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Covid-19: China anuncia fim da quarentena para entrada no país e Xi Jinping ordena ações "eficazes para proteger vidas"

O presidente da China, Xi Jinping, voltou a falar sobre a epidemia de Covid-19 nesta segunda-feira (26) e pediu a adoção de medidas para "proteger de forma eficaz" as vidas de seus compatriotas, diante do avanço da doença no país. As autoridades chinesas também anunciaram o fim da quarentena para viajantes, a partir de 8 de janeiro. A medida era o último resquício da estrita política de saúde "Covid zero" que isolou o país por quase três anos.

Pessoas usando mascaradas no metrô de Pequim, durante surto de coronavírus. Em 19 de dezembro de 2022.
Pessoas usando mascaradas no metrô de Pequim, durante surto de coronavírus. Em 19 de dezembro de 2022. © NOEL CELIS / AFP
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"Devemos iniciar uma campanha de saúde patriótica de maneira mais direcionada, para fortalecer a prevenção e o controle da epidemia e proteger de modo eficaz a vida, a segurança e a saúde das pessoas", afirmou Xi Jinping no canal estatal CCTV. Essas foram as primeiras declarações públicas do líder comunista desde que Pequim flexibilizou as restrições sanitárias do combate à epidemia, no início do mês.

A partir de 8 de janeiro, será exigido apenas um teste negativo de menos de 48 horas para entrar no território chinês, afirmou nesta segunda-feira (26) a Comissão de Saúde, que funciona como um ministério.

A China era a única grande economia que continuava a impor quarentena na chegada ao seu território, penalizando o turismo. A duração do isolamento, no entanto, já havia sido reduzida nos últimos meses. Atualmente são 5 dias no hotel, seguidos de 3 dias de observação em casa.

Tolerância zero

Desde 2020, a China vem impondo medidas muito estritas, que permitiram proteger os mais vulneráveis ​​e os não vacinados, de acordo com as autoridades. As reduzidas taxas de imunização na China, em particular entre os idosos, são consideradas há muito tempo a principal razão pela qual o governo vinha prolongando a política de "Covid Zero", com limites à liberdade de deslocamento das pessoas para conter surtos de coronavírus. 

A maior parte das medidas foi derrubada sem aviso prévio, num contexto de crescente exasperação da população e considerável impacto na economia chinesa. Certos especialistas, contudo, falam em mera "propaganda" para conter os protestos.

Na tentativa de conter a doença, Pequim impôs confinamentos sucessivos, testes em larga escala e quarentenas inclusive para pessoas não infectadas, um conjunto de ações que provocou um mal-estar na sociedade e as maiores manifestações no país, desde o movimento pró-democracia de 1989.

Anteriormente, os testes de PCR quase obrigatórios permitiam acompanhar de forma confiável a tendência epidêmica. Mas as pessoas infectadas agora fazem auto-testes em casa e raramente relatam os resultados às autoridades, o que dificulta a obtenção de números confiáveis.

As autoridades de saúde em Zhejiang, ao sul de Xangai, preferem abrir os seus relatórios e apontaram, no domingo (25), que o número de contaminações diárias já ultrapassou a marca de um milhão na província que tem uma população de 65 milhões de pessoas.  

Meio milhão de habitantes também são infectados diariamente em Qingdao (leste), uma cidade de 10 milhões de habitantes, estimou um responsável municipal, citado pela imprensa oficial.

Wuhan, cidade chinesa no centro do país asiático onde foram detectados os primeiros casos de Covid-19, há três anos, agora também enfrenta um aumento explosivo de infectados pelo vírus.

Hospitais superlotados

Muitos hospitais chineses estão superlotados e faltam medicamentos nas farmácias, especialmente os remédios antigripais, que ficam mais difíceis de encontrar à medida que o país aprende a conviver com o vírus.

"Em três semanas, há pelo menos 250 milhões de pessoas infectadas na China. Até recentemente, eram cerca de 660 milhões, desde o início da pandemia mundial", analisa Christian Bréchot, virologista e presidente da Global Virus Network, que descreveu "números assustadores", ao canal francês BFMTV.

“Uma pandemia é um problema global mundial. O que está acontecendo na China hoje certamente afetará a saúde global de uma forma ou de outra", completou.

Numa população em que tantas pessoas estão infectadas e convivem, surge o risco do aparecimento de novas variantes, mesmo que ele permaneça "teórico", lembra Christophe Bréchot. “Não estamos numa situação de ameaça imediata”, acrescenta o virologista, destacando que “estamos muito mais protegidos do que há três anos”.

Porém, há ainda os “riscos econômicos” da pandemia, ele cita. Com tantos novos doentes, poderá se repetir a situação de 2020: fábricas fechadas, produção e exportação paradas. Em várias cidades chinesas, os moradores estão autorizados a regressar ao trabalho mesmo com sintomas de Covid-19.

Números controversos

Perante as dúvidas sobre os relatórios oficiais, as autoridades de saúde especificam que, desde a última quinta-feira (21), só são contabilizados os doentes de Covid-19 que morreram por insuficiência respiratória. Isso é conveniente para a China em termos estatísticos, já que exclui, por exemplo, a morte de idosos com comorbidades que tenham sofrido um ataque cardíaco após contaminados.

A redefinição, porém, não deve amenizar a desconfiança da população nas estatísticas oficiais. A China reconheceu oficialmente apenas sete mortes por covid-19 desde a suspensão das restrições sanitárias, no dia 7 de dezembro. Segundo estimativas de vários estudos ocidentais, o fim das restrições pode levar à morte de cerca de um milhão de pessoas nos próximos meses.

Analistas consideram que o balanço anunciado de mortes é muito inferior ao número real, em um país onde apenas 65,8% das pessoas com mais de 80 anos estão com o esquema de vacinação completo. A China ainda não aprovou o uso das vacinas de RNA mensageiro (mRNA).

Os idosos e doentes crônicos representam os grupos mais vulneráveis no momento. A Comissão Nacional da Saúde (NHC) prometeu em um comunicado "acelerar o aumento da taxa de vacinação das pessoas com mais de 80 anos e continuar aumentando a taxa de vacinação de pessoas de 60 a 79 anos".

Crematórios cheios

Outro problema está relacionado aos funerais. Funcionários de vários crematórios relataram à AFP um aumento expressivo no número de corpos a serem cremados. O fato é amplamente ignorado pela mídia chinesa.

A grande metrópole de Cantão (sul), que tem 19 milhões de habitantes, já anunciou o adiamento das cerimônias fúnebres para “após 10 de janeiro”.

(Com informações da AFP e RFI)

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