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A Semana na Imprensa

Golpes de Estado em países francófonos tiram Paris de campo no jogo político africano

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Depois de Mali, Guiné, Burkina Faso e Níger, o Gabão é o quinto país africano de língua francesa a ser abalado por um golpe de Estado desde 2020. Esta semana, a revista L’Express analisa a queda da influência da França no continente, enquanto a Le Point aborda consequências migratórias para a Europa, em seu editorial.

Apoiadores do Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger em frente ao Níger e à base aérea francesa em Niamey, em setembro de 2023, enquanto manifestantes se reúnem para exigir a saída do exército francês do Níger.
Apoiadores do Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger em frente ao Níger e à base aérea francesa em Niamey, em setembro de 2023, enquanto manifestantes se reúnem para exigir a saída do exército francês do Níger. © AFP
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A repercussão dos recentes golpes de Estado na África francófona, com as juntas militares demandando uma após a outra a saída dos soldados franceses de seus territórios em estímulo a rejeição do antigo legado colonial, é a capa da L’Express.

Nesta quinta-feira (7), no Gabão, a junta militar nomeou o novo primeiro-ministro, Raymond Ndong Sima, crítico do presidente Ali Bongo. A nomeação foi assinada pelo presidente da transição, o general Brice Oligui Nguema, que tomou posse no início desta semana. Não se sabe, por enquanto, quanto tempo durará esta transição, mas o general promete "eleições livres" no fim deste período, que segue indeterminado.

O Gabão passa então a fazer parte da lista de países que já foram colônias francesas a passar por processos de golpe de Estado na África nos últimos três anos.

Segundo a revista, Paris também não foi muito empática no caso mais recente, e por "uma questão de princípio, a França condenou o golpe, sem esconder suas dúvidas sobre a imparcialidade da votação, após as já contestadas eleições de 2009 e 2016".

"Mesmo que os laços tenham se enfraquecido, o Palácio do Eliseu ainda se encontra em uma posição desconfortável, após a visita de Emmanuel Macron a Libreville em março, interpretada como apoio ao autocrata", relata a reportagem de capa.

A publicação reforça que o simbolismo do ato mais recente é forte, já que o Gabão é há muito tempo o emblema da chamada "Françafrique". Mas o interesse econômico e geopolítico de Paris por esse Estado petrolífero, que já foi uma "bomba financeira", tem diminuído constantemente desde a década de 1990.

Por outro lado, o golpe é mais severo no Sahel, onde a França voltou a se engajar nos últimos anos. Depois de ser expulsa do Mali e de Burkina Faso, seus 1,5 mil soldados agora são 'persona non grata' no Níger.

Em Niamey, os golpistas, que denunciaram os acordos militares assinados entre a França e o presidente Bazoum (derrubado em 26 de julho), estão exigindo a saída das tropas e do embaixador francês. Incentivados pela junta, milhares de manifestantes exigiram o fechamento da principal base francesa perto do aeroporto de Niamey em 2 de setembro.

Um apoiador do Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger segura um cartaz contra Emanuem Macron, “não queremos mais você em nosso país", enquanto os manifestantes se reúnem ao lado da base aérea nigerina e francesa em Niamey, em 3 de setembro de 2023.
Um apoiador do Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger segura um cartaz contra Emanuem Macron, “não queremos mais você em nosso país", enquanto os manifestantes se reúnem ao lado da base aérea nigerina e francesa em Niamey, em 3 de setembro de 2023. AFP - -

A reportagem da L'Express critica que a França, apesar de não ser diretamente responsável por esses golpes, deveria ter se distanciado mais de vários líderes autoritários e acusa que, "ao desempenhar o papel de policial, a França concentrou a atenção" se tornando uma espécie de "bode expiatório conveniente".

Isso permitiu, avalia a revista, que os líderes e as elites evitassem refletir sobre suas falhas, mais de 60 anos após a independência. Mas as atitudes de Paris não ajudaram em nada, analisa o texto de oito páginas, que inclui uma entrevista com Lionel Zinsou, ex-primeiro-ministro do Benin. "O sentimento antifrancês não resume a África", disse ele.

Surfando na temática, a semanal Le Point aponta em seu editorial de opinião que os golpes de Estado nas ex-colônias francesas podem eclodir com a "explosão da bomba migratória africana".

"Se não cuidarmos da África, ela cuidará de nós. Não há mais dúvidas de que ela agora representa um risco sistêmico para o nosso velho continente", polemiza o editorial.

O texto questiona se a "revolução palaciana no Gabão é um novo estágio no processo de eliminação da França" ou apenas uma mudança de regime. E lança um alerta para o continente europeu, que estaria "ameaçado por uma enorme bomba-relógio migratória".

O editorial da Le Point traz dados de um relatório do Senado francês, segundo o qual a população do continente africano deverá aumentar drasticamente até 2050, chegando a uma estimativa baixa de 1,9 bilhão. 

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