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Brasil-Mundo

Quatro diretores brasileiros falam sobre seus filmes na corrida ao Oscar 2022

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O sonho do Oscar, nesta época do ano, se torna uma corrida contra o tempo e contra o poder e a influência dos grandes nomes da indústria cinematográfica. A maior e mais badalada premiação do cinema mundial é conhecida por louvar a melhor produção, mas ajuda ter mais contatos, fazer o melhor lobby e, basicamente, ter mais recursos para investir nas caras campanhas para levar aos mais de 10 mil membros da Academia, pelo menos, a vontade de assistir os filmes.

Quatro diretores brasileiros falam sobre seus filmes
na corrida ao Oscar 2022.
Quatro diretores brasileiros falam sobre seus filmes na corrida ao Oscar 2022. © Fotomontagem divulgação
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Por Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

A RFI conversou com quatro diretores brasileiros que estão nesta jornada para, em um primeiro passo, estamparem seus nomes na seleta lista dos indicados ao Oscar. Eles já conquistaram o direito de serem elegíveis para a premiação, cumprindo uma série de pré-requisitos.

Deserto Particular

Aly Muritiba, concorre com Deserto Particular. A produção, que já levou o prêmio de público em Veneza, foi escolhida pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na Categoria de Filme Internacional e está na lista com produções de outros 92 países.

"Eu acho super importante que a Academia Brasileira tenha escolhido um filme que fala de amor, tolerância, inclusão, afeto, de carinho, para representar o Brasil em meio a um cenário político não conservador", diz Muritiba.

Muritiba esteve nos Estados Unidos por uma semana fazendo campanha. Pedro Fasanaro, que interpreta uma das personagens principais também. Mas, quando foram abertas as votações, no último dia 10 de dezembro, é de praxe parar o corpo a corpo. Aguardam agora a próxima lista, dos 15 pré-selecionados, que será divulgada na próxima semana, na terça-feira 21.

"O Brasil entra muito tarde na campanha, a gente anuncia o nosso filme muito tarde. Fomos anunciados em 15 de outubro, Titane (que representa a França), por exemplo, já estava em campanha há dois meses. A Mão de Deus (Itália) já estava em campanha há mais de um mês, fora que a gente tem pouca grana, pouco suporte governamental. Se a gente pensar no filme do Bong Joon Ho (Parasita), que a Coreia do Sul investiu milhões na campanha, estamos fazendo um trabalho de formiguinha", compara Muritiba.

A última vez que o Brasil conseguiu ficar entre os cinco indicados foi com Central do Brasil, em 1999. O Ano que meus Pais saíram de Férias foi o último filme brasileiro que entrou na lista dos 15 pré-selecionados, em 2008.

"Tem sido um grande aprendizado, mas eu não faço ideia se temos alguma chance. É muito mais poder econômico e influência na indústria do que qualidade. Não basta só ter um filme bom, é preciso ter muita grana, é preciso ter padrinhos, é melhor que se tenha uma grande distribuidora ou um grande canal de streaming. É lobby. No Brasil lobby é mal visto, nos Estados Unidos é jeito de viver, faz parte da cultura", comenta o diretor de Deserto Paricular.

Os diretores Aly Muritiba e Pedro Kos
Os diretores Aly Muritiba e Pedro Kos © Divulgação

Brasileiros (amigos) na corrida pelo Melhor Documentário

Na categoria de longas documentais são 138 concorrentes, dentre eles estão os brasileiros Luiz Bolognesi, com A Última Floresta, e Pedro Kos, com Rebel Hearts (Corações Rebeldes).

Bolognesi traz uma produção que foi feita em parceria com o líder indígena Davi Kopenawa, levando o espectador a conhecer os costumes de uma aldeia Yanomami, e então revela como o povo está em risco diante do desmonte das políticas indigenistas.

"Eu estou descobrindo como é esta campanha aqui. Ela é exatamente um corpo a corpo. São mais ou menos 600 votantes na área de documentário. Como a gente tá chegando de fora da indústria com o audiovisual brasileiro, você tem que conseguir fazer com que as pessoas prestem a atenção no seu filme. Então é um corpo a corpo de fazer várias pequenas sessões para poucas pessoas formadoras de opinião e torcer para que gostem do seu filme e passem no boca a boca. Porque quando eles gostam, quando é algo original, eles se comunicam entre eles, aí a campanha acontece", revela Bolognesi.

