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Um pulo em Paris

Franceses são bombardeados por campanhas para diminuir o consumo e preservar o planeta

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A Black Friday chegou à França há seis anos, mas é cada vez mais contestada, principalmente por causa das consequências do excesso de consumo para o aquecimento global. Ativistas fizeram protestos pelo segundo dia consecutivo contra a americana Amazon, desta vez diante da sede da empresa na região parisiense.

Os "Repairs-Cafés", oficinas colaborativas de consertos de eletrodomésticos, pipocaram em várias cidades francesas.
Os "Repairs-Cafés", oficinas colaborativas de consertos de eletrodomésticos, pipocaram em várias cidades francesas. Flickr/Karen Blackeman
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O diretor da ONG Greenpeace França, Jean-François Julliard, disse que, hoje, a Amazon produz, com suas entregas, um volume de emissões de gases do efeito estufa que é comparável ao de um país. Durante a manifestação, os militantes destacaram que não era uma questão de atacar a empresa por ela ser americana, mas pelo fato de que a estratégia comercial declarada pela Amazon é vender cada vez mais produtos novos, por preços mais baixos, o que não é bom para o planeta.

Neste ano, a Black Friday foi bem mais contestada do que nas edições anteriores. A ministra da Transição Ecológica, Elisabeth Borne, foi à televisão criticar o "consumo frenético" dos franceses. Ela lembrou que no ano passado, no sábado seguinte à Black Friday, as compras geraram 1 milhão de entregas apenas em Paris. De acordo com a ministra, "não dá para lutar contra as emissões de gases do efeito estufa e incentivar o consumo desenfreado".

O Parlamento francês também votou uma emenda nos últimos dias que propõe integrar a publicidade da Black Friday às "práticas comerciais agressivas", puníveis com dois anos de prisão e multa de € 300.000. Esta emenda ainda passará por outras rodadas de votação, mas tem fortes chances de ser adotada.

Um relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas (Insee) revelou que uma família francesa consome em média 7% a mais que as vizinhas da União Europeia. Os preços são em média mais altos na França, mas isso não inibe o apetite de consumo dos franceses. Eles gastam muito com celular, serviços de internet, com carros e nem tanto assim com comida, apesar da tradição gastronômica do país. Em compensação, os franceses são econômicos nas despesas com roupas e calçados - gastam menos para se vestir do que os britânicos e italianos.

Governo abraça campanhas para compras de segunda mão

Nesta semana, o governo lançou o site oficial "Vida nova aos objetos", com dicas e tutoriais sobre compartilhamento de produtos com vizinhos, diagnóstico de defeitos de carros, eletrodomésticos, consertos de toda espécie e reaproveitamento de roupas, utensílios e móveis.

Alguns empresários e ONGs estão propondo a adoção de um incentivo fiscal de 15%, na forma de crédito no imposto de renda, para quem comprar todo tipo de produto reciclado: roupa, eletrodomésticos, móveis. Muitos especialistas defendem o sistema de incentivos para convencer o consumidor sobre os benefícios de comprar mercadorias de segunda mão. A medida tem a vantagem de aumentar o poder aquisitivo, preservando o meio ambiente.

A nova tendência adotada por alguma marcas de fast fashion, que produzem várias coleções por ano, é oferecer, nas próprias lojas, os serviços de conserto, reciclagem e até revenda de peças usadas – o chamado upcycling. O cliente traz de casa uma blusa que comprou há dois anos e costura uma parte que rasgou de tanto usar. Ou leva aquela calça jeans que não está mais tão na moda, mas que pode ganhar uma cara nova se for customizada. Ainda pode pegar uma peça velha demais e transformá-la em outra completamente diferente: chega com um casaco e sai com uma bolsa. Tudo isso sem gastar quase nada. Algumas marcas oferecem descontos na apresentação de peças usadas.

Os franceses estão mais sensíveis à urgência climática. As advertências da ONU começam a surtir efeito de maneira mais ampla na população. Para manter viva a esperança de limitar o aquecimento global, conforme o previsto no Acordo de Paris, seria necessário reduzir as emissões de gases à metade entre 2018 e 2030.

Na França, o movimento dos catastrofistas climáticos já convenceu muitas famílias a educar os filhos pequenos de maneira a sobreviverem no futuro, daqui a 20, 30 ou 50 anos, num mundo caótico, afetado pelas mudanças climáticas. Tem gente oferecendo cursos de sobrevivência na floresta, caso as prateleiras do comércio fiquem vazias num colapso de abastecimento, outros ensinando as crianças a se alimentarem de plantas selvagens. A imprensa publica testemunhos de famílias que adotaram hábitos cotidianos de autonomia total de supermercado, lojas, posto de gasolina. Existem até relatos de carros circulando na França à base de óleo de fritura, em vez de diesel. São experiências inacreditáveis em nome da autonomia da sociedade de consumo.

Manifestantes protestam contra o consumo excessivo na entrada da sede francesa da Amazon, na região parisiense.
Manifestantes protestam contra o consumo excessivo na entrada da sede francesa da Amazon, na região parisiense. ATTAC FRANCE/STOP AMAZON/ via REUTERS

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