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Análise

Saída para guerra na Síria passa por aproximação entre Rússia e Turquia

No momento em que a Rússia defende a criação de uma ampla coalizão internacional para lutar contra grupos ultrarradicais islâmicos na Síria, incluindo a participação da Turquia, a correspondente da RFI em Moscou, Muriel Pomponne, analisa as rivalidades históricas entre Moscou e Ancara.

Domo da Grande Mesquita de Moscou inaugurada por Putin e Erdogan no dia 23 de setembro.
Domo da Grande Mesquita de Moscou inaugurada por Putin e Erdogan no dia 23 de setembro. REUTERS/Maxim Shemetov
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Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, estiveram lado a lado na semana passada, durante a inauguração da Grande Mesquita de Moscou, mas não se falaram. O clima glacial entre eles ilustrou as profundas divergências entre os dois países em relação aos seus respectivos campos de influência regional.

O desacordo mais recente entre Putin e Erdogan é o alinhamento no conflito na Síria. A Turquia apoia grupos rebeldes sunitas contra o regime de Bashar al-Assad desde o início do conflito. Erdogan busca um papel de liderança entre os países sunitas do Oriente Médio e não mudou de posição com a escalada terrorista da organização sunita Estado Islâmico (EI).

Por outro lado, o presidente sírio conta com o apoio ostensivo de Putin para proteger o regime. Moscou tem fornecido ajuda militar maciça a Damasco e impõe Assad nas negociações sobre a coalizão. Alguns analistas têm alertado que a Síria é só um palco da batalha de influência regional, e que nem a Turquia ou a Rússia atuam para proteger os sírios dos radicais islâmicos.

A questão armênia

A Armênia é um segundo ponto de divergências entre Rússia e Turquia. Moscou reconheceu o genocídio armênio praticado pelas tropas turcas em 1915, um evento histórico até agora refutado por Ancara. Os russos sempre protegeram os armênios e até hoje mantêm tropas naquele país.

A Turquia é, no entanto, aliada do Azerbaijão, país de raízes turcas, mas que vive em conflito aberto com a Armênia.

Curdos contra tártaros

Rússia e Turquia apoiam, cada um, uma oposição minoritária ao governo central no outro país. O presidente turco Erdogan se apresenta como protetor dos tártaros da Crimeia, muçulmanos que falam a língua turca. Desde que a Rússia anexou a Crimeia, no ano passado, esses laços ficaram ainda mais fortes a ponto de Ancara abrigar, em agosto, o Congresso Mundial de Tártaros.

Os russos sempre mantiveram boas relações com os curdos, mas com o cuidado de não hostilizar Turquia, Iraque, Irã e Síria por causa dessa simpatia. Os curdos formam a minoria étnica sem Estado próprio mais numerosa do Oriente Médio: são mais de 30 milhões de pessoas, segundo os cálculos mais conservadores, ocupando um território que engloba partes dos territórios turco, sírio, iraquiano e iraniano. Há anos, a Turquia reprime movimentos separatistas curdos e, ultimamente, intensificou esses ataques usando como cortina de fumaça os bombardeios contra os jihadistas do EI.

Segunda-feira, nas Nações Unidas, Putin disse que queria incluir os curdos em sua aliança antiterror na Síria.

No plano econômico, um projeto de gasoduto russo que atravessa a Turquia está atrasado devido aos desentendimentos entre os dois países.

Dois regimes semelhantes

Os dois países, um no sul e o outro a nordeste do Mar Negro, têm na verdade estratégias semelhantes. Ambos têm saudade de seus áureos tempos imperiais. Moscou e Ancara querem controlar o que os russos chamam de seu "estrangeiro próximo", ou seja, os países vizinhos. Putin se apresenta como protetor de todos que falam russo. Erdogan faz o mesmo com aqueles que falam turco. Os dois regimes, embora laicos, se apoiam no clero e na religião para governar. Atualmente, as semelhanças também são marcantes na personalidade de seus chefes de Estado.

O mundo saberá, em breve, se Putin e Erdogan conseguirão negociar com inteligência uma solução para a guerra na Síria.

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