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“Foi sem querer”, disse Bolsonaro à PF sobre vídeo contra resultado das urnas

Ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro prestou depoimento nesta quarta-feira (26) na Polícia Federal. Ele foi ouvido por ter compartilhado conteúdos em suas redes sociais no momento em que milhares de seus apoiadores eram levados à carceragem após o ataque à praça dos Três Poderes, em janeiro passado. A defesa alega que o ex-presidente estava sob efeito de remédios quando postou as imagens e que publicação teria sido acidental.

Jair Bolsonaro foi ouvido por ter postado imagens que podem ser vistas como uma demonstração da ligação do ex-presidente com grupos golpistas.
Jair Bolsonaro foi ouvido por ter postado imagens que podem ser vistas como uma demonstração da ligação do ex-presidente com grupos golpistas. AP - Bruna Prado
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro negou, em depoimento à Polícia Federal, que tenha apoiado atos golpistas ao compartilhar um vídeo que questionava o sistema eleitoral. O vídeo foi postado nas redes sociais do presidente dia 10 de janeiro, dois dias após a invasão dos prédios oficiais da Esplanada por apoiadores de Bolsonaro.

"Sobre esse post, tanto a postagem foi acidental que ele não fez nenhum comentário em cima desse post e apagou logo na sequência. O presidente, quando saiu de férias, ele tratou a eleição como página virada. Então em momento algum você vai encontrar alguma declaração dele declinando que a eleição tenha sido fraudada. Em momento algum isso é falado”, afirmou Paulo Cunha Bueno, um dos advogados de defesa do ex-presidente, que falou com a imprensa após o depoimento na PF.

Bolsonaro chegou perto de 8h50 e deixou o local às 11h20. Ele foi ouvido por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no inquérito que investiga os atos golpistas. O vídeo, que o ex-presidente publicou e depois apagou, demonstraria uma ligação dele com os golpistas e seria uma prova de apoio e incentivo aos vândalos que quebraram salas, objetos e vitrais no Palácio do Planalto, STF e Congresso Nacional.

Bolsonaro sob efeito de remédios

Ao lado do advogado estava também o ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da gestão Bolsonaro, Fabio Wajngarten, que rapidamente falou com os jornalistas. Ao ser perguntado se teria sido Carlos Bolsonaro quem compartilhou o vídeo, o assessor do ex-presidente negou.

"Não foi (o Carlos Bolsonaro). Não foi. O metadado do Meta, com o perdão da repetição, indicará isso”, afirmou Wangarten, mostrando que a defesa do ex-presidente vai focar nessa linha, de que foi o próprio presidente quem fez a publicação, mas sem querer. As informações são de que, no depoimento, ele chegou a afirmar que queria salvar o vídeo para ver depois e, sem a intenção, acabou compartilhando em suas redes sociais.

A defesa do ex-presidente também usa a viagem dele aos Estados Unidos para tentar afastar as acusações de que ele teria apoiado os acampamentos que se ergueram em várias cidades brasileiras por bolsonaristas que pediam golpe por não aceitarem a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Embora Bolsonaro tenha abertamente levantado dúvidas sobre o sistema eleitoral enquanto esteve na presidência e invocado, também em diversas situações, a atuação das Forças Armadas, seus assessores e advogados dizem que ele acolheu a derrota.

"O presidente repudiou na noite do 8 todos os acontecimentos lamentáveis que aconteceram aqui em Brasília. Finda a eleição, o presidente virou a página política dele. O presidente, vocês recordam, enfrentou um processo de erisipela severo. O presidente não recebeu pessoas no palácio. O presidente não articulou politicamente. O presidente se fechou e no 30 ele viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu até o fim de março, se não me falha as datas", disse Wajngarten.

A estratégia da defesa também inclui relacionar a postagem do vídeo à internação do ex-presidente e afirmar que ele estaria sob o efeito de remédios. "O presidente estava internado em um hospital em Orlando, justamente do período entre o dia 8 e 10. Ele teve uma crise de obstrução intestinal. Isso está documentado. Foi submetido a tratamento com morfina, ficou hospitalizado e só recebeu alta na tarde do dia 10. Essa postagem foi feita de forma equivocada, tanto que pouco tempo depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente retirou essa postagem", afirmou o advogado Cunha Bueno.

O ex-ministro de Bolsonaro também afirmou que ele não sabia direito o que estava fazendo, quando compartilhou o material que questionava as eleições. "Exatamente isso (que estava sob efeito de remédios). Quando alertado, quando tomou conhecimento da postagem, sequer o presidente sabia, havia percebido que havia sido postado referido conteúdo. Assim que alertado, apagou o vídeo", completou Wajngarten.

Essa é a segunda vez que Bolsonaro presta depoimento à Polícia Federal desde que voltou dos Estados Unidos. No início do mês ele falou sobre o caso das joias recebidas da Arábia Saudita. As apurações sobre os atos golpistas avançam num momento de tensão no Congresso, onde será instalada a chamada CPI do Golpe.

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