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O número de vítimas na Faixa de Gaza tem como ser verificado?

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde do Hamas, nesta segunda-feira (23), 5.087 pessoas, incluindo 2.055 crianças, morreram desde o início dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza.  Estes são os números citados pela maioria da imprensa e das agências da ONU, mas nenhuma fonte independente é capaz de verificá-los. 

Palestino em frente a um imóvel destruído pelos bombardeios israelenses, nesta quarta-feira.
Palestino em frente a um imóvel destruído pelos bombardeios israelenses, nesta quarta-feira. © Hatem Ali / AP
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Sophie Malibeaux, da RFI

As Nações Unidas ou outras fontes não têm como obter uma estimativa exata dos dados divulgados pelo Hamas. Os únicos números disponíveis são fornecidos pelo Ministério da Saúde em Gaza, ligado ao grupo terrorista, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.

As agências da ONU costumam usar dados fornecidos pelas autoridades locais. Os centros de saúde em Gaza e a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo) têm uma cooperação técnica com o Ministério da Saúde do Hamas. Ela visa determinar, por exemplo, quais medicamentos estão faltando ou priorizar outras demandas, além de contabilizar o número de pacientes.

Mas a agência não tem como validar o número de mortes em todo o país. "Esta não é nossa responsabilidade", disse Natalie Boucly, vice-comissária-geral da UNRWA, em entrevista à RFI

"Nós, em Gaza, não estamos em posição de verificar nada, levando em conta a situação e o desastre humanitário que está ocorrendo. Temos mais o que fazer com os mais de 600 mil civis que estão em nossos escritórios, em escolas, centros de saúde, de treinamento, além de outros locais. Já temos trabalho suficiente e não, não podemos verificar esses números”, reitera.

A representante da ONU salienta que a UNRWA age da mesma maneira quando publica os números fornecidos pelas autoridades israelenses.

Impacto dos bombardeios

O que a agência da ONU pode confirmar, no entanto, é o impacto dos bombardeios em suas estruturas. Segundo a UNRWA, a intensificação dos ataques israelenses nos últimos dias destruiu locais usados para a proteção dos habitantes de Gaza. Dos 150 prédios, 32 foram afetados. 

"Trinta e cinco funcionários da agência da ONU morreram nos bombardeios", diz Natalie Boucly. Houve ataques a nossas estruturas ou prédios que resultaram na morte dessas pessoas. De onde vieram esses ataques, não tenho como responder hoje”.

Outras agências são menos prudentes na divulgação das informações. É o caso do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Dois dias após a explosão do hospital Al-Ahli, em Gaza, o orgão divulgou um comunicado questionável sobre a tragédia.

"O ataque ao hospital árabe Al Ahli, em Gaza,  matou mais de 470 civis na terça-feira e prendeu centenas sob os escombros. Ele aconteceu após Israel avisar que um bombardeio ao hospital era iminente, caso as pessoas que estivessem dentro ainda não tivessem sido retiradas.” 

O comunicado, que não menciona o Hamas como fonte, joga a responsabilidade do ataque sobre o Exército israelense e estabelece um número de mortos sem qualquer evidência que sustente essa informação.

Mas, a teoria de que um tiro do lado de Gaza, que não atingiu seu alvo, tenha causado a tragédia, ainda não foi descartada. Até agora, a agência da ONU não fez nenhuma correção após a divulgação do comunicado.

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