O que já se sabe sobre a vacina contra a varíola dos macacos?
Concebida para combater a varíola humana, a vacina contra a varíola dos macacos tem sido usada para proteger as pessoas mais vulneráveis, face à propagação da doença fora das áreas endêmicas.
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A vacina, a princípio, é usada contra a varíola humana, uma doença fatal erradicada na década de 1980, mas, atualmente, tem sido aplicada contra a varíola dos macacos. Os dois vírus fazem parte da família "ortopoxvírus", e o imunizante utiliza um terceiro vírus desta família, geneticamente próximo, o da vaccinia.
A vaccinia, que é inofensiva em humanos, permitiu ao médico britânico Edward Jenner, ainda no século 18, desenvolver o próprio princípio da vacinação – e criar a primeira vacina contra a varíola: condicionar o sistema imunológico confrontando o organismo com um vírus similar àquele a ser combatido.
"Há entre 90% e 95% de homologia das proteínas virais envolvidas entre os vírus da varíola e da varíola dos macacos. Portanto, tomar uma vacina muito próxima para bloqueá-la é uma estratégia comprovada", explica Olivier Schwartz, chefe da unidade de vírus e imunidade do Institut Pasteur, na França.
Ter sido vacinado contra a varíola antes de 1980 fornece proteção imunológica a priori contra a varíola dos macacos, mas de extensão e duração incertas.
A infecção por varíola confere proteção cruzada contra o vírus primo da varíola dos macacos, um mecanismo semelhante ao funcionamento da vacina em relação às duas doenças. Embora ainda não existam dados em larga escala, elementos epidemiológicos anteriores e testes de laboratório sugerem que a atual vacina anti-varíola será altamente eficaz contra a varíola dos macacos.
“O nível de proteção vacinal de 85% data de estudos de campo nas décadas de 1980 e 1990 no Zaire e é bastante aproximado”, observa Schwartz. Ele também menciona estudos em cuidadores em 2018 e experimentos em macacos que parecem mostrar uma forte eficácia da vacinação pós-exposição à varíola dos macacos. Ter sido vacinado contra a varíola antes de 1980 fornece proteção imunológica a priori contra a varíola dos macacos, mas de extensão e duração incertas.
“Estudos dos anos 2000 apontam, por exemplo, que anticorpos contra a varíola foram encontrados em 30% das pessoas que haviam sido vacinadas pelo menos 20 anos antes”, revela o pesquisador do Institut Pasteur. E “uma dose de reforço ativa células de memória – linfócitos B ou T – e reativa a imunidade celular, mesmo após 20 ou 40 anos”.
Diversos países e a Organização Mundial da Saúde (OMS) mantêm estoques de vacina contra a varíola por segurança, principalmente diante do risco de bioterrorismo.
Já Yannick Simonin alerta que a imunidade “diminui com o tempo e que a persistência de anticorpos neutralizantes contra a varíola dos macacos nunca foi avaliada”.
A única vacina autorizada
O imunizante é comercializado como Jynneos na América do Norte, e Imvanex na Europa. Diversos países e a Organização Mundial da Saúde (OMS) mantêm estoques de vacina contra a varíola por segurança, principalmente diante do risco de bioterrorismo.
A Bavarian Nordic fez parceria com autoridades dos Estados Unidos em 2003 e já entregou 30 milhões de doses ao país. Desde o início do atual surto de varíola, um acordo prevê 7 milhões de doses adicionais.
De acordo com a OMS, existem atualmente 16 milhões de doses de MVA-BN no mundo, principalmente a granel, o que exigiria alguns meses antes de serem acondicionadas em frascos individuais para usá-las. Mas é difícil saber o estado dos estoques, uma vez que os países se permitem ao sigilo da defesa, impedindo a avaliação de associações e órgãos competentes. Os detalhes em torno dos pedidos ao atualmente único fabricante também são desconhecidos. Até agora, a União Europeia encomendou 100 mil doses da vacina.
A Bavarian Nordic tem uma capacidade de produção anual de 30 milhões de doses. Duas outras vacinas contra a varíola, LC16 e ACAM2000, produzidas por outros laboratórios, estão em estudo. A Emergent BioSolutions, laboratório americano que produz o ACAM2000, informou que tem capacidade de produção anual de 18 milhões de doses por ano, podendo chegar a 40 milhões de doses, se necessário.
A injustiça se repete
A OMS solicitou aos países com vacinas que as "compartilhem com os países que não as têm", pedindo para que não reproduzam o cenário Covid-19, quando os países ricos mantiveram, por muitos meses, quase todas as vacinas disponíveis.
"Existe o risco de que os países que apresentam as demandas para acesso [às vacinas] sejam países ricos? É bem possível", afirmou domingo (31) Meg Doherty, diretora dos programas da OMS sobre HIV, hepatite e infecções sexualmente transmissíveis, pedindo 'justiça' no caso da varíola dos macacos, durante uma Conferência Internacional de AIDS.
(Com informações da AFP)
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