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Após vetarem acesso de afegãs às universidades, talibãs proíbem que mulheres trabalhem em ONGs

O regime dos talibãs proibiu neste sábado (24) que todas as ONGs nacionais e internacionais que atuam no Afeganistão empreguem mulheres. Segundo os extremistas islâmicos, elas não estariam respeitando o código vestimentário, mesmo argumento utilizado há quatro dias para excluir as afegãs das universidades do país. 

Estudantes afegãs chegam à Universidade de Cabul para realizarem testes de admissão, em 13 de outubro de 2022. Desde o último 20 de dezembro, elas foram proibidas pelos talibãs de frequentarem estabelecimentos de ensino superior no país.
Estudantes afegãs chegam à Universidade de Cabul para realizarem testes de admissão, em 13 de outubro de 2022. Desde o último 20 de dezembro, elas foram proibidas pelos talibãs de frequentarem estabelecimentos de ensino superior no país. AFP - WAKIL KOHSAR
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"O Ministério da Economia ordena a todas as organizações que interrompam o trabalho das mulheres até a nova ordem", diz um comunicado. A pasta é encarregada pela aprovação das licenças de ONGs que atuam no Afeganistão. 

“Há sérias denúncias sobre o descumprimento do uso do hijab islâmico e de outras regras e regulamentos relacionados ao trabalho das mulheres em organizações nacionais e internacionais”, indica o aviso enviado a todas as ONGs no país. "Em caso de descumprimento da diretriz, a licença da organização que foi emitida por este ministério será cancelada", reitera do documento. 

Dezenas de organizações nacionais e internacionais atuam em áreas remotas do Afeganistão, e contam com muitas mulheres entre seus colaboradores. Duas ONGs internacionais confirmaram ter recebido o comunicado do ministério. Muitas delas preparam uma resposta aos talibãs. 

"A partir de domingo (25), suspenderemos todas as nossas atividades", declarou, sob anonimato, um alto funcionário de uma organização internacional que realiza ações humanitárias em áreas remotas do Afeganistão. "Em breve teremos uma reunião dos diretores de todas as ONGs para decidir como lidar com a questão", acrescentou.

O coordenador humanitário da ONU para o Afeganistão, Ramiz Alakbarov, denunciou em um tuíte uma "violação explícita dos princípios humanitários". Já para a ONG Anistia Internacional, a decisão é "uma nova tentativa deplorável de apagar as mulheres dos espaços políticos, sociais e econômicos".

Uma funcionária de uma ONG afegã não escondeu sua angústia. “Como vão ficar as mulheres que não têm um homem para sustentar suas famílias e precisam trabalhar nessas organizações?”, questionou, sob anonimato. "Nosso salário nos impede de cair na miséria", ressaltou. 

O anúncio ocorre quatro dias depois que o regime dos talibãs decidiu proibir, por tempo indeterminado, as afegãs de frequentarem universidades públicas e particulares no país. O ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, explicou em uma entrevista na TV que a medida foi estabelecida porque as "estudantes que iam para a universidade (...) não respeitaram as instruções sobre o hijab".

"O hijab é obrigatório no Islã", insistiu, referindo-se ao fato de que as mulheres no Afeganistão devem imperativamente cobrir a cabeça e o corpo inteiro. Além disso, o ministro alega que as meninas que estudam em localidades distantes de casa "também não estão viajando com um acompanhante masculino adulto", como estabelece o regime talibã.  

Protesto contra os talibãs em Kandahar

Neste sábado, cerca de 400 estudantes de Kandahar, berço do movimento islamita fundamentalista, boicotaram uma prova em solidariedade às universitárias e organizaram uma manifestação. O ato foi dispersado pelas forças talibãs, que dispararam tiros para o alto, contou um professor da Universidade Mirwais Neeka.

Esse novo ataque aos direitos das mulheres chocou muitas jovens afegãs, que neste ano foram excluídas do Ensino Médio. O anúncio da restrição também provocou muitas críticas da comunidade internacional.   

Apesar das promessas de maior flexibilidade, os talibãs, que retomaram o controle do Afeganistão em agosto de 2021, restabeleceram sua interpretação rigorosa do Islã, que marcou sua primeira passagem pelo poder, entre 1996 e 2001. Desde então, os extremistas islâmicos multiplicam medidas contra as liberdades, principalmente das mulheres, que estão sendo progressivamente excluídas da vida pública e dos estabelecimentos de educação. 

Além de serem privadas de escolas e universidades, as afegãs também são banidas da maioria dos empregos públicos. Além disso, as cidadãs não têm mais direito de viajar sem estarem acompanhadas de um familiar do sexo masculino e devem imperativamente usar o véu islâmico integral para sair de casa. Os talibãs também as proibiram de entrar em parques, jardins, academias de ginástica e até banheiros públicos.

(Com informações da AFP

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