Luiz Bolognesi - Diretor A última Floresta
Luiz Bolognesi - Diretor A última Floresta © Divulgação

O cineasta destaca que A Última Floresta teve um orçamento de US$ 150 mil e que concorre com produções que custaram milhões.

"É um pouco uma campanha de Davi e Golias. Nós estamos aqui concorrendo com documentários fortíssimos americanos que têm orçamentos muito maiores que o nosso. Agora, é engraçado porque eu não me sinto contra o Golias, não sou inimigo do Golias porque os filmes americanos que estão na corrida do Oscar são maravilhosos, então eu não torço contra", complementa o diretor de A Última Floresta.

Tanto não é inimigo, que em uma das sessões de A Grande Floresta em Los Angeles, em que a RFI esteve presente, quem abriu e fechou o evento foi Pedro Kos. Kos está nesta mesma lista, porém com a produção americana Rebel Hearts, um documentário sobre freiras que enfrentaram o patriarcado da Igreja Católica e lutaram pela igualdade de gênero na década de 1960.

Kos mora nos Estados Unidos desde a adolescência, mas nos garante que, se levar a estatueta, vai dizer que o Oscar é brasileiro.

"Óbvio! Eu sou 100% brasileiro, coração totalmente brasileiro. Nunca vou deixar de ser, mas acho que tem uma longa caminhada pela frente, é tão difícil da gente prever. Tento levar com expectativas bem realistas e o que acontecer vai ser maravilhoso. Se não acontecer, eu pude fazer dois filmes que mudaram a minha vida. Olha que incrivel", revela Kos.

O diretor aparece também na lista dos 82 Curtas Documentais qualificados, com Lead Me Home, também todo produzido nos Estados Unidos, sobre a dura realidade dos sem-teto no país. E, apesar dessa ser a primeira campanha do Oscar como diretor, já se envolveu nesta jornada como editor de Lixo Extraordinário (indicado ao Oscar em 2011) e The Square (indicado em 2014), e como roteirista de Privacidade Hackeada, que ficou na lista dos 15 pré-selecionados em 2020.  A vantagem de Kos é que tanto Rebel Hearts quanto Lead me Home foram comprados por plataformas de streaming (Discovery + e Netflix) como produções originais, então são elas que encabeçam e pagam as campanhas.

"São as plataformas que montam as campanhas de premiações, de lançamentos online, nos cinemas, nos festivais, as conversas com o público. Fizemos muitos eventos em Nova York, San Francisco, aqui em Los Angeles, às vezes em Londres. Fui há pouco para o México, então não parei de viajar nos últimos tempos. Mas o que eu sempre destaco é que o melhor de estar nessas plataformas é a quantidade de gente que tem acesso ao nosso trabalho", diz o cineasta.

Bob Cuspe na festa?

Cesar Cabral tem Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente na lista dos 26 longas de animação que concorrem à estatueta. Diferentemente das categorias de Documentários e Filme Internacional, para longa de animação a primeira seleção sai apenas no dia 8 de fevereiro, direto com a lista dos 5 indicados ao Oscar, o que dá um pouco mais de tempo para a campanha.

Cesar Cabral - Diretor Bob Cuspe
Cesar Cabral - Diretor Bob Cuspe © Divulgação

"A gente está armando uma campanha dentro da nossa realidade, mas a ideia é fazer uma sessão talvez com Q&A (seguida de bate-papo) em Los Angeles e Nova York, em janeiro, porque o importante é levar as pessoas para sala para ver o filme. Você tem que pegar os votantes e mostrar que o filme existe. E brigar dentro de um universo difícil. A gente está tentando uma vaga onde estão a Disney, a Pixar e tantos outros grandes estúdios", destaca Cabral.

Ao contrário da maioria das produções animadas que concorrem ao Oscar, a trama do punk underground Bob Cuspe não é infantil. O filme baseado nas histórias do cartunista Angeli foi todo feito em stop-motion e traz um mergulho na mente do artista, o que faz com que ele seja universal e dialogue de maneira peculiar com as mentes criativas, o que pode ajudar na identificação na hora do voto. A equipe conseguiu patrocínio de uma empresa privada para dar início à campanha, colocar o filme em cartaz (acaba de entrar nos cinemas de Los Angeles), mas busca recursos para tentar chegar com mais peso à Hollywood.

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