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O que já se sabe sobre a vacina contra a varíola dos macacos?

Concebida para combater a varíola humana, a vacina contra a varíola dos macacos tem sido usada para proteger as pessoas mais vulneráveis, face à propagação da doença fora das áreas endêmicas.

Apesar da presença em parte do continente de áreas endêmicas da varíola dos macacos, de mais de 3 mil casos confirmados e, de acordo com médicos, de mais de 70 mortes potenciais, a África ainda não tem nenhuma dose de vacina (foto ilustrativa).
Apesar da presença em parte do continente de áreas endêmicas da varíola dos macacos, de mais de 3 mil casos confirmados e, de acordo com médicos, de mais de 70 mortes potenciais, a África ainda não tem nenhuma dose de vacina (foto ilustrativa). AP - Alain Jocard
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A vacina, a princípio, é usada contra a varíola humana, uma doença fatal erradicada na década de 1980, mas, atualmente, tem sido aplicada contra a varíola dos macacos. Os dois vírus fazem parte da família "ortopoxvírus", e o imunizante utiliza um terceiro vírus desta família, geneticamente próximo, o da vaccinia.

A vaccinia, que é inofensiva em humanos, permitiu ao médico britânico Edward Jenner, ainda no século 18, desenvolver o próprio princípio da vacinação – e criar a primeira vacina contra a varíola: condicionar o sistema imunológico confrontando o organismo com um vírus similar àquele a ser combatido.

"Há entre 90% e 95% de homologia das proteínas virais envolvidas entre os vírus da varíola e da varíola dos macacos. Portanto, tomar uma vacina muito próxima para bloqueá-la é uma estratégia comprovada", explica Olivier Schwartz, chefe da unidade de vírus e imunidade do Institut Pasteur, na França.

A vacina atual, feita em cultura de células e não mais em animais, é considerada "de terceira geração porque foi melhorada em comparação com as duas anteriores para limitar os efeitos colaterais", especifica Yannick Simonin, professor da Universidade de Montpellier, especialista em vírus emergentes.

Ter sido vacinado contra a varíola antes de 1980 fornece proteção imunológica a priori contra a varíola dos macacos, mas de extensão e duração incertas.

A infecção por varíola confere proteção cruzada contra o vírus primo da varíola dos macacos, um mecanismo semelhante ao funcionamento da vacina em relação às duas doenças. Embora ainda não existam dados em larga escala, elementos epidemiológicos anteriores e testes de laboratório sugerem que a atual vacina anti-varíola será altamente eficaz contra a varíola dos macacos.

“O nível de proteção vacinal de 85% data de estudos de campo nas décadas de 1980 e 1990 no Zaire e é bastante aproximado”, observa Schwartz. Ele também menciona estudos em cuidadores em 2018 e experimentos em macacos que parecem mostrar uma forte eficácia da vacinação pós-exposição à varíola dos macacos. Ter sido vacinado contra a varíola antes de 1980 fornece proteção imunológica a priori contra a varíola dos macacos, mas de extensão e duração incertas.

“Estudos dos anos 2000 apontam, por exemplo, que anticorpos contra a varíola foram encontrados em 30% das pessoas que haviam sido vacinadas pelo menos 20 anos antes”, revela o pesquisador do Institut Pasteur. E “uma dose de reforço ativa células de memória – linfócitos B ou T – e reativa a imunidade celular, mesmo após 20 ou 40 anos”.

Diversos países e a Organização Mundial da Saúde (OMS) mantêm estoques de vacina contra a varíola por segurança, principalmente diante do risco de bioterrorismo.

Já Yannick Simonin alerta que a imunidade “diminui com o tempo e que a persistência de anticorpos neutralizantes contra a varíola dos macacos nunca foi avaliada”.

A única vacina autorizada

A única vacina atualmente autorizada para a varíola dos macacos é fabricada pelo laboratório dinamarquês Bavarian Nordic, a partir da cepa viral MVA-BN (vírus vaccinia Ankara modificado).

O imunizante é comercializado como Jynneos na América do Norte, e Imvanex na Europa. Diversos países e a Organização Mundial da Saúde (OMS) mantêm estoques de vacina contra a varíola por segurança, principalmente diante do risco de bioterrorismo.

A Bavarian Nordic fez parceria com autoridades dos Estados Unidos em 2003 e já entregou 30 milhões de doses ao país. Desde o início do atual surto de varíola, um acordo prevê 7 milhões de doses adicionais.

De acordo com a OMS, existem atualmente 16 milhões de doses de MVA-BN no mundo, principalmente a granel, o que exigiria alguns meses antes de serem acondicionadas em frascos individuais para usá-las. Mas é difícil saber o estado dos estoques, uma vez que os países se permitem ao sigilo da defesa, impedindo a avaliação de associações e órgãos competentes. Os detalhes em torno dos pedidos ao atualmente único fabricante também são desconhecidos. Até agora, a União Europeia encomendou 100 mil doses da vacina.

A Bavarian Nordic tem uma capacidade de produção anual de 30 milhões de doses. Duas outras vacinas contra a varíola, LC16 e ACAM2000, produzidas por outros laboratórios, estão em estudo. A Emergent BioSolutions, laboratório americano que produz o ACAM2000, informou que tem capacidade de produção anual de 18 milhões de doses por ano, podendo chegar a 40 milhões de doses, se necessário.

A injustiça se repete

Apesar da presença em parte do continente de áreas endêmicas da varíola dos macacos, de mais de 3 mil casos confirmados e, de acordo com médicos, de mais de 70 mortes potenciais, a África ainda não tem nenhuma dose de vacina.

A OMS solicitou aos países com vacinas que as "compartilhem com os países que não as têm", pedindo para que não reproduzam o cenário Covid-19, quando os países ricos mantiveram, por muitos meses, quase todas as vacinas disponíveis.

"Existe o risco de que os países que apresentam as demandas para acesso [às vacinas] sejam países ricos? É bem possível", afirmou domingo (31) Meg Doherty, diretora dos programas da OMS sobre HIV, hepatite e infecções sexualmente transmissíveis, pedindo 'justiça' no caso da varíola dos macacos, durante uma Conferência Internacional de AIDS.

(Com informações da AFP)

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