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Violências sexuais cometidas pelo Hamas em ataque a Israel "são uma certeza", diz investigadora

Dois meses depois dos ataques do Hamas a Israel, os crimes sexuais cometidos pelos terroristas em 7 de outubro começam a ser expostos. Embora as imagens filmadas pelo movimento islâmico palestino e divulgadas logo após o ataque mostrassem mulheres nuas sendo arrastadas e machucadas, somente agora a questão começa a ser investigada e considerada pela opinião pública internacional. A demora gerou crítica de Israel às organizações internacionais e contra o movimento feminista.  

Israelenses se abraçam ao lado de fotos de reféns e mortos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro, no terreno onde foi o festival Nova, no sul de Israel, em 28 de novembro de 2023.
Israelenses se abraçam ao lado de fotos de reféns e mortos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro, no terreno onde foi o festival Nova, no sul de Israel, em 28 de novembro de 2023. AP - Ohad Zwigenberg
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Para Céline Bardet, advogada e investigadora criminal internacional, fundadora e diretora da ONG We are Not Weapons of War (Não somos armas de guerra, WWWoW), em um primeiro momento, a questão das violências sexuais não foi levada em conta porque o governo de Israel tinha outras prioridades como a guerra e os reféns a serem libertados. 

Confrontadas com o silêncio das organizações internacionais, que demoraram a reagir aos relatos das vítimas e testemunhas, investigadores e feministas israelenses tiveram que agir sem apoio. 

"Falei com essas organizações e realmente sentimos o quanto elas estão se sentindo sozinhas", disse à RFI Céline Bardet.

As organizações feministas internacionais também são criticadas por não terem condenado os crimes sexuais do Hamas. A ONU Mulheres, por exemplo, levou 52 dias para reagir às denúncias. 

Para mostrar apoio, grupos feministas chegaram a protestar no último fim de semana em países como Austrália e França. 

"Barbárie"

Ela lembra que o que aconteceu nos kibutzim de Sdérot e Nir Oz, onde esteve para recolher indícios, foi uma "barbárie". "A gente sabe que quando tem essa barbárie, tem violência sexual", afirmou. "Em relação ao 7 de outubro, a violência sexual, na verdade, é uma certeza", completou. 

Na segunda-feira (4) durante uma conferência na sede da ONU, em Nova York, a polícia israelense apresentou elementos da sua investigação, que indicam que muitas mulheres foram estupradas, algumas de maneira repetida, por diferentes homens. Socorristas que estiveram nos kibutzim logo após os ataques dizem que encontraram corpos de mulheres seminus. Em alguns casos, foram encontrados objetos pontiagudos dentro dos órgãos sexuais. 

Mas a investigação está apenas começando e deve ser longa e delicada, "até porque as vítimas não necessariamente falam de imediato", disse Céline Badet. Além disso, a maioria das vítimas foi morta.

"Israel também deve aceitar a ajuda de uma investigação objetiva, internacional, seja qual for a forma que esta possa assumir. Nós estamos propondo isso e é importante haver essa investigação para podermos documentá-la, para não ficarmos presos a denúncias sobre coisas que saem por toda parte. Precisamos fazer uma documentação meticulosa e rigorosa do que aconteceu", disse. 

Hoje, como lembra a advogada, as testemunhas falam principalmente com a imprensa, como a sobrevivente do Festival Nova que relatou ao diário Times o estupro coletivo de outra jovem por vários homens, posteriormente morta com um tiro.

Para Céline Badet, ainda que as investigações estejam apenas começando, alguns pontos já podem ser reconhecidos. "Podemos estabelecer que este ataque foi bárbaro. Podemos constatar que houve violência sexual e, muita atenção! Nesta violência sexual, há estupros, mas também há mulheres nuas expostas, sendo humilhadas, atirando em seus órgãos genitais", diz. 

Também foram relatadas violências sexuais em homens, como mutilação de órgãos genitais. 

Premeditação

Segundo Badet, é possível estabelecer também que houve "uma forma de sistematização" nos estupros, porque foram observados em 22 lugares. Para a advogada, o que resta a saber é se a ordem das violências sexuais foi dada pelo comando do Hamas e se houve premeditação. 

"Efetivamente, não sabemos se foram dadas ordens, e acho que também é importante estudar, trabalhar para saber quem são essas pessoas que cometeram esses atos. Isto quer dizer que estamos obviamente falando do braço armado do Hamas. Existem outros grupos, existe a Jihad Islâmica Palestina, vemos que existem modus operandi que são próximos do que pudemos ver com o (grupo) Estado Islâmico e mesmo com o (grupo) Wagner. Por isso também é importante tentar entender quem cometeu esses crimes para entender melhor o que aconteceu", explica. 

Céline Badet lamenta que Israel dificilmente deixaria investigadores exteriores entrarem no país atualmente. "Existe uma verdadeira ruptura de confiança com a ONU", diz. "Oferecemos a nossa ajuda, começamos a trabalhar, também trabalhamos com advogados israelenses no local, mas Israel deve fazer ele mesmo. Israel deve encontrar algo que lhes convenha porque é isso que ajudará a esclarecer o que aconteceu de uma forma muito precisa", diz.

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