UE avalia criação de zona-tampão na fronteira entre Turquia e Síria
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Ouvir - 06:27
Nos últimos anos, questões como direitos humanos, liberdade de expressão e o sistema judicial na Turquia esfriaram as relações entre Bruxelas e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Mas agora, a crise dos refugiados reaproximou a União Europeia e Turquia, o país que abriga o maior número de refugiados sírios. Em Bruxelas, para uma visita oficial de dois dias, Erdogan se reuniu com autoridades europeias e falou sobre suas condições para ajudar o bloco.
Letícia Fonseca, correspondente da RFI, em Bruxelas,
A ajuda da Turquia é realmente fundamental neste momento. Agora mais do que nunca. É importante porque é a partir do litoral turco que a cada dia milhares de refugiados embarcam para as ilhas gregas. Uma vez no continente, eles seguem para os Balcãs até a Hungria e Croácia, ou vão para o Norte da Europa, principalmente para a Alemanha, em busca de asilo.
Segundo a Comissão Europeia e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a Turquia recebeu cerca 2 milhões de refugiados sírios nos últimos quatro anos. É, sem dúvida, o país que abriga o maior número de refugiados sírios.
E a União Europeia quer que o governo turco reforce o controle de suas fronteiras para conter este fluxo de refugiados e migrantes para a Europa. Vale lembrar que durante décadas a Turquia tem visto as portas fechadas para a adesão do país ao bloco europeu. Neste momento, a posição de negociação de Erdogan é bem forte.
Turquia pede ajuda conter os refugiados sírios
Os líderes europeus prometeram € 2 bilhões à Turquia para ajuda humanitária. Em troca, Erdogan quer a suspensão dos vistos para a entrada de cidadãos turcos na Europa e o apoio contra os curdos, que há décadas contestam o poder de Ancara. Erdogan não pretende facilitar a vida dos europeus. Na segunda-feira, em Bruxelas, o presidente turco expôs suas condições.
Entre as exigências, estão o apoio da UE à guerra que a Turquia está envolvida contra os supostos terroristas – sejam eles do grupo Estado Islâmico ou os curdos que têm combatido as forças jihadistas. A menos de um mês das eleições legislativas na Turquia, o partido de Erdogan procura recuperar a maioria absoluta incitando o sentimento nacionalista anticurdo. Outra condição é o apoio dos europeus na construção de uma zona-tampão na fronteira com a Síria.
Bruxelas avalia proposta de zona-tampão
Para proteger a fronteira e o país do grupo Estado Islâmico, a Turquia defende a criação de uma zona-tampão em torno de Kobani, cidade no norte da Síria. Mas para se criar esta área segura, seria também preciso uma zona de exclusão aérea – no fly-zone – algo cada vez mais difícil agora, pois com os bombardeios aéreos da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos contra o grupo Estado Islâmico, se juntaram os ataques dos russos e os do governo sírio de Bashar al-Assad.
Além disso, há sérias dúvidas sobre quais são as verdadeiras intenções turcas em construir uma zona-tampão. Bruxelas não vê o projeto com bons olhos. Mesmo assim, o presidente do Conselho Europeu afirmou que a União Europeia está pronta para discutir a idéia.
O governo turco argumenta que a zona protegida garantiria a integridade de seu território e frearia o fluxo de refugiados vindos da Síria. Já os curdos – grupo étnico que reivindica a criação de um território entre a Síria, Turquia e Iraque – acusam Ancara de tentar enfraquecer a presença da etnia na região.
O grande dilema é que para o Ocidente, as milícias curdas na Síria são aliadas importantes na luta contra o Estado Islâmico. Enquanto para o governo turco, elas não passam de uma organização terrorista que se uniu ao PKK – Partido dos Trabalhadores do Curdistão – com quem a Turquia reacendeu uma guerra que já dura 40 anos.
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