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A Semana na Imprensa

Franceses que acreditam em fake news defendem forma de resistência, diz revista

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O que pensam os franceses que acreditam em fake news e teorias do complô? A revista L'Obs quis saber mais sobre esse fenômeno que se propaga como nunca antes visto na sociedade francesa e encomendou uma pesquisa sobre o tema ao instituto Ipsos.

A revista L'OBS destaca em sua edição semanal uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos para compreender de que maneira franceses jovens e idodos acabam se convencendo de teorias do complô.
A revista L'OBS destaca em sua edição semanal uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos para compreender de que maneira franceses jovens e idodos acabam se convencendo de teorias do complô. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas
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Os entrevistados foram divididos em dois grupos por faixa etária – 18 a 34 anos e mais de 35 anos –, provenientes de todas as regiões do país e de categorias socioprofissionais médias e populares. Eles foram questionados pelos pesquisadores sobre os seguintes assuntos: estado do país, mídia, fontes de informação, verdades, mentiras, teorias do complô, confiança e desconfiança nas instituições.

Os resultados da pesquisa são edificantes: os homens e mulheres ouvidos desconfiam de tudo e de todos e acreditam em "um poder oculto do dinheiro". Não confiam em familiares ou colegas de trabalho. "Tudo depende de onde se informam", afirmam.

Uma profunda desconfiança emerge em relação a qualquer coisa que pareça poderosa, dominante ou distante (o FMI, os governantes e lobbies, por exemplo), resume a L'Obs. Industriais e grupos farmacêuticos, principalmente nesses tempos de Covid-19, são acusados de agir "apenas por ganância".

A maioria revela uma grande desilusão e um desamparo diante de uma sociedade na qual supõem que tudo é tramado por bilionários que comandam a imprensa, a indústria e as multinacionais cotadas na bolsa de valores de Paris.

Para os entrevistados, diante desses poderes em ação, duvidar do discurso oficial é uma forma de resistência, de dizer que não se deixam enganar, assinala a revista em seu editorial. Eles acreditam que exercitam seu espírito crítico e, com isso, recuperam uma certa liberdade de pensamento e ação. A maioria considera "uma infâmia" ser apontado como conspiracionista, como alguém que se deixa levar por fake news.

Durante as sessões de entrevista organizadas pelo instituto Ipsos, Julien, um técnico ambiental, assumiu baixinho: "Para mim, ser um conspirador é apenas ter pensamento crítico e não seguir os outros como um cordeirinho".

A chefe de cozinha Isabelle apontou contradições na imprensa. "Eles falam qualquer coisa", afirmou. “Os jornalistas são controlados”, acrescentou Coralie, secretária-executiva. Quando o entrevistador do Ipsos pergunta por quem, os participantes do grupo de 18 a 34 anos apontam dois canais de TV de informação contínua – BFMTV e CNews, de fato controlados por milionários (Patrick Drahi e Vincent Bolloré, respectivamente). Sophie, uma comissária de bordo, comenta: "Essas emissoras são tão vendidas ao governo que dá vontade de rir".

Mais transparência nos processos de decisão

O técnico ambiental Julien conta que aprecia a informação veiculada pelo canal de TV Rússia Today, mesmo sabendo que a emissora "é financiada por Vladimir Putin", presidente da Rússia. A maioria afirma ler ou ouvir jornais e rádios de linha editorial de esquerda, como a rádio pública France Inter, o site Mediapart e o jornal Le Canard Enchainé.

A L'Obs convidou o historiador Pierre Rosanvallon, apontado pela revista como "um dos melhores observadores da democracia", para analisar os resultados da pesquisa. Ele afirma que é "absolutamente necessário reafirmar a possibilidade de os franceses viverem juntos tendo profundas diferenças de valores”, e "evitar posturas que apenas fomentam as teorias do complô, reforçando o sentimento do 'eles contra nós'".

O historiador recomenda mais transparência nos processos de tomada de decisão, por meio da deliberação coletiva, ou seja, incluindo os cidadãos no exercício cotidiano da ação política, única forma, segundo Rosanvallon, de tecer novamente o fio da confiança coletiva no país.

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