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Brasil-Mundo

Coronavírus: psicólogas atendem imigrantes brasileiros em Israel

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A psicóloga carioca Tamar Nigri Prais, 30 anos, faz parte de um grupo de 15 psicólogas que está ajudando imigrantes brasileiros em Israel em meio à pandemia da Covid-19. O Plantão Corona é um grupo de terapeutas, que moram em Israel e têm formação em psicologia no Brasil, que oferece apoio emocional voluntário a brasileiros que buscam ajuda e conforto em português para lidar com a crise de saúde.

O grupo de psicólogas faz atendimento on line para imigrantes.
O grupo de psicólogas faz atendimento on line para imigrantes. © Divulgação
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Daniela Kresch, enviada especial da RFI em Tel Aviv

Tamar, que é especializada em saúde mental e psicanálise, se mudou para Israel há um ano e meio. Como alguém que está se adaptando a um novo país, ela sabe como é difícil para quem não domina a língua local conseguir expressar suas preocupações e ansiedades.

Tamar conta que o grupo já existia antes, mas com o objetivo de trocar ideias entre as psicólogas, principalmente em relação a burocracias para validação dos diplomas brasileiros em Israel. Mas tudo mudou com o coronavírus.

“Com o corona, uma das psicólogas teve a ideia de a gente se disponibilizar para ajudar, porque a gente entende, enquanto imigrante, o quão difícil é se expressar em um idioma que não é a sua língua materna”, diz Tamar. “Então, a gente entendeu que seria importante e interessante a gente se disponibilizar para os brasileiros que moram aqui contarem com a gente”.

As psicólogas têm perfis diferentes. Elas têm idades, cidades natal e formações profissionais diversas e estão espalhadas por todo Israel, do Norte ao Sul.

No momento, Tamar é quem organiza o atendimento de quem busca o Plantão Corona, centralizando as ligações e colocando pacientes e profissionais em contato. Depois, cada psicóloga combina com o paciente como será a conversa. Obviamente, neste momento de isolamento social, as sessões são virtuais, mas ainda há opções, como conversas com câmera ou sem câmera.

Mesmo preferindo falar com pacientes cara a cara, Tamar se surpreendeu com a eficiência das novas tecnologias, que ajudam as pessoas até a fazer terapia de longe. “Me surpreendi com o efeito de falar com alguém por telefone ou por Zoom. Cada uma de nós, psicólogas do Plantão Corona, atende da maneira que é mais confortável para si. Então, tem algumas que fazem só por telefone, outras com câmera, isso varia muito. Mas eu tenho visto e escutado, tanto das psicólogas quanto de outras pessoas com quem converso, que funciona”. 

Só nas primeiras semanas, e com a divulgação apenas no início, 20 pessoas já foram atendidas. Tamar conta que os brasileiros demonstram muita preocupação com a situação, que é catalizadora de problemas já existentes.

“No final das contas, o Corona acaba sendo um gatilho para algumas questões que já estavam ali aparecerem de uma maneira mais intensa, ou por estarem convivendo mais com elas ou porque a ansiedade do momento propicia isso”, explica Tamar. “Aparece muito a questão da ansiedade, da solidão, da incerteza do futuro, de preocupações com a estabilidade financeira, do medo do próprio vírus, da preocupação com familiares que estão no Brasil, portanto estão longe. Se vão pegar, se não vão pegar. E se pegarem, como fazer? Se eles estão com ajuda, se não estão. Aparecem também alguns problemas de convivência em casa, de relacionamento, porque eu acho que fica tudo mais intenso”.

 

A psicóloga brasileira em Israel Tamar Nigri Prais, coordenadora do Plantão Corona.
A psicóloga brasileira em Israel Tamar Nigri Prais, coordenadora do Plantão Corona. © Arquivo Pessoal

Crises de angústia e solidão

Cada pessoa atendida tem suas questões e ansiedades, mas Tamar, em geral, acredita que as psicólogas tentam mostrar que os temores são legítimos e naturais neste momento. Uma das dicas que ela dá para quem se sente agitado por estar fechado dentro de casa – principalmente no caso de quem tem filhos – é não exigir demais de si mesmo.

Ela até sugere tentar ver os lados positivos da situação e valorizar pequenas coisas que não eram nem percebidas antes, como o banho de sol na varanda, o passeio pelo quarteirão e o som dos pássaros.

“Acho importante as pessoas pensarem que é um momento diferente de todos os outros. Então, a cobrança que a gente tem do dia a dia com a gente mesmo – e de fora para com a gente – é intensificada. Temos que trabalhar e ser ativos, vamos fazer isso e tem que fazer aquilo, os filhos têm que estudar e não podem ver muita televisão… Eu acho que é um momento que a gente relaxar um pouco. Não de não se preocupar com nada, até porque é impossível, mas de entender que é uma fase diferente do nosso dia a dia e que, portanto, a gente vai precisar fazer coisas também de modo diferente para lidar com isso”.

Problemas dos imigrantes

Imigrantes enfrentam angústias a mais em casos de crise. Eles já encaram as dificuldades da integração no novo país. E agora precisam ficar isolados. Segundo Tamar, as maiores preocupação dos imigrantes brasileiros em Israel são com a família no Brasil e o temor do futuro por causa de possíveis dificuldades financeiras, principalmente  a quilômetros de distância e sem a rede de suporte do país natal.

Outra aflição demonstrada é a solidão. Tem muitos que moram sozinhos, mesmo tendo parentes e amigos no país. O mais importante, para ela, é poder dar a essas pessoas a chance de expressar tudo isso em português: 

“O que a gente faz que, para mim, é o mais bonito, interessante e prazeroso, é propiciar o lugar da escuta”, conta a psicóloga brasileira. “É dar lugar para as pessoas poderem falar daquilo que as angustia e poder esvaziar um pouco essa angústia de uma maneira que elas consigam se expressar. Além de vencer o obstáculo de conseguir falar, é mais difícil ainda ter que pensar de que maneira expressar o que você está querendo dizer”.

 

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