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A Semana na Imprensa

Consumo consciente ou falta de grana? Natal com presentes de segunda mão é tendência na França

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Este ano, deve haver muitos presentes de segunda mão debaixo da árvore de Natal dos franceses. Este mercado em rápido crescimento está se beneficiando das dificuldades econômicas dos compradores, mas também do desejo de consumir com mais responsabilidade. A reportagem da revista M, do jornal Le Monde, conversou com consumidores para entender suas motivações. “Há alguns anos, isso seria inconcebível! Teria tido muito medo de passar por pão duro”, confidencia um comprador convertido à tendência. 

Pinheiro decorado no mercado de Natal em Estrasburgo, França (Foto ilustrativa).
Pinheiro decorado no mercado de Natal em Estrasburgo, França (Foto ilustrativa). AFP/Patrick Hertzog
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Na loja de artigos de segunda mão La Petite Rockette, cerca de 20 pessoas aguardavam sua vez para serem atendidos no caixa. Jovens, pais, idosos... todos de olho nas prateleiras desta ‘caverna de Ali Babá’ de produtos usados. Para este bazar em Paris, os negócios estão indo maravilhosamente bem às vésperas do Natal. Com a sacola de compras cheia de jogos e roupas, Myriam, uma jovem mãe, vai mimar o filho com os achados do dia.

Seu orçamento de Natal reduzido a motivou a comprar alguns presentes de segunda mão. Ela examina a prateleira de brinquedos. “Você nunca sabe o que vai encontrar. Hoje encontrei tudo o que precisava, quase como se estivesse no supermercado". No primeiro sábado de dezembro, a loja de usados ​​gerou uma receita de € 7 mil (cerca de R$ 44.695). Um recorde para La Petite Rockette, um sinal de um Natal fecundo para o setor.

Vendas online de usados

As vendas de usados também estão explodindo na internet. Desde o final de outubro, o Leboncoin – maior site francês de compra e venda entre pessoas físicas - registrou um aumento sem precedentes de 40% no número de anúncios e 50% da audiência na seção de jogos e brinquedos, em relação ao ano anterior. As vendas de iPhones, Playstations e tablets recondicionados, o Santo Graal da maioria dos adolescentes, estão disparando.

Desde novembro, a Back Market, gigante francesa de eletrônicos recondicionados, notou um aumento de 35% em suas vendas de smartphones e 240% de seus consoles de jogos, em comparação com o Natal de 2020. Até grandes marcas como Fnac, Ikea ou Decathlon começaram a comercializar produtos de segunda mão.

Quase metade dos franceses (47%) planeja oferecer itens reutilisados no Natal, em comparação com menos de 1 em cada 5 no ano passado, de acordo com um estudo da Ipsos para o site de compras Rakuten, realizado em novembro em um universo de mil pessoas.

O Natal deixou de ser exceção para este tipo de compra

Se a oportunidade demorou a se instalar debaixo das árvores de Natal, é principalmente pela imagem desses produtos e de quem os oferecia. Benoît, 25, engenheiro ambiental de Paris, descobriu esse mercado durante o confinamento, vendendo roupas e objetos pela internet. Pela primeira vez, no dia 25 de dezembro, ele optou por oferecer apenas presentes já utilizados, oriundos do Vinted e do Leboncoin.

“Há alguns anos, isso seria inconcebível! Teria tido muito medo de passar por pão duro”, confidencia o comprador convertido à tendência. Em algumas famílias, não oferecer um objeto novo significa romper com um padrão, uma tradição. Gaëlle, arquiteta parisiense de 29 anos, também não está pronta para assumir: “Eu faço isso só para crianças. Eu sei que se eu comprar de segunda mão para minha mãe não vai funcionar. Ela não entenderia", disse à revista M

O sucesso desse mercado foi acelerado pelo contexto econômico. A pandemia, responsável por muitas perdas de empregos, deixou parte da população vulnerável. Muitas famílias com orçamentos já limitados estão sofrendo com a inflação: os preços ao consumidor aumentaram 2,8% em um ano em novembro (em comparação com 0,2% em novembro de 2020), de acordo com o INSEE.

Os presentes reaproveitados estão, portanto, emergindo como uma alternativa real para agradar os entes queridos a um custo menor. “Nos últimos anos, a segunda mão se tornou comum. Antes, no Natal era diferente, mas desde o ano passado os franceses entenderam as vantagens de comprar em segunda mão também nesta época do ano ", revelou Antoine Jouteau, CEO do site Leboncoin.

Consumo consciente

Além do aspecto financeiro, essa mudança também pode ser explicada por questões éticas e ecológicas. A rejeição da sociedade de consumo, o desejo de trazer os objetos de volta à vida, as crenças ecológicas; todos esses pensamentos amadureceram na opinião pública francesa desde o início da pandemia.

"Os sucessivos lockdowns levaram as pessoas a questionar a natureza essencial de seu consumo", explica Julien Bouillé, professor-pesquisador em comportamento do consumidor na Universidade de Rennes II. "Muitos mudaram de hábito ao longo do ano e isso está se concretizando no Natal, principalmente por meio das compras de objetos já usados".

Mas esse processo pode custar tempo e energia. “Pesquisar e selecionar até encontrar o produto mais parecido com o que você deseja é complicado”, observa Benoît. "Eu levaria dois segundos na Amazon", enquanto de dez contatos com vendedores no Vinted ou Leboncoin, apenas um ou dois são bem-sucedidos.

Para ele, essas dezenas de noites passadas em frente ao computador folheando os anúncios são parte integrante do presente. Eles até agregam valor a ele. “Isso mostra que fizemos um esforço real, que estávamos empenhados em achar um bom presente", finaliza.

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