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Livro de memórias de Britney Spears lidera vendas e se dirige aos que a 'silenciaram'

"Silenciada" durante treze anos por sua família, que a colocou sob tutela, Britney Spears, aos 41 anos, se dirige agora a todos aqueles que não a deixaram falar,  em um livro de memórias intransigente com conotações feministas. "The Woman in Me", publicado pela editora Simon & Schuster nos Estados Unidos, chega às livrarias de cerca de 20 países nesta terça-feira (24).

O livro de Britney Spears acaba de ser lançado
O livro de Britney Spears acaba de ser lançado AFP - CHRIS DELMAS
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O texto cumpre um objetivo para a cantora, libertada da tutela que regulou todos os aspectos de sua vida durante 13 anos: resgatar sua própria história.

"Não escrevi este livro para insultar ninguém! É o passado, não gosto das manchetes que estou lendo", escreveu ela em sua conta no Instagram na sexta-feira. No Brasil, o livro é publicado pela editora Buzz, com nada menos de 50 mil exemplares previstos para a primeira edição.

Direto sem ser ostensivo, o livro não esconde nada, desde a ascensão da intérprete de "Toxic" até sua descida ao inferno em 2007 e a longa tutela, que a privou totalmente de liberdade.

A história, contada em um estilo bastante oral e sem pretensões literárias, deixa o leitor atônito. Sem tabus, a estrela pop revela todos seus segredos. "É o texto de uma mulher que não se deixa dobrar", disse Véronique Cardi, CEO da Lattès Editions, que publica o livro na França.

Violência doméstica   

Graças às pré-encomendas, o livro já é o número um no site da Amazon nos Estados Unidos, França e Espanha.

Ao longo de quase 300 páginas, a cantora conta como essa tutela ditada por seu pai (com o apoio de sua mãe e irmã) quebrou "a mulher que havia nela".

A história começa com sua infância. Ela relata o estigma de "crescer pobre" com um pai alcóolatra que aterrorizava a casa. "A discordância não era tolerada", escreve ela. "A tragédia foi minha família".

A cantora evoca o destino de sua avó paterna, Jean, a quem seu marido havia internado e que cometeu suicídio sobre o túmulo de seu filho pequeno. Britney Spears se sente próxima a essa mulher que nunca conheceu, mas que se parece com ela. No livro, a cantora conta que se sentiu ainda mais próxima da avó quando foi internada à força e também tratada com substâncias à base de lítio.

A estrela americana também revela que aos 11 anos de idade fazia aulas de dança em Nova York, a ponto de "não ter um minuto para ser criança". O resto da história é conhecido pelo mundo inteiro: ela alcançou a fama com "Baby One More Time".

No livro ela relata que o período mais bonito de sua vida começou quando ela se instalou com o cantor Justin Timberlake. Nesta parte da narrativa, o leitor tem direito a uma revelação: na época, ela engravidou e fez um aborto.

O livro de Britney Spears acaba de ser lançado nesta terça-feira, 24 de outubro de 2023.
O livro de Britney Spears acaba de ser lançado nesta terça-feira, 24 de outubro de 2023. REUTERS - MARIO ANZUONI

"Vagabunda"

O casal não resistiu às infidelidades, mas enquanto ela se calou sobre elas, ele reclamou publicamente. Timberlake dramatizou sua visão da história em seu clip "Cry Me a River", com o qual ganhou fama mundial.

De repente, a imagem de Britney de ídolo adolescente mudou, relata. Ela se tornou uma "vagabunda" e responsabilizada pela mídia, que a considerou culpada por sua separação.

A "descida ao inferno" ocorreu em 2007. A cantora, mãe de dois filhos muito pequenos com o dançarino Kevin Federline, estava sob constante pressão dos paparazzi. E o casal estava em frangalhos.

Ela raspou a cabeça em um salão de cabeleireiro de Los Angeles, na frente das câmeras. "Era uma maneira de dizer 'Foda-se'", diz, no livro.

Exausta e "despedaçada", ela concordou em ser internada. "O que mais ela poderia fazer?", se pergunta no livro. De acordo com Britney, ela aceitou para que um dia pudesse voltar "a se reunir com seus filhos"

Mas continuou a se apresentar. "Eu vim a este mundo para aumentar a conta bancária deles", diz ela, se referindo especificamente a sua família. Em 2019, a cantora foi internada à força novamente, mas dessa vez, com a ajuda de seus fãs, ela se rebelou, e em 2021, os juízes anularam a tutela.

