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Brasil-Mundo

Mostra de cinema em Madri homenageia José Mojica Marins, o Zé do Caixão

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A mostra Novocine de cinema brasileiro, que acontece tradicionalmente em Madri, está na sua 17ª edição e este ano ganha uma versão especial. É a Novocine Cult, que ocorre entre os dias 8 e 11 de abril e homenageia o cineasta e ator José Mojica Marins, popularmente conhecido pelo nome do seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão. O evento será inaugurado com a exibição do documentário “Maldito – O estranho mundo de José Mojica Marins”, assinado pelos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti.

O jornalista Ivan Finotti, coautor de um documentário e da biografia do cineasta José Mojica Marins, ao lado do cartaz da mostra Novocine Cult, que será exibida na Embaixada do Brasil em Madri.
O jornalista Ivan Finotti, coautor de um documentário e da biografia do cineasta José Mojica Marins, ao lado do cartaz da mostra Novocine Cult, que será exibida na Embaixada do Brasil em Madri. © Ana Beatriz Farias
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Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

A mostra terá a apresentação de três dos mais importantes filmes de Mojica Marins. Codiretor do documentário e coautor da biografia do cineasta, Finotti conversou com a RFI sobre a experiência de registrar a vida e obra do artista que é conhecido como o pai do cinema de terror brasileiro.

Finotti começou sua carreira jornalística em 1991 no periódico Notícias Populares, “aquele que, se você espremesse, saía sangue”, recorda. O jornal já era o preferido de Mojica, que quando ía à redação para divulgar algum novo trabalho, era entrevistado pelo repórter. Foi no Notícias Populares que Finotti conheceu André Barcinski, “um grande jornalista de cultura” e que também era fã do cineasta paulista.

“O André me convidou: ‘vamos fazer uma biografia do José Mojica Marins’”, lembra Finotti. “Muita gente não entendia que o Mojica não era apenas um ator, não era apenas um personagem. Ele foi um grande diretor de cinema, inovador. Trabalhando com muito pouco, conseguiu fazer filmes de terror fantásticos nos anos 1960 e 1970. Então nós resolvemos contar essa história”, relata.

Para contá-la bem, os dois jornalistas fizeram cerca de 30 horas de entrevistas com Mojica. Eles ainda conversaram com outras 120 pessoas, porque o livro “Maldito” traça um panorama do cinema brasileiro a partir dos anos 1960, além de contar detalhes sobre a trajetória de Mojica.

Depois do extenso trabalho realizado para o lançamento da biografia, adaptar as descobertas acerca de Mojica para o audiovisual foi uma tarefa relativamente fácil. “A gente fez esse documentário usando as melhores histórias que a gente tinha levantado para o livro. Repetimos algumas entrevistas, desta vez filmando. E deu esse documentário muito bacana que foi, inclusive, convidado e premiado no Festival de Sundance de 2001”.

Cenas originais

Em pouco mais de 60 minutos, o documentário traz cenas originais das películas de Mojica, além de entrevistas com ele e com pessoas que o cercavam, permitindo que o público se aproxime de diferentes aspectos da realidade e da produção cinematográfica do criador paulista. As contradições humanas estão presentes no relato documental, assim como períodos difíceis para Mojica, como o da ditadura militar em que a obra dele foi censurada. Com o lançamento do filme, a riqueza de detalhes impressionou até grandes conhecedores do cinema.

“Quando o nosso filme ficou pronto, a gente mandou para o festival É Tudo Verdade, no ano 2000, dirigido pelo Amir Labaki. Ele estava no cinema há décadas e ficou muito impressionado porque com nosso documentário mostrava cenas do Mojica, das histórias que ele contava antes dos anos 1960, antes do Zé do Caixão. Ele tinha filmado dezenas de curtas-metragens (...) As pessoas não acreditavam muito no Mojica, que ele tinha feito tantos filmes – 40 longas. Ao ver o documentário, ele viu cenas disso”, explica o codiretor.

Finotti comenta que esse era o principal propósito do documentário: revelar ao público a carreira de Mojica e contribuir para que a sua obra ocupasse o lugar que lhe é devido. A ideia era mostrar que o cara era digno de respeito, era um cineasta e não um ‘verme’, como ele disse que se sentia no Brasil”.

Reconhecimento no exterior

A meta foi alcançada, segundo Finotti, por uma soma de fatores. “Além da biografia e do documentário, nos anos 1990, oito fitas VHS dele foram lançadas no mercado americano com o nome Coffin Joe. Ele passou a ser analisado por críticos do exterior, tanto da Europa como dos Estados Unidos, que nunca o haviam visto, e ficaram de cara. Até críticos e cineastas japoneses ficaram muito impressionados com o Mojica e ele passou a ser respeitado no mundo todo”, conta.

Foi também uma somatória de diferentes circunstâncias que permitiram a Finotti estar em Madri para apresentar “Maldito – O estranho mundo de José Mojica Marins” na abertura de uma mostra dedicada ao criador do Zé do Caixão.

“Eu fiquei feliz de saber que a Embaixada [do Brasil em Madri] já tinha o projeto de fazer uma mostra do Zé do Caixão e, por acaso, eu sou o correspondente europeu da Folha de S.Paulo e estou morando em Madri. Quando eu cheguei, há um ano e meio, conheci a Embaixada e o pessoal que faz essa mostra percebeu que eu era o biógrafo do Zé do Caixão. Foi uma coincidência incrível e estou muito feliz por estar aqui”, celebra o jornalista.

A mostra Novocine Cult marca o retorno da obra de Mojica à Espanha. Filho de um espanhol e de uma argentina que decidiram emigrar para o Brasil, ele já foi homenageado na Espanha em diferentes situações, como no festival de Sitges, em 1978, e na Semana de Cine Fantástico e de Terror de San Sebastián, em 2002.

Confira mais informações sobre a programação no site da mostra Novocine.

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