Courrier International nota que Bolsonaro está com medo de ser preso

A revista semanal Courrier International destaca o segundo depoimento prestado por Jair Bolsonaro à Polícia Federal em apenas um mês. A publicação francesa traz uma síntese das análises publicadas na imprensa brasileira depois das alegações do ex-presidente de extrema direita na última quarta-feira (26).

O ex-presidente Jair Bolsonaro é visado em várias investigações. © Consolidated News Photos - Ron Sachs - CNP

Após o escândalo das jóias oferecidas pelo governo saudita, e que entraram ilegalmente no Brasil, recorda a Courrier International, Bolsonaro foi interrogado por seu papel nos distúrbios de 8 de janeiro em Brasília. 

Naquelas alturas, ele já estava na Flórida, mas foi ouvido por ter publicado um vídeo nas redes sociais, dois dias depois da invasão dos prédios públicos por seus apoiadores, no qual contestou a vitória do sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, e criticou o sistema de voto eletrônico, explica a resenha. 

A divulgação desta "teoria da conspiração" levou a especulações "de que o ex-presidente teria estimulado ataques ao Estado de Direito", diz o texto, o que levou o Supremo Tribunal Federal a incluí-lo no inquérito sobre os atos de vandalismo em Brasília.

Perante os agentes da PF, Bolsonaro alegou que a postagem do vídeo foi publicada "por equívoco". Como pretexto, ele alegou que estaria se recuperando de um "tratamento com morfina" devido a uma obstrução intestinal. 

A Courrier International evoca um editorial da Veja. De acordo com a revista, Bolsonaro "quer se eximir de responsabilidade [nos distúrbios] alegando que não estava em pleno gozo de suas faculdades mentais".

Não há novidade no fato que o ex-presidente sempre atacou o sistema eleitoral brasileiro. O fato novo é que pela primeira vez ele manifesta o temor de ser preso, corrobora a revista francesa.

Bolsonaro tem várias razões para se preocupar, na avaliação da Courrier International. O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no momento dos distúrbios, até agora não envolveu o chefe diretamente nos incidentes, mas está preso e pode mudar de ideia.  

O líder da extrema direita brasileira também teme se tornar o principal alvo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) encarregada de investigar a invasão às sedes dos Três Poderes. A CPMI pode não só ajudar a evidenciar o inegável papel de Jair Bolsonaro no desenrolar dos acontecimentos que levaram aos motins de 8 de janeiro, escreve a revista, como também recolher novos elementos que servirão para apurar as necessárias responsabilidades penais de Bolsonaro e aliados, conclui o texto.