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Reportagem

"Não somos Islã Hebdo", diz o redator-chefe do Charlie Hebdo seis meses após o atentado

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Seis meses após o atentado de 7 de janeiro, o jornal satírico Charlie Hebdo reencontrou seu equilíbrio, com um ritmo de trabalho normalizado e novos projetos em gestação. As marcas deixadas pela morte de oito membros da redação, incluindo os famosos chargistas Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, são difíceis de apagar, mas o espírito é de tranquilidade e de seguir em frente.

Gérard Biard e o cartunista Luz durante coletiva em 13 de janeiro de 2015
Gérard Biard e o cartunista Luz durante coletiva em 13 de janeiro de 2015 wikipédia
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Em meio ao fechamento da próxima edição, que chega às bancas nesta quarta-feira (8) com uma capa sobre a crise grega, o redator-chefe Gérard Briard fez uma pausa para falar com a RFI Brasil e contou o que mudou - ou não - na publicação no último semestre. "Há oito pessoas a menos. Faltam cinco desenhistas. Mas não há grande coisa que mudou nesses seis meses em relação ao que já havia mudado duas semanas depois do atentado. Nos tornamos um objeto midiático, o que não é nosso trabalho, nossa função. Quando acontece alguma coisa, somos solicitados pela mídia. Foi isso o que mudou mais", afirmou.

E completou: "O conteúdo e a linha editorial do Charlie Hebdo não mudaram nada. Continuamos falando dos mesmos assuntos, sempre com o mesmo tom. Não havia nenhum motivo para mudar o conteúdo. De qualquer maneira, já era bem claro para todo mundo, depois do 7 de janeiro, que, se continuássemos, continuaríamos a ser Charlie Hebdo".

Não somos Islã Hebdo

Segundo Briard, nunca houve uma preocupação nesses seis meses após os atentados de falar menos de religião e do radicalismo islâmico. "Quando a religião está nas notícias, então falamos de religião. Faz parte dos nossos temas principais, como a ecologia, o anti-racismo e o combate à extrema direita. Mas não fazemos disso uma obsessão e também não estamos obcecados pelo islã. Quando os islamitas estão nas notícias, e infelizmente eles estão com frequência, nós comentamos, como todas as notícias políticas, porque é uma notícia política. Fora isso, não somos Islã Hebdo."

Para o redator-chefe, o dia-a-dia na redação, atualmente funcionando em um espaço do edifício do jornal Libération, voltou à normalidade e é o mesmo de antes dos ataques. Em outubro eles vão ganhar uma redação própria, no 13° distrito de Paris, com medidas estritas de segurança, como uma sala blindada e um sistema de duas portas, como os que vemos na entrada de agências bancárias. "No momento ela está em obras. Não posso dizer qual forma ela vai ter, estamos adaptando um local que não estava destinado a acolher um jornal. Evidentemente ela vai ter normas estritas de segurança, infelizmente. é isso que de fato demanda o maior trabalho, além da adaptação do espaço destinado a acolher uma redação."

Novo projeto gráfico

O jornal registra atualmente a venda de 130 mil exemplares em banca por semana, após o recorde de 8 milhões da primeira edição pós-atentado, e conta com cerca de 220 mil assinantes.Briard conta que há planos para mudar todo o projeto gráfico do Charlie Hebdo, mas a ideia ainda está em gestação. "No momento ainda estamos trabalhando nisso. Não há nada definitivo. Teoricamente nós gostaríamos de lançar uma nova fórmula, entre aspas, para setembro, mas no momento nada está verdadeiramente concretizado. Tentamos coisas diferentes cada semana no jornal, mas ainda não finalizamos a mudança definitiva."

A volta à internet é outra novidade do jornal, mas ainda sem data definida: "Parece que infelizmente não podemos dispensar a internet hoje em dia. Mas isso não vai mudar o conteúdo do jornal. O Charlie Hebdo continuará acima de tudo um jornal de papel. O site possibilitará mostrar uma atualidade que às vezes exige uma reação imediata. E ele também permitirá consultar os arquivos e ler certos artigos de maneira temática. Mas não será, como infelizmente aconteceu com outros jornais, o centro do jornal, que continua sendo o papel".

Perguntado se fariam uma edição especial dos seis meses do atentado, Briard disse que isso jamais passou pela cabeça deles. "De jeito nenhum. São os outros meios que estão obcecados pelos seis meses. Não sabíamos que seis meses era um aniversário. Então não fizemos nada, não vamos soprar as velas", sentenciou.

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