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Linha Direta

Diante da forte polêmica, Israel vai anexar parte da Cisjordânia e estender sua soberania?

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Israelenses e palestinos acordaram nesta quarta-feira (1°), na expectativa de que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, dê o pontapé inicial em um plano de anexação de parte da Cisjordânia por Israel. A medida polêmica pode levar a uma revolta palestina e à condenação internacional. Mas não está claro se ela realmente será anunciada por enquanto.

Manifestação contra o projeto do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de anexar parte da Cisjordânia. Tel Aviv, 6 de junho de 2020.
Manifestação contra o projeto do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de anexar parte da Cisjordânia. Tel Aviv, 6 de junho de 2020. REUTERS/Amir Cohen
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Tel Aviv

A data foi estabelecida pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, do partido consevador Likud, há dois meses, quando ele negociou um governo de união nacional com o ex-rival Benny Gantz, líder do partido de centro-esquerda Azul e Branco. Ele disse que gostaria de debater, a partir de 1° de julho, um plano de anexação por Israel de cerca de 30% da Cisjordânia, estendendo a soberania israelense a essa parte.

As áreas anexadas seriam as onde moram mais de 400 mil colonos israelenses em 132 assentamentos. O plano não diz respeito às áreas restantes, onde moram quase 3 milhões de palestinos. 

Mas, diante da polêmica, dentro e fora de Israel, e a julgar por declarações feitas pelos próprios Netanyahu e Gantz, pode ser que nada de concreto seja realmente anunciado nesta quarta-feira. Na véspera, depois de um encontro com representantes da Casa Branca, Netanyahu disse que “vai continuar a trabalhar sobre o assunto pelos próximos dias”. 

Benny Gantz afirmou que a data do plano de anexação não é “sagrada” e que tudo isso deveria esperar até depois da crise do novo coronavírus, já que Israel enfrenta uma segunda onda da pandemia. 

Consequências da anexação

Na prática, a decisão não mudaria quase nada, a não ser o status jurídico das áreas anexadas, que passariam a ter lei civil israelense. Ou seja, seria uma medida jurídica, mais simbólica, não o envio de tropas, até porque já há tropas israelenses por lá.

Israel controla militarmente toda a Cisjordânia desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mas, desde então, o status jurídico da região é incerto. Ao contrário do que fez em Jerusalém e nas Colinas de Golã, Israel nunca anexou a Cisjordânia. Portanto, os moradores de lá são controlados pela lei militar do exército.

A maior parte da comunidade internacional, incluindo a ONU, diz que Israel ocupa a Cisjordânia ilegalmente e que a região pertence aos palestinos, bem como Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza. Mas a direita israelense considera que Cisjordânia pertence aos judeus porque foram em locais da Judeia e da Samária – nome hebraico da região – onde aconteceram grandes relatos da Torá, o Velho Testamento bíblico. Muitos também consideram que se trata de uma região estratégica para a segurança de Israel.

Para os palestinos, a anexação seria apenas uma medida burocrática de uma situação já existente de ocupação. Em protesto, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, já cortou a coordenação regional de segurança que mantinha com Israel e ameaçou repassar a Israel a responsabilidade de reger o dia a dia dos 3 milhões de palestinos que moram na Cisjordânia. 

Apesar das ameaças de Abbas de dissolver a ANP, o primeiro-ministro palestino, Muhammad Shtayyeh, está tentando retomar algum tipo de negociação com Israel para evitar a anexação. Ele teria sugerido, em carta ao chamado Quarteto – um grupo formado por ONU, União Europeia, Rússia e Estados Unidos – que os palestinos voltariam a negociar diretamente a paz com Israel caso Netanyahu desistisse da medida.

Mas, diplomacia à parte, o temor é de que uma anexação levará a uma revolta de palestinos nas ruas, atentados terroristas e confrontos violentos com o exército. 

Comunidade internacional condena plano de Netanyahu

As reações pelo mundo são de condenação. Como era de se imaginar, a ONU e a União Europeia já rejeitaram a ideia de anexação de partes da Cisjordânia por Israel. A Liga Árabe também. O secretário-geral da liga, Ahmed Aboul Gheit, disse que a anexação “vai destruir qualquer prospecto de paz no futuro” e que pode haver “uma guerra religiosa na região e além dela”. A medida poderia, também, levar a sanções políticas e econômicas contra Israel, além de elevar o antissemitismo.

A chave, agora, parece ser os Estados Unidos. Não está claro se Washington apoia realmente a anexação nesses moldes. Preocupado com seus problemas internos, com o coronavírus e a reeleição, o presidente americano, Donald Trump, talvez não esteja interessado em toda as complicações do Oriente Médio agora.

Além disso, a anexação de parte da Cisjordânia consta do chamado “Acordo do Século”, um plano de paz mais abrangente anunciado pelo governo Trump em janeiro. No entanto, o projeto prevê que as terras não anexadas da Cisjordânia, juntamente com Gaza, seriam declaradas como Estado palestino e que Israel teria que repassar alguma terra para eles como indenização. Mas Netanyahu não se pronunciou sobre essas determinações.

44% dos israelenses contra a anexação

Dentro de Israel, a anexação também não é uma medida defendida ou exigida pela maioria. Com um desemprego recorde de mais de 20% e uma nova onda de Covid-19, pesquisas de opinião apontam que só 4% dos israelenses consideram a anexação uma prioridade. 

Apenas cerca de 35% aprovam a ideia de anexar algo na Cisjordânia, sendo que 44% são contra. Quem sabe por causa dessas pesquisas, Netanyahu evite ir adiante com seu plano. 

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