemia de coronavírus, vai culminar com festas de Natal mais enxutas. As restrições impostas pelas autoridades para a realização das festas e o orçamento apertado das famílias devem fazer os gastos caírem neste fim de ano atípico.
A situação inédita de crise econômica associada a um alto risco sanitário faz com que os analistas mantenham a cautela antes de se lançar em projeções de vendas. Na França, a diretora do Observatório do Consumo, Nathalie Damery, nota que as compras de Natal começaram com força antes mesmo da Black Friday – o que indica que os consumidores querem garantir os preços mais baixos, um comportamento incomum quando se trata da maior festa familiar do ano.
"Temos 40% de franceses que declaram estar com dificuldades para fazer compras, tanto por problemas que já existem, quanto ligados ao risco de ficarem desempregados devido à agravação da crise econômica”, afirma. "São pessoas que estão tomando um cuidado extremo com o orçamento familiar. A procura por promoções está ainda mais forte neste ano do que nos anteriores."
Em toda a Europa, os governos recomendam ou obrigam que as celebrações contem com poucos participantes. Na França, a orientação é de que não mais do que seis adultos estejam à mesa, uma situação que desagrada “profundamente” a aposentada Béatrice Gilet, 62 anos. Num ano normal, ela costuma receber cerca de 20 pessoas para o Natal na sua casa.
"Não ter os meus três filhos e os filhos deles me incomoda, francamente”, revela a francesa. "Eu compreendo perfeitamente a decisão deles, de não virem. Mas não posso negar que me irrita bastante”, protesta.
Presentes das crianças são a prioridade
Sem toda a família, o "evento do ano”, como define Béatrice, “não é a mesma coisa". A consultora Nathalie Damery aposta que apenas as crianças não devem notar diferença na quantidade de presentes sob o pinheiro.
"Ainda não temos dados oficiais, mas percebemos um desejo de não abalar a compra dos presentes para as crianças e manter o mesmo valor gasto habitualmente e, para compensar, limitar o valor gasto em presentes para os adultos e na ceia”, frisa a especialista. "De qualquer forma, o gasto com a ceia deve cair para a maioria das pessoas, já que a restrição de até seis adultos à mesa impõe um jantar menos festivo do que nos outros anos."
No caso da britânica Ruth Simpson, residente em Paris, a ceia não só será mais íntima como as despesas de viagens no fim do ano serão evitadas. Ela e o marido espanhol costuma visitar a família na Inglaterra ou na Espanha nesta época.
"Ficaremos em casa, só nós três. Mas queremos que seja especial mesmo assim, afinal é o primeiro Natal da nossa filha”, indica a consultora de vendas. "Vamos decorar a casa, fazer uma boa ceia. Queremos que seja memorável."
A celebração em petit comité desanima Ruth a comprar presentes para o resto da família, admite. "Talvez para as crianças sim, mas não para os adultos. Acho que vou enviar flores para a minha mãe, que ficará sozinha”, avalia. "Acabaremos economizando bastante este ano, o que nos convém, porque gostaríamos de trocar de apartamento em breve”, indica.
Compensar um ano difícil com um Natal quase normal
Já a aposentada Béatrice Gilet não abre mão de fazer um Natal o mais próximo possível do “normal”, apesar do contexto da pandemia. Para consumidores como ela, a data servirá de reconforto depois de um ano particularmente difícil.
"Certamente, as despesas alimentares serão menores. Mas teremos o prato de frutos do mar, salmão defumado, foie gras, como sempre. Afinal, é Natal!”, destaca Béatrice. "Faremos um jantar festivo e todos ganharão seus presentes, até os que não vierem. É uma satisfação pessoal, para mim, oferecer os presentes de Natal.”
Por falar em presentes, a pandemia e a generalização do home office impactam nas escolhas feitas pelos pais neste ano, observa a especialista em consumo Nathalie Damery.
"As indicações que temos sobre os presentes para as crianças mostram uma tendência por menos telas e brinquedos eletrônicos e mais livros, jogos físicos e de grupo. Ou seja, comprar coisas que ocupem as crianças além das telas, já que elas têm ficado bem mais tempo em casa”, aponta a consultora.
Além disso, a pandemia consolida as compras pela internet também para os presentes de Natal. Sem a certeza de que as lojas permanecerão abertas e com medo do risco sanitário representado pelas filas na frente das lojas físicas, cada vez mais consumidores optam pelas compras à distância.
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