Produtora cinematográfica brasileira dirige festival internacional na Itália
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A Isola del Cinema, o maior festival cinematográfico de verão em Roma é dirigido por uma brasileira: Joana de Freitas Ginori. Ela nasceu em Brasília, em 1985, e no mesmo ano veio morar em Roma. Na capital italiana graduou-se em artes e espetáculo na Università degli Studi Roma Tre. Cursou cinema também na França pelo programa Erasmus (European Region Action Scheme for the Mobility of University Students) para estudantes europeus. Joana encontrou a RFI em Roma.
Gina Marques, correspondente da RFI em Roma.
“Em Roma, eu abri a minha produtora que se chama Ulalà Film & Co. Eu produzo documentários curtas e também o objetivo é produzir longas para festivais de cinema. Também faço publicidade, e tudo que for bom para trabalhar, mas meu objetivo é cinematográfico”, disse.
O Festival Isola del Cinema é uma mostra de cinema a céu aberto no centro histórico da capital, que acontece há 28 anos na Ilha Tiberina, as margens do rio Tibre. Joana explicou o que faz como diretora artística deste grande evento. “Eu escolho toda a programação, convido os hóspedes, seleciono os filmes. O Festival dura 80 dias, de junho até 3 de setembro. Então, vocês podem imaginar a quantidade de artistas e de filmes que a gente convida e oferece para o público.”
Ilha Mundo
O Festival exibe filmes italianos e internacionais. Muitas obras não fazem parte da grande distribuição cinematográfica mundial. Para que o público possa conhecer estes longas-metragens foi criada a seção Isola Mondo. “Uma das coisas mais interessantes que eu cuido com maior atenção é a Isola Mondo. Nesta seção, trabalhamos em colaboração com embaixadas e institutos culturais, hospedando filmes internacionais que aqui não têm distribuição. Em 2022, temos alguns países convidados, entre eles Cuba, Japão e o Brasil. Não é a primeira vez que o Brasil participa. Este ano, tivemos a honra de convidar o diretor pernambucano Camilo Cavalcante. Ele veio estrear aqui em Roma, na Isola del Cinema, o último filme dele, King Kong en Assunciòn”.
Sobre o cinema brasileiro, Joana lamenta que poucos filmes são distribuídos na Europa. “Eu sempre tive uma grande atenção com o cinema sul-americano e brasileiro, só que meu ponto de vista é europeu, italiano. O que chega aqui do cinema brasileiro é muito pouco. A verdade é essa: nós não temos muitas ocasiões aqui para conhecer o cinema brasileiro novo. Tem interesse, mas não é muito alimentado. Por isso que a gente faz essas projeções. O que eu acho do cinema brasileiro? Eu acho que tem uma grande cultura do cinema, muitos jovens e muita energia. Só que esse não é um bom momento, eles são limitados”.
Candanga romana com pé em Paris
Joana pode ser definida como uma candanga romana com um pé em Paris. Na Itália, somente em junho deste ano foi aprovado o uso do sobrenome materno. Até então era admitido apenas o sobrenome paterno. No entanto, ela faz questão de manter o sobrenome da mãe, a brasileira Daniela de Freitas e o do pai, Giorgio Ginori.
“Devo muito aos meus pais. Minha mãe, uma mulher apaixonada pelas artes, estudou em escolas francesas e suíças, mas nunca perdeu a identidade brasileira. Na nossa casa era assim, música, filmes e livros sempre foram franceses e brasileiros. Ela sempre nos educou falando em português com orgulho de ser brasileira”.
Giorgio Ginori é produtor cinematográfico e fundador do Festival Isola del Cinema em 1995. Ele trabalhou como programador e diretor da Rai, a emissora pública italiana de televisão, durante os anos 1980 e 1990.
“Meu pai me transmitiu a paixão pelo cinema. Ele foi ator de teatro e desde criança tínhamos contato com o mundo artístico internacional. A sétima arte abre as janelas do mundo. Você viaja com a mente com o corpo permanecendo no mesmo lugar, por exemplo, aqui na Ilha Tiberina”.
Joana também sente uma forte ligação com a França. Sua irmã por parte de pai, a ítalo-francesa Anais Ginori, é escritora e jornalista correspondente em Paris do jornal italiano La Repubblica.
“Tenho três sobrinhos franceses, portanto a língua francesa é familiar para mim” contou sorrindo.
Em 1956 Roma e Paris assinaram um acordo de cidades-irmãs exclusivas. Este tratado representa uma exceção, pois as grandes metrópoles podem ter acordos, chamados de geminação, com outras cidades com as quais mantém políticas distintas e laços especiais de cooperação. O acordo estabelece que Roma tem e sempre terá só uma cidade-irmã, Paris. Da mesma maneira, a única irmã de Paris é Roma. O pacto resume-se em “Apenas Paris é digna de Roma, apenas Roma é digna de Paris”.
Para ressaltar esta irmandade, este ano Isola del Cinema e Paris Plage fizeram uma parceria. De 9 a 13 de julho o festival romano organizou a Nouvelle Vague nel Tevere, dedicando sua programação ao cinema francês. Ao mesmo tempo, Paris hospedou o evento Dolcevita- Sur-Seine, com filmes e mostras italianas nas margens do Sena.
“Foi maravilhoso. A nossa ideia é ampliar o evento criando parcerias com outras cidades europeias que se encontram a margem de rios. Quem sabe poderemos amplificar a outras cidades no mundo” afirmou a diretora artística.
Sobre os planos futuros, Joana ressaltou: “Eu gostaria de poder continuar fazendo esse trabalho. Crescer com a minha produtora e poder investir em projetos culturalmente interessantes. Não quero ter que me vender para o comércio. Esse é meu objetivo. Não sei se eu vou conseguir”, conclui.
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