E sua "vida real" recomeçou, conta e seu livro. Sua ambição? "Colocar minha vida espiritual em ordem novamente e prestar atenção às pequenas coisas", escreveu. Sua carreira musical terá que esperar.

Desde sua infância, no sul dos Estados Unidos, até a constante infantilização que sofreu sob tutela, passando por seu rompimento com Justin Timberlake, veja abaixo alguns destaques das memórias de Britney Spears.

Pai alcoólatra e violento

"Em casa, eu tinha medo", escreve a cantora nas primeiras páginas do livro. O motivo? Seu pai, Jamie Spears, que dominou todos os aspectos de sua vida pessoal e profissional durante 13 anos. Descrito como um homem alcóolatra e violento, ele nunca deixou de "menosprezá-la" ao longo dos anos. Foi nesse cenário que ela contou que começou a beber aos 13 anos de idade, com sua mãe.

Síndrome de "Benjamin Button"

A cantora lutou durante anos para permanecer para sempre a garota de 17 anos que conquistou o coração de milhões de pessoas com seu sucesso "Baby One More Time". Ao mesmo tempo, ela admite que sofre da síndrome de Benjamin Button, em referência ao filme estrelado por Brad Pitt, baseado no conto de mesmo nome escrito por F. Scott Fitzgerald, sobre um homem que nasce velho e fica mais jovem com o passar dos anos. É exatamente isso que a estrela diz ter experimentado em vários momentos de sua vida.

Primeiro, quando se separou de Justin Timberlake, ela se enclausurou em casa, não saía da cama, como uma criança, por dias a fio. Depois, houve o nascimento de seus filhos, quando ela descreve que se sentiu como "um bebê novamente". De modo geral, o fato de ter estado sob tutela a infantilizou consideravelmente, a ponto de não saber como ser uma "mulher adulta".

Justin Timberlake

Ele foi seu grande amor. No entanto, a estrela pop nunca revelou ao público os detalhes de sua separação. No livro, ela explica que ficou "arrasada" quando Timberlake terminou com ela "por mensagem de texto".

Quando ele encenou o rompimento no vídeo de "Cry Me a River", chegando ao ponto de escolher uma atriz parecida com Britney Spears, ela permaneceu calada, aceitou a situação com naturalidade ao ser lançada sob os holofotes da mídia. Embora admita ter traído o cantor apenas uma vez, ela diz que era comum que ele fizesse isso com ela.

Descrita pela mídia como uma "vagabunda", seu pai a forçou a dar uma entrevista à jornalista americana Diane Sawyer, que lhe perguntou o que ela havia feito a Timberlake para causar-lhe "tanta dor". "Eu me senti como se tivessem se aproveitado de mim", escreveu ela. "Encurralada na frente do mundo inteiro".

Tutela

"Britney Spears sou eu", foi a frase que ouviu de seu pai quando ela tentou contestar a tutela que tomou 13 anos de sua vida. "Se eu não estava apta a tomar decisões, por que fui considerada apta a me apresentar em público?", escreveu ela, referindo-se aos 200 shows que realizou sob tutela durante sua residência em Las Vegas.

"Durante dois anos, não comi quase nada além de frango e vegetais enlatados. (...) Eu implorava por um hambúrguer ou um sorvete", ela conta. No livro, ela faz um longo relato de sua internação em 2019 quando tomou antidepressivos e lítio. "Eu estava meio morta", escreve ela. "Sentia como se alguém estivesse tentando me matar", continua elogiando "uma força dentro dela" que lhe permitiu aguentar e se rebelar.

Como sempre acontece nesses casos, o texto do livro "The Woman in Me" foi zelosamente guardado pela editora que, de acordo com a mídia norte-americana, pagou mais de US$ 15 milhões para adquirir os direitos.

"Reviver tudo isso tem sido emocionante, de partir o coração e comovente", disse a cantora à revista People, que publicou as primeiras páginas do explosivo livro de confissões nesta terça-feira. "Por todas essas razões, lerei apenas uma pequena parte do meu audiolivro", continuou ela. A atriz Michelle Williams fará o resto.

(Com AFP)

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