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Principal negociador palestino, Saeb Erekat, morre de Covid-19: "grande perda para processo de paz"

Morreu nesta terça-feira (10) Saeb Erekat, 65, uma das faces mais conhecidas no mundo da causa palestina. O secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) sofria de fibrose pulmonar e havia sido submetido a um transplante de pulmão recentemente. Ele foi internado no hospital israelense Hadassah de Jerusalém em 18 de outubro e havia sido diagnosticado com o coronavírus há poucos dias.

O chefe palestino Saeb Erekat morreu nesta terça-feira (10) de Covid-19
O chefe palestino Saeb Erekat morreu nesta terça-feira (10) de Covid-19 REUTERS - Mohamad Torokman
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Por mais de 25 anos, Dr. Saeb, como era conhecido, foi o principal negociador palestino, sendo um dos responsáveis pelo acordo de Oslo. Apesar das recentes turbulências com Israel causadas pelo governo de Trump, Saeb continuava a defender uma solução negociada na região entre palestinos e israelenses.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, qualificou a morte de "perda imensa de um grande combatente". "A partida de um irmão, de um amigo, de um grande lutador (...) É uma perda imensa para a Palestina e para os palestinos. Estamos profundamente tristes", afirmou Abbas em um comunicado.

A ex-negociadora israelense Tzipi Livni lembrou a luta do Dr. Saeb, como era conhecido, e contou uma de suas últimas mensagens. "Saeb dedicou a vida a seu povo. Já enfermo, me escreveu: 'não terminei aquilo para o que nasci'", relatou Livni no Twitter.

Também em comunicado, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, expressou sua "tristeza" e afirmou que a morte de Erekat representa uma "grande perda para o povo palestino e para o processo de paz no Oriente Médio".

Uma vida dedicada à paz

Nascido em Jericó, quando a cidade era administrada pela Jordânia. Aos doze anos, Saeb Erekat viu tropas israelenses entrarem em sua cidade: era a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, que levou as tropas jordanianas para o outro lado do rio Jordão.

Depois de uma infância na Cisjordânia, Erekat deixou sua terra para fazer seus estudos no exterior. Primeiro nos Estados Unidos, depois no Reino Unido. Ele estudou ciência política, relações internacionais e obteve o doutorado da Universidade de Bradford em resolução de conflitos.

De volta à Cisjordânia, Erekat fez sua estreia como negociador em 1991, na conferência de Madri. Após a Guerra do Golfo, os Estados Unidos e a Rússia tentam lançar um processo de paz regional: israelenses, libaneses, sírios, jordanianos e palestinos são convidados para a capital espanhola. Saeb Erekat era um dos representantes palestinos.

Madri lançou as bases para um processo de paz: Erekat foi posteriormente parte das discussões em Washington em 1992 e 1993. O Acordo de Oslo foi assinado nos jardins da Casa Branca em 13 de setembro de 1993. Oslo foi um acordo provisório destinado a durar um máximo de cinco anos antes de um acordo final. É Dr. Saeb quem assumirá a chefia das negociações no debate com Israel.

É dentro da OLP, a organização que pretende ser representativa de todos os palestinos -- aqueles que vivem nos territórios ocupados, os que vivem em Israel e os que vivem no exterior-- nas negociações de paz, que Saeb Erekat impõe sua liderança. Ele era assim um candidato para suceder Mahmoud Abbas que, como Yasser Arafat, ocupa o cargo de Presidente da Autoridade Palestina e Presidente da OLP.

Esperança no diálogo

Ao longo dos anos, Erekat acompanhou o processo de paz, por vezes alternando entre a reafirmação de seu compromisso com as discussões e o desespero. "A paz é viável. Os palestinos e israelenses não devem desesperar. Não perdemos um minuto do nosso tempo nos últimos 18 anos", disse ele ao diário israelense Haaretz em 2009. Mas em 2003, excluído de uma reunião de delegação com o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, ele se demitiu. Antes de retomar suas funções, apenas alguns meses depois.

Sob a administração do Trump, a raiva muitas vezes marcou suas intervenções. O Presidente dos Estados Unidos perturbou os parâmetros aceitos de tentar uma solução de paz de dois Estados ao reconhcer Jerusalém como a capital de Israel, enquanto os palestinos reivindicam a parte oriental como a sede de seu futuro Estado.

Ao lado do genro, Jared Kushner, e do embaixador americano em Israel, David Friedman, ambos muito próximos à direita israelense, Trump fechou a representação palestina em Washington e interrompeu o financiamento americano à agência da ONU para refugiados palestinos.

Face a isso, Saeb Erekat mediu suas palavras nas falas contra o governo americano. "Eles são o maior império de mercenários", disse ele à RFI em maio de 2020. O plano de paz apresentado pela administração americana, que Donald Trump tinha pomposamente chamado "o acordo do século", foi renomeado "a vergonha do século" pelo negociador principal palestino.

Benyamin Netanyahu disse que queria implementar o Plano Trump, que dá a Israel o controle dos assentamentos israelenses na Cisjordânia. Mas, para os líderes palestinos, este território deve fazer parte do futuro Estado que eles estão reivindicando. E eles salientaram que a anexação era contrária aos acordos de Oslo.

Diante das ameaças de anexação, a liderança palestina sentiu a urgência de reiniciar um processo de paz paralisado. "Queremos um novo trem que nos leve do status de Autoridade para o de Estado". Nós não queremos mais o status quo", disse Saeb Erekat.

Atordoado com os golpes da administração Trump, a liderança palestina foi incapaz de implementar uma nova estratégia. Ela exigiu a retomada do diálogo através de uma conferência internacional, sob a égide de outros parceiros que não apenas os Estados Unidos. Mas nunca recebeu um convite.

Alguns de seus aliados tradicionais se afastaram de sua posição histórica: os Emirados Árabes Unidos e Bahrein reconheceram Israel e estabeleceram relações diplomáticas com ele, em contradição com a iniciativa de paz adotada pela Liga Árabe em 2002, que previa a normalização das relações entre os Estados-membros e Israel em troca da criação de um Estado palestino.

Sucessão difícil

Em um contexto em que precisa de apoio internacional, a liderança palestina logo terá que nomear um sucessor para Saeb Erekat. Mas a tarefa não será fácil: no cargo há vinte e cinco anos, Erekat forjou relações profissionais mas também pessoais com líderes estrangeiros e seus emissários.

Saeb Erekat nunca passou o bastão nem treinou um sucessor.

* Com informações de Guilhem Delteil, correspondente da RFI, e da AFP

 

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