Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Anexação de terras na Cisjordânia é “roubo”, diz ministro israelense

Publicado em:

O anúncio da apropriação de cerca de 4 quilômetros quadrados de terras na Cisjordânia pelo governo israelense foi novamente criticada por ministros de centro-esquerda que formam a base de sustentação do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Nesta terça-feira (2), o ministro das Finanças, Yair Lapid, qualificou a decisão de “roubo” e considera que a medida prejudicará os próprios israelenses.

Os 400 hectares ficam em torno da colônia de Gush Etzion, no sul da Cisjordânia.
Os 400 hectares ficam em torno da colônia de Gush Etzion, no sul da Cisjordânia. REUTERS/Ronen Zvulun
Publicidade

O terreno a ser anexado fica entre Jerusalém e um bloco de assentamentos no Sul do território ocupado por Israel desde 1967 e onde os palestinos almejam estabelecer um Estado independente. Israel anunciou no domingo a decisão de anexar ao país cerca de mil acres, ou 4km2, no Sul da Cisjordânia, próximo ao grupo de assentamentos de Gush Etzion.

A comunidade internacional considera o território ocupado pelos israelenses desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A medida foi decidida pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com a justificativa de ser uma resposta ao sequestro e assassinato de três adolescentes israelenses por militantes do grupo islâmico palestino Hamas, em junho. Foi no local que os três rapazes foram sequestrados.

Segundo a ONG israelense Paz Agora, contrária à ocupação, trata-se da maior anexação territorial em 30 anos, que expropria terras de cinco vilarejos palestinos ao Sul de Jerusalém. A última grande anexação aconteceu na década de 80, quando Israel aumentou a área de Jerusalém expropriando terrenos no entrono da cidade.

“Líderes dos colonos da Cisjordânia comemoraram a decisão e disseram que vão construir novas casas o mais breve possível”, informa a correspondente da RFI em Tel Aviv, Daniela Kresh. Na Cisjordânia, moram 500 mil colonos israelenses em meio a 2 milhões e 500 mil palestinos.

A anexação foi comemorada pelo ministro da Economia, Naftali Bennet, do partido de extrema-direita Casa Judaica. Ele disse que se trata de uma “resposta” israelense “ao terrorismo”. Mas a medida foi condenada pela ministra da Justiça Tzipi Livni, e pelo ministro das Finanças, Yair Lapid, ambos de partidos de centro-esquerda que também fazem parte da coalizão de governo. Lapid afirmou nesta terça-feira que se trata simplesmente de “roubo” e que o “passo causa danos ao Estado de Israel”.

A divisão entre esquerda e direita também é latente entre ONGs e formadores de opinião israelenses. O diretor do Departamento Civil do Conselho de Gush Etzion, David Pearl, alegou que essas terras pertenciam a judeus há 100 anos e que Netanyahu apenas estaria “devolvendo o terreno a seus verdadeiros donos”. Segundo ele, não se trata de vingança, e sim de uma mensagem aos palestinos de que os judeus não vão deixar a região.

Mas para a pacifista Hagit Ofran, do Paz Agora, a anexação passa a mensagem de que Israel não quer realmente a criação de um Estado palestino a seu lado, o que levará a mais conflitos no futuro.

Risco de retomada do conflito com o Hamas?

Segundo Daniela Kresh, “poucos acreditam que a anexação na Cisjordânia tem a ver com o conflito em Gaza. Mas, com certeza, isso aumenta a tensão entre israelenses e palestinos da Cisjordânia”. Para Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, trata-se de uma medida que levará “a mais instabilidade” na região.

Abbas está insatisfeito com o relacionamento com Israel depois do fracasso das negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, em abril. Depois de nove meses de conversas, não houve progressos, O líder palestino preferiu, então, formar um governo de união nacional com o Hamas, seu rival político, em vez de continuar tentando a paz com Israel.

Agora, Mahmoud Abbas, considera até mesmo dissolver a Autoridade Nacional Palestina, criada há 20 anos, e transferir a responsabilidade sobre a Cisjordânia para Israel, que teria que oferecer educação, saúde e segurança a 2 milhões e meio de palestinos.

Comunidade Internacional condena anexação

A condenação à decisão do governo israelense de anexar o equivalente a 4 Km² da Cisjordânia é generalizada. Em comunicado, o governo francês condenou a decisão e apelou para que Israel volte atrás. A chancelaria britânica afirmou que a anexação de terras “deteriora a reputação internacional de Israel” e pede para que o país se concentre no cessar-fogo na Faixa de Gaza.

O departamento de Estado americano classificou a medida de “contraproducente”. E o Ministério das Relações Exteriores do Egito disse que não se trata de um passo positivo: ele seria contrário à lei internacional e teria consequências negativas no relacionamento com os palestinos.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.