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O Mundo Agora

Países pobres querem descartar políticos demagogos

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Não é só na América Latina que os cidadãos de países em desenvolvimento estão cansados da incompetência e da corrupção dos governos populistas. Na época da “globalização feliz”, no começo do século 21, com o preço das matérias primas na lua e os países ricos comprando e investindo adoidados nas potências “emergentes”, era fácil atirar dinheiro pela janela. E financiar a própria popularidade no poder.

Pobreza na Colômbia
Pobreza na Colômbia AFP/Guillermo Legaria
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No mundo pobre, governos populistas gastaram até não poder mais em políticas de distribuição de renda e crédito barato. Milhões de pessoas saíram da miséria e alcançaram a sociedade de consumo. Até aí tudo bem. O problema é que quase todos esses papais noéis começaram a botar a mão no dinheiro para servir o próprio bolso e o dos seus partidos e saíram gastando muito além da conta. E dos recursos de seus países.

Um dia a ficha tinha que cair. E, como sempre, quem paga a conta da sede de poder dos demagogos é o povo todo, sobretudo os mais pobres. E aí a desilusão é terrível: voltar para trás, perder as vantagens da época de ouro e a perspectiva de melhorar de vida torna-se intolerável.

Raiva e sentimento de injustiça

Quando a raiva e o sentimento de injustiça e frustração batem, a primeira reação é “Fora com quem está no poder!”. Só que o rancor não é sempre bom conselheiro. Durante muito tempo, o povão dos países em desenvolvimento caía nas mãos de novos demagogos que, de novo, prometiam a lua e rapidamente recriavam um regime irresponsável e corrupto. Muitas vezes autoritários e repressivos.

Mas alguma coisa diferente está acontecendo. Depois da Argentina, do Brasil, do Paraguai ou do movimento popular para revogar o mandato de Nicolás Maduro na Venezuela, os eleitores latino-americanos parecem dispostos a abandonar as ilusões ideológicas e as promessas irrealizáveis.

Hoje o debate público quer saber é de políticas pragmáticas, resultados concretos e sustentáveis, boa gestão, responsabilidade, prestação de contas transparente... Poucos ainda acreditam em lanche de graça. O último exemplo desse novo espírito popular foram as eleições na África do Sul.

O Congresso Nacional Africano (ANC), o partido de Nelson Mandela e a força que libertou o país do regime de apartheid, levou uma sova eleitoral. Uma massa de eleitores negros elegeram um político branco e liberal do partido de oposição Aliança Democrática para prefeito de Nelson Mandela Bay, cidade símbolo da luta contra o antigo regime racista sul-africano. Pior ainda, o ANC perdeu o governo da capital Pretoria.

Claro, o partido histórico anti-apartheid continua poderoso, mas já sabe que vai ter que mudar muito se quiser continuar no poder. A África do Sul está vivendo uma crise econômica tão séria quanto a do Brasil. A miséria aumentou barbaramente, e a desigualdade social é uma das piores do mundo.

Processos por corrupção

Enquanto isso o presidente Jacob Zuma está envolvido em processos por corrupção cabeludos. Não adianta mais ficar lembrando as lutas passadas ou os horrores do apartheid. A população quer um estado e uma economia que funcionem. Quer boa administração e não exaltações ideológicas.

Em vários países africanos, existe uma demanda massiva de dirigentes íntegros, competentes e que respeitem a democracia. Essa nova tomada de consciência dos povos em desenvolvimento pode se expressar nos países onde existe um mínimo de democracia, mas ela ainda esbarra nos regimes autoritários que não querem largar o osso.

Os cidadãos turcos, russos, iranianos ou sauditas, que também sonham com mudanças democráticas e governos responsáveis, arriscam a vida e a liberdade se tentam virar a mesa. Sem falar na nova onda repressiva na China para obrigar a população a engolir um regime cada vez mais incapaz de resolver os problemas sociais e econômicos do país. Estranhos tempos: o mundo pobre está querendo descartar os demagogos, enquanto nas velhas democracias dos países ricos uma parte da população os querem de volta.
 

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