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Sudão: primeiro avião de ajuda humanitária chega ao país africano, onde combates violentos continuam

Os confrontos violentos entre o exército sudanês e os paramilitares recomeçaram em Cartum, capital do Sudão, quando uma frágil trégua de três dias, que nunca foi realmente respeitada, está prestes a expirar no país africano. Um primeiro avião carregado com "oito toneladas" de ajuda humanitária, incluindo "equipamento cirúrgico", pousou neste domingo (30), e ajudará a "tratar 1.500 pacientes". A maioria dos hospitais do país está fora de serviço devido aos combates.

Remessa de ajuda humanitária contém produtos anestésicos, curativos, material de sutura e outros itens cirúrgicos.
Remessa de ajuda humanitária contém produtos anestésicos, curativos, material de sutura e outros itens cirúrgicos. via REUTERS - ICRC
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Milhões de sudaneses estão presos em bombardeios e fogo antiaéreo desde 15 de abril, quando teve início uma luta pelo poder entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e o número dois na hierarquia militar, o general Mohamed Hamdane Daglo, que comanda as Forças de Apoio Rápido (FSR).

O avião transportando pessoal humanitário decolou de Amã e pousou em Porto Sudão, cidade costeira a 850 quilômetros a leste de Cartum, onde se concentram os combates. O espaço aéreo sudanês está fechado desde que os combates começaram no aeroporto de Cartum.

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), esta remessa contém "produtos anestésicos, curativos, material de sutura e outros itens cirúrgicos". Este equipamento "permitirá tratar 1.500 feridos, agora esperamos poder entregá-lo rapidamente aos maiores hospitais de Cartum", disse aos jornalistas o diretor regional do CICV para a África, Patrick Youssef.

Ele ainda advertiu que para prestar socorro precisa de mais garantias de segurança em Cartum e Darfur, onde acontece a maior parte dos combates que já mataram mais de 500 pessoas e deixaram 4000 feridos, em mais de duas semanas, de acordo com números do ministério da Saúde sudanês. Esse balanço permanece provisório, pois há corpos espalhados pelas ruas inacessíveis e, portanto, impossível de serem identificados. 

Situação dos hospitais é precária

Em Darfur, a situação é "muito difícil", acrescenta Youssef. Segundo ele, "as pessoas estão em movimento, normalmente nós as seguiríamos, mas na situação atual é impossível". Para os médicos no Sudão, é necessário restabelecer a água e a eletricidade e retirar os combatentes que ocupam determinados estabelecimentos. Soluções alternativas também são necessárias para que os 15 hospitais e equipes bombardeados substituam médicos que, às vezes, não param de trabalhar há duas semanas.

"Apenas 16% dos hospitais estão funcionando em Cartum segundo a ONU, a situação é catastrófica devido à falta de médicos e à falta de equipamentos médicos" alerta Patrick Youssef. Ele diz que se "em tempos normais, um hospital deve ser reabastecido a cada dois dias, em tempos de guerra, especialmente como acontece no momento em que os hospitais são saqueados e atacados, esse período é mais curto".

Os médicos alertam que é preciso encontrar recursos para atender "12.000 pacientes" que, sem diálise em hospitais onde os estoques estão vazios e os geradores estão sem combustível, "correm risco de morrer".

"As doenças crônicas estarão entre nossas prioridades futuras", acrescenta Youssef.

A organização internacional com sede em Genebra está se preparando para fretar um segundo avião para entregar mais suprimentos médicos e pessoal humanitário. "Esperamos que isso abra caminho para que os trabalhadores humanitários ajudem a resolver a crise", confirma o representante da Cruz Vermelha.

Pessoas fogem do conflito no Sudão e são recebidas por autoridades no aeroporto de Abu Dhabi, após um voo de evacuação, no sábado, 29 de abril de 2023.
Pessoas fogem do conflito no Sudão e são recebidas por autoridades no aeroporto de Abu Dhabi, após um voo de evacuação, no sábado, 29 de abril de 2023. AFP - KARIM SAHIB

Trégua não foi respeitada

Neste domingo, testemunhas relataram combates perto do quartel-general do exército em Cartum e ataques aéreos em Omdurman, subúrbio ao norte da capital. "Há combates muito pesados, tiros ressoam na minha rua desde o amanhecer", disse uma testemunha à AFP.

À medida que os combates entram em sua terceira semana, os moradores da capital, quando não fogem, permanecem barricados e tentam sobreviver, enfrentando escassez de alimentos, água e eletricidade.

Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas dentro do Sudão ou fugiram para os países vizinhos. De acordo com a ONU, 75.000 pessoas estão deslocadas internamente e pelo menos 20.000 fugiram para o Chade, 4.000 para o Sudão do Sul, 3.500 para a Etiópia e 3.000 para a República Centro-Africana. No total, até 270.000 pessoas podem fugir se a guerra continuar.

Governos estrangeiros retiraram seus cidadãos e de outras nacionalidades, especialmente de Porto Sudão para Jidá, na Arábia Saudita, do outro lado do Mar Vermelho.

Apesar dos apelos da comunidade internacional, nenhuma solução diplomática está em vista entre os dois rivais.

“A ONU está intensificando seus esforços para ajudar as pessoas que buscam segurança nos países vizinhos”, disse o secretário-geral, Antonio Guterres, através do Twitter. Guterres diz apoiar qualquer mediação africana para o conflito.

As autoridades sudanesas indicam que os combates atingem 12 dos 18 estados que compõem o país de 45 milhões de habitantes, um dos mais pobres do mundo.

Tribos armadas

A ONU confirma que cem pessoas foram mortas, desde segunda-feira, em El-Geneina, capital de Darfur Ocidental, região ainda marcada pela sangrenta guerra civil dos anos 2000.

A "violência armada entre tribos" provocou a destruição do principal hospital da cidade, informou o ministério da Saúde.

A ONU alertou para uma situação "terrível" em Darfur, onde "a sociedade está entrando em colapso" com "tribos agora tentando se armar".

(Com informações da AFP)

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