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Com acesso proibido à universidade, mulheres do Afeganistão temem futuro sombrio

Dezenas de estudantes tentaram chegar à universidade na manhã desta quarta-feira (21), mas elas foram recebidas por tropas do Talibã, responsáveis pela segurança nos portões das instituições. As autoridades talibãs anunciaram na terça-feira (20) que as universidades afegãs passaram a ser proibidas para mulheres, que já tinham sido privadas do ensino secundário no Afeganistão desde a ascensão ao poder dos fundamentalistas islâmicos.

Estudantes do lado de fora da Universidade de Cabul, no Afeganistão, em 26 de fevereiro de 2022.
Estudantes do lado de fora da Universidade de Cabul, no Afeganistão, em 26 de fevereiro de 2022. REUTERS - STRINGER
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Sonia Ghezali, correspondente da RFI no Afeganistão

A proibição do ensino universitário para mulheres foi anunciada "por um período indefinido". “Informamos a todos que a mencionada decisão de suspender a educação das mulheres deve ser implementada até nova ordem”, escreveu, em carta dirigida a todas as universidades públicas e privadas do país, a ministra do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, na terça-feira.

“Quando soube da notícia, não conseguia parar de chorar”, conta Rabia, mestranda em administração e gestão empresarial, ao telefone. Ela não foi avisada por nenhum dos professores da universidade onde estuda, em Herat. Rabia recebeu estupefata a notícia pela mídia.

“Estou apavorada com o futuro sombrio que nos espera”, lamenta Laila, estudante de jornalismo da Universidade de Cabul, em entrevista por telefone à RFI. "Não posso decidir meu futuro, outros o fazem por mim", lamenta, impotente. No entanto, a jovem se recusa a desistir. Ela garante que vai continuar estudando em casa.

Decisão sem explicações

Ainda não foi dada qualquer explicação que justifique a decisão. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "profundamente alarmado" e instou o Talibã a "garantir igualdade de acesso à educação em todos os níveis", segundo seu porta-voz. Os Estados Unidos denunciam uma "decisão bárbara".

Shahrzad Akbar, ex-chefe da Comissão Independente de Direitos Humanos no Afeganistão, no exílio no exterior, reagiu no Twitter: "Sob o regime talibã, o Afeganistão se tornou um túmulo para as esperanças e sonhos dos afegãos".

A proibição de cursar o ensino superior ocorre menos de três meses depois que milhares de meninas e mulheres fizeram exames de admissão em universidades em todo o país. Muitas delas aspiravam a escolher entre Engenharia ou Medicina, embora tenham sido privadas de acesso ao Ensino Médio.

O cerco às mulheres no Afeganistão está cada vez mais explícito desde que o Talibã assumiu o poder. Elas foram progressivamente excluídas do espaço público, banidas da vida política, da maioria dos empregos públicos. Além disso, desde o início, as mulheres não têm o direito de viajar sozinhas sem um "moharam", um parente do sexo masculino. No mês passado, o regime talibã também as proibiu de entrar em parques, jardins, ginásios e saunas públicas.

Prisões de manifestantes

Quando retomou o poder em agosto de 2021, o Talibã havia prometido ser mais flexível, mas, com o tempo, foi voltando à interpretação ultrarrigosa do Islã que marcou seu primeiro governo (1996-2001). As medidas draconianas se multiplicaram, em particular contra as mulheres.

Em uma reviravolta inesperada, em 23 de março deste ano, o Talibã fechou escolas secundárias poucas horas depois de sua reabertura há muito anunciada. O próprio líder supremo do Talibã, Haibatullah Akhundzada, tomou parte na decisão, de acordo com um alto funcionário do Talibã.

As manifestações de mulheres contra essas medidas, que raramente reúnem mais de 40 pessoas, se tornaram arriscadas. Muitas manifestantes foram presas e os jornalistas são cada vez mais impedidos de cobrir esses protestos.

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