Por que as pessoas se casam cada vez mais tarde?
A idade do casamento aumentou em média dois anos, tanto para o homem quanto para a mulher, em todas as partes do mundo. Os dados, recolhidos pela ONU, foram apresentados nesta semana no Instituto de Estudos Demográficos da França (Ined, sigla em francês).
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A base de informações da ONU compila 1.462 recenseamentos e estudos e permite traçar a evolução dos casamentos e outras formas de união desde os anos 70, em 231 países. Através da análise destes dados, sabe-se que atualmente as mulheres se casam, em média, aos 23 anos, e os homens, aos 26 anos - dois anos mais tarde do que nos anos 80.
A idade média para se casar aumentou particularmente na Europa e na América do Norte (4 anos a mais desde 1980) para homens e mulheres. O fenômeno foi observado também na África, onde as pessoas se casam em média dois anos mais tarde do que há 36 anos. Já na Ásia e na América Latina o aumento foi de apenas um ano, em relação ao mesmo período.
Segundo Vladimira Kantorova, demógrafa da ONU entrevistada pelo jornal Le Monde, a formação cada vez mais tarde de casais é prova de diferentes realidades, de acordo com a região onde o fenômeno é observado. "Nos países ricos, isso é sinal de demora na transição para a idade adulta e também reflete a situação econômica difícil dos jovens, o que torna mais complicada a formação de uma família", explica. Já nos países em desenvolvimento, casar-se cada vez mais tarde demonstra um maior acesso à educação de homens e mulheres, garante a especialista.
Autonomia feminina
Para a diretora de pesquisa do Ined, Véronique Hertrich, o aumento da idade média no casamento para as mulheres tem também outra interpretação. "Significa o reconhecimento da possibilidade de a mulher ter uma vida que não seja limitada a ser esposa e mãe", ressalta, em entrevista ao Monde.
Outra evolução observada pela ONU foi a diferença média de idade entre os casados heterossexuais. Na África, onde os homens são tradicionalmente mais velhos do que as mulheres com quem se casam, a diferença passou de 5,4 anos em 1980 para 4,7 anos hoje. Na América Latina, os maridos são atualmente 2,9 anos mais velhos do que as esposas, em média. Na Ásia, a diferença é de 3 anos. Já nos casais da América do Norte e na Europa, os homens têm 2,5 anos de idade a mais do que a mulher.
De acordo com Hertrich, a diferença de idade é um indicador de desigualdade nos casais. Na África, por exemplo, isso facilita a poligamia. "Uma diminuição da diferença de idade entre os casais significa uma baixa do número de uniões onde a mulher tem menos importância no casamento pelo fato de ser muito mais jovem que seu marido", analisa.
Essa evolução, no entanto, não oculta a existência de casamentos precoces, extremamente prejudiciais à autonomia, à educação e à saúde das adolescentes. Em cerca de 40 países, a proporção de garotas que se casaram antes dos 18 anos ultrapassa 30% dos matrimônios. O fenômeno é observado especialmente na África Central, do Oeste e no sul da Ásia.
Fim do monopólio do casamento
Outra evidência observada pela ONU é o fim do monopólio do casamento em relação às "uniões informais" nos países ocidentais. O aumento do número de pessoas que têm uma vida em comum, mas que preferem não se casar aumenta especialmente na América Latina.
O recuo, no entanto, ainda é pouco para saber se o casamento está perdendo terreno ou se os mais jovens preferem apenas retardar a oficialização de suas uniões.
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