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Hamas usa trégua e libertação de reféns para limpar imagem de grupo 'monstruoso'

Neste sexto dia da trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, a imprensa francesa faz um balanço do conflito e chega a pelo menos uma conclusão: com a libertação de 60 reféns israelenses, o movimento islâmico palestino busca melhorar sua imagem após os massacres cometidos durante a invasão a cidades do sul de Israel, em 7 de outubro. 

Uma refém liberada pelo Hamas e pela facção Jihad Islâmica em rafah, ao sul da Faixa de Gaza, em 28 novembre 2023.
Combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica acompanham refém libertada em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 28 novembre 2023. © AFP
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Para o Le Figaro, essa "operação de sedução" e de comunicação do grupo palestino é "cínica", pois tenta passar a imagem de que o Hamas é uma organização como qualquer outra". O veículo francês conta que consciente dos danos causados ​​e da necessidade de remediar a selvageria dos crimes cometidos durante o ataque de outubro, o líder militar do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, visitou reféns no cativeiro para tranquilizá-los.

'Olá, sou Yahya Sinwar'

"O líder terrorista teria se apresentado aos reféns, falando um hebraico considerado 'excelente': 'Olá, sou Yahya Sinwar. Você está bem protegido aqui. Nada vai acontecer com você', reporta o Le Figaro. Nessas visitas, Sinwar, que é o homem mais procurado pelas Forças Armadas de Israel, estava acompanhado pelo seu irmão Mohammed, um alto funcionário do braço armado do Hamas. 

Segundo o diário francês, as imagens divulgadas pelo grupo durante a libertação de reféns, como no vídeo abaixo publicado na rede social X, mostram "milicianos de uma organização muito estruturada e muito familiarizada com técnicas de propaganda". Sinwar, que passou mais de 20 anos nas prisões israelenses, conhece perfeitamente as expectativas de Israel e de países ocidentais. "Por isso, o roteiro da entrega de reféns é encenado para criar uma narrativa 'positiva', adaptada às redes sociais", avalia a publicação.

Trauma 

O jornal Libération questiona se depois do trauma vivido pelas crianças e adolescentes sequestrados pelo Hamas, esses menores serão capazes de se relacionar com a população de Gaza. 

"Como não pensar em Anne Frank?", escreve o Libération, ao evocar a adolescente judia que morava em Amsterdã durante o período do Holocausto e registrou em seu diário a revolta de viver em um esconderijo, sem direito a uma vida serena e alegre como qualquer criança. 

Até agora, poucos testemunhos foram divulgados sobre as condições de vida dos reféns em Gaza. Os relatos mais contundentes são os de familiares do menino franco-israelense Eitan Yahalomi, de 12 anos, libertado na segunda-feira. A avó dele revelou que Eitan ficou isolado no cativeiro durante 16 dias. 

'Na solitária'

“Os dias em que ele esteve sozinho foram horríveis”, disse Esther Yaeli ao site de notícias israelense Walla. “Agora Eitan parece muito retraído”, afirmou a avó. A tia do menino, Deborah Cohen, tinha contado em entrevista ao canal francês BFMTVque ele sofreu "horrores" em poder dos sequestradores, chamados de "monstros". Eitan foi espancado quando chegou em Gaza e forçado pelo Hamas a assistir vídeos dos crimes cometidos pelos combatentes nos ataques a um kibutz do sul de Israel, relatou a tia.

Menina só sussura

O irlandês Thomas Hand, pai de Emily, uma menina israelo-irlandesa de 9 anos que foi libertada no sábado pelo Hamas, disse em entrevista ao jornal britânico The Sun, nesta quarta, que sua filha está “com medo de fazer barulho” e agora apenas “sussurra” em casa. “Quando ela voltou, eu literalmente tive que colocar meu ouvido em seus lábios para ouvir o que ela estava dizendo”, disse ele.

“Ela era uma criança normal, feliz e barulhenta, mas agora ela sussurra”, contou o irlandês. “Ela deve ter recebido ordens de ficar quieta por tanto tempo que ainda tem medo de fazer qualquer barulho”, acredita o pai. A garota perdeu a mãe de câncer quando tinha dois anos e meio.

Mudança de cativeiro

Emily, que completou 9 anos em 17 de novembro, enquanto era refém, foi sequestrada pelo Hamas em 7 de outubro enquanto estava com uma amiga, Hila, de 13 anos, no kibutz Beeri. Sua amiga também foi libertada no sábado. 

Inicialmente, Emily foi declarada morta, mas seu nome apareceu depois em uma lista de reféns. Na entrevista ao Sun, seu pai diz que ela era constantemente transportada pelo Hamas para escapar do cerco do Exército israelense.

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