Coronavírus: Turquia libertará prisioneiros, mas não detidos políticos
No contexto da pandemia do novo coronavírus, a Turquia está esvaziando parcialmente suas prisões superlotadas. Espera-se que 1/3 dos detidos, cerca de 90.000 pessoas, em breve sejam agraciadas com uma libertação antecipada ou terão prisão domiciliar decretada, a partir de uma lei votada no Parlamento turco, nesta terça-feira (7). No entanto, alguns dos presos, incluindo aqueles julgados ou condenados por "terrorismo", serão excluídos dessas medidas. Entre eles, muitos presos políticos.
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Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul
Um paradoxo: se as prisões turcas estão superlotadas, com 240.000 vagas para cerca de 300.000 detidos, é porque, desde o golpe fracassado de 2016 na Turquia, dezenas de milhares de pessoas foram presas sob acusações de ligações com "terrorismo".
Apoiadores leais ao pregador Fethullah Gülen – acusado de mentor do golpe pelo presidente turco, Recep Erdogan - mas também jornalistas, defensores dos direitos humanos, oponentes políticos do partido pró-curdo foram presos sob essa alegação.
No entanto, todos esses prisioneiros - muitos dos quais se encontram em prisão preventiva - são excluídos das medidas de libertação antecipada.
Segundo o advogado Erdal Dogan, especialista nesses julgamentos, eles deveriam ter sido os primeiros a se beneficiar com a medida: "São pessoas que não cometeram nenhum crime além do pensamento e da escrita, vítimas da raiva e ódio do poder. Essas prisões não são compreensíveis nem legalmente, nem humana, nem moralmente falando".
Nenhum caso de Covid-19 na prisão?
Dogan não acredita em declarações do ministro da Justiça turco de que nenhum caso de Covid-19 foi detectado na prisão. "A administração penitenciária emprega dezenas de milhares de pessoas", diz ele.
“É impossível que nenhum deles possa ter o vírus. Além disso, é claro que os detidos não têm acesso à água e sabão como todos os outros. Excluir presos políticos é ameaçá-los de morte e depois ser responsabilizado por suas mortes."
O argumento do advogado encontra eco na Turquia especialmente depois que a epidemia infligiu aos presos políticos uma punição suplementar: o prolongamento de seus julgamentos. Devido ao coronavírus, as audiências estão suspensas pelo menos até o final do mês.
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