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EUA/Coreia do Norte

Fim de moratória de testes nucleares norte-coreanos aponta limites da estratégia de Trump

No final da cúpula história de Singapura, em junho de 2018, Donald Trump e Kim Jong-um passaram a imagem de serem os melhores amigos do mundo, mas a lua de mel durou pouco. O presidente americano continua afirmando sua confiança no líder norte-coreano. No entanto, o anuncio nesta quarta-feira (1°) do fim da moratória dos testes nucleares e do teste intercontinental de mísseis balísticos norte-coreanos mostra os limites da estratégia americana para a Coreia do Norte.

Donald Trump e Kim Jong-un durante último encontro na zona desmilitarizada entre as duas Coreias, em 30 de junho de 2019.
Donald Trump e Kim Jong-un durante último encontro na zona desmilitarizada entre as duas Coreias, em 30 de junho de 2019. REUTERS/Kevin Lamarque
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A moratória tinha sido declarada em 2018. Ao anunciar seu fim, Kim Jong-un prometeu uma ação "impactante" contra os Estados Unidos, que reagiram com moderação à notícia. "Não há mais base para mantermos unilateralmente o vínculo com o compromisso", disse Kim a líderes do partido governista.

"O mundo vai testemunhar uma nova arma estratégica que a República Popular Democrática da Coreia [nome oficial da Coreia do Norte] deterá no futuro próximo", acrescentou o líder norte-coreano, antecipando uma "ação impactante".

As negociações nucleares envolvendo Trump e Kim estavam paralisadas desde o fracasso da segunda cúpula entre os dois líderes, em Hanói, em fevereiro. No entanto, o diálogo entre americanos e norte-coreanos sobre o programa nuclear do país foi retomado recentemente a nível ministerial. A decisão de Pyongyang ameaça os avanços diplomáticos feitos recentemente nesta área, ao deixar claro que o regime prefere enfrentar sanções internacionais para preservar sua capacidade nuclear.

Antes de 2018, Coreia do Norte realizou seis testes nucleares e lançou mísseis balísticos capazes de atingir o território continental dos Estados Unidos. Não houve desmantelamento e Pyongyang dispõe ainda de todo o seu arsenal nuclear.

Reação moderada

O presidente americano, Donald Trump, reagiu com moderação ao anúncio e declarou acreditar que o líder norte-coreano honrará seus compromissos de desnuclearização. "Assinamos um contrato falando sobre desnuclearização. Essa foi a principal palavra, 'desnuclearização', redigida em Singapura. Acho que ele é um homem de palavra", declarou à imprensa.

Como Trump, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, também reagiu com prudência."Queremos paz, não confronto", disse ele à CBS. "Esperamos que o presidente Kim tome a decisão certa e escolha a paz e a prosperidade em vez de conflitos e guerras", disse Pompeo à Fox News.

O ministério sul-coreano encarregado da Unificação disse, por sua vez, que um teste estratégico de armas "não ajudará nas negociações sobre desnuclearização".

Sem discurso de Ano Novo

Pela primeira vez desde 2013, Kim não fez seu tradicional discurso de Ano Novo nesta quarta-feira, um momento-chave no calendário político da Coreia do Norte. Segundo analistas, o líder norte-coreano decidiu omitir essa mensagem para evitar ter que admitir erros em sua política diplomática com Washington.

Durante meses, Pyongyang pediu a redução das sanções internacionais impostas ao país e havia estabelecido o prazo até o final de 2019 para que os Estados Unidos fizessem concessões. Mas o governo Trump vinculou qualquer concessão a gestos concretos dos norte-coreanos.

Jogo perigoso

Para Harry Kazianis, pesquisador do Center for the National Interest, um instituto de Washington, "Kim Jong Um brinca com um perigoso jogo geopolítico". "A Coreia do Norte, por assim dizer, colocou um ICBM (míssil balístico intercontinental) no colo de Donald Trump, na esperança de obter as duas concessões que ele mais deseja: um alívio das sanções e uma garantia de segurança", calcula Kazianis. "Ele aposta que a ameaça de uma nova demonstração de sua capacidade de atacar o território dos EUA com uma arma nuclear levará Washington a ceder", explicou o pesquisador.

Parece improvável que essa estratégia seja eficaz. É muito possível que Washington responda com mais sanções, maior presença no leste da Ásia e mais ameaças por parte de Trump. Em 2017, em um momento de grande tensão entre Pyongyang e Washington, o presidente americano ameaçou no Twitter desencadear "fogo e fúria" contra a Coreia do Norte.

(Com informações da AFP)